quinta-feira, 24 de setembro de 2009

SETEMBRO---------------Afonso Lopes Vieira

Que beleza de gesto
o das árvores todas, ofertando
tudo o que têm!

Seu coração magnânimo e modesto,
tão obscuro e tão bom, tudo está dando
com sorrisos de noiva e carinhos de mãe.

Setembro, com seu carinho,
abre o regaço cheio de produtos:
dá-nos a força rubra e ardente do vinho,
e a graça luminosa,
essa luz saborosa
que perfuma e que aloira a polpa clara aos frutos.

Na postura das coisas se descobre
este esforço gigante e humilde: a criação...

Uma cepa de vinho é uma mãozinha pobre,
consumida e torcida de aflição,
que sofreu e penou, chorou, obscura,
passou dias de luto e de amargura
e se fartou de chorar,
para poder criar,
contra a sanha da geada e do escalracho,
o seu filho jovial e perfumado_ o cacho!...

E aquela macieira adolescente
já tem essa risonha sisudez,
deliciosa!
duma menina e moça que pressente
que a vida é feita da alegria dolorosa,
vitoriosa e ansiosa,
de viver...

Mas já depois que os frutos são colhidos,
as árvores, as santas indulgentes,
hão-de sentir dos corpos doloridos,
por ilusão confusa dos sentidos,
os frutos ainda pendentes.

Vou caminhando, nesta luz do Outono,
_o ar é de oiro, a terra é toda de oiro
e a luz redoira esse tesoiro,_
por um pomar que foi todo ceifado,
e a afanosa mão do dono
deixou deserto de aquela outra flor
que é o fruto redondo e perfumado,
gerado com mimo e dor.

Mas as árvores, as leais amigas,
com as suas rugosas mãos antigas,
alongam sempre na largueza do ar
seus grandes gestos de dar.

E (dir-se-ia) pois que ainda estendem
suas mãos generosas, maternais,
de onde os frutos agora já não pendem,
_ têm pena de não dar mais!

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