sábado, 28 de março de 2009

------------------------------------------------1981

Num relance inesperado
Vejo o teu olhar adensar-se
E demorar-se mais fundo
E terno
Em mim
Ou descubro o apelo do teu gesto
Mais seguro e exigente
Ou o som da tua voz
Mais rouco
Vibrando acordes sensuais
Dentro de mim


Ansiosa e em festa
O coração estremece
Numa antecipação feliz
É agora? É hoje? É já?
E os nervos retesam-se
Numa expectativa de explosão
Ou harmonia ou paz
Tão desejada
Qualquer coisa diferente
Do sabor a algo usado
Ferido enxovalhado
Ou até só cansado


É agora? É já? Enfim...
Apenas um frio de medo
Perpassa nos meus sentidos
Tolhe a emoção mais viva
E o pensamento disperso
Afasta e neutraliza
A realização esperada.


Os gestos repetidos
Têm a dor do inútil
E o pássaro da angústia
Adeja impotente
No meu peito
Ou_ pior ainda
_O vazio afunda-me
Num poço de amrgura
E frustração.

domingo, 22 de março de 2009

SÚPLICA FERVENTE-----------------1966

Quando as estrelas cansadas
Apagarem o seu brilho
E com elas
Findar a esperança...
Quando, com medonho fragor,
O mundo
se fender...
Quando, alimento de vermes,
Meu corpo se desfizer...
Quando houver apenas vácuo...
Quando Deus,
Destruída a Sua obra,
Reinar glorioso e justiceiro...
Entre os uivos sofredores
Perdidos no espaço
Deambulará minha alma aflita
Buscando a tua
No Eterno Presente...
Quando tudo o que agora
Nos separa
Tiver já desaparecido...
Se eu te procurar
No silêncio trágico,
Se eu te disser, enfim,
a súplica que ora me queima os lábios
Mas que afogo receosa,
estende-me a tua mão amiga...
Não me deixes só...
Caminharemos nas trevas,
Resignados,
Na simplicidade abstracta do inevitável...
Não seremos mais
Eu e tu,
Seremos nada...
Juntos, no deserto da amargura,
No abismo do desespero,
Sedentos de Paz..., de Amor...,
expiaremos nossas culpas...,
Choraremos...
E as lágrimas que vertermos
Serão bálsamo,
Frescura...
Consolarão nossas dores.

PUERIL---------------------------------------1967

Menino de olhos doces
Porque choras?
Que mágoa espreita
Os teus gestos
E te faz tão triste assim?
A vida em teu redor
É um roseiral perfumado
E a Dor não deve ainda
Ensinar-te a sofrer...Tens tempo de chorar
Menino puro!...
O mundo é mau,
Eu sei,
Mas agora há sorrisos
Nas flores por abrir...


Ergue os olhos para a luz
E vem, vem brincar com o Sol!...

quinta-feira, 19 de março de 2009

ARS AMANDI-----------------------------------1968

Tremendo ansiosa em teus abraços
Buscava em ti
A união perfeita
A paz sonhada
E a minha alma então enriquecida
Voltava mais serena e repousada
Acreditei ser a mulher eleita
Quando os teus braços
Estuantes de vida
Me envolviam o ser
Ternos e torturantes


Mas findos breves instantes de emoção
Tornada calma a vaza da paixão
Volvida a inquietude longo desmaio
Permanecemos herméticos e estranhos
Como se um muro (ainda baixo)
De silêncio
Ameaçado de incompreensão
Interpusesse entre o nosso amor profundo
Um abismo de horror maior que o mundo!


Não sei o que é de mim
Que então não posso encontrar-me em ti
descubro em teus olhos perplexidade
por encontrares também essa saudade
De harmonia ideal
Vivida em nós por um momento
E no entanto
a identidade ultrapassa-nos de luz
E não a vemos
Perdidos na escravidão
Da matéria dominadora
Que nos rebaixa e nos atrai


Só nos reencontraremos
Encontrando a comunhão.

-------------------------------------1974

Ao meu lado
O vazio da tua ausência
Dissimula-o a ternura
Piedosamente
No meu sono
A roupa está lisa e fresca
Esperando a marca do teu corpo
Febril a minha ansiedade
Mas a angústia arrefece
O leito onde não estás.

quarta-feira, 18 de março de 2009

----------------------------------------------------------1966

Juntos
Compõem versos rubros
Em longas noites
De paixão

Na brancura amarga
Duma lágrima
Rezo baixinho
Um verso
De perdão.

-----------------------------------------------------1977

Queria encontrar Deus
No meu caminho.
Ao meu desassossego
Falta um Norte
E em redemoinho giram
O meu desespero
O meu medo
Minha revolta e fraqueza
Amargura e inquietação
Viver sem Deus
É loucura... É bravata.... É cobardia
Horror e destruição
No vazio tombam
Minha solidão e angústia
Meu cansaço e frustração
Eis-me prostrada e sem fé
Queria encontrar Deus
Tanto o procuro...

-------------------------------------------------1975

Se orar
Fosse estender um véu de lágrimas
Sobre a alma diminuída,
Arrependida, recolhida em humildade
Se rezar
Fosse esboçar um sorriso
Molhado de pranto
A qualquer ténue esperança de paz
Deixar incompleto
Um gesto de revolta mal desenhado
E transformá-lo num grito angustiado
Mas de ardente fé
Se fosse amar
Mas amar humildemente,
Ternamente, intensamente,
Sem qualquer heroicidade
Amar
Tão naturalmente como nascer
Tão dolorosamente como viver
Inevitável como morrer
A minha vida sem préstimo
Seria uma oração.

MOMENTO-------------------------------------1966

Um agónico desespero
Me atormenta
A tristeza me ensombrece
Porque em mim mora a saudade!
Na voz do mar
Eu escuto de mansinho
O teu nome
Escorregar na crista das ondas
E beijar a areia
Que me cobre os pés...
O nosso amor
Soluçando vibra num búzio
Esquecido
Ecoa nos abismos de luz
Perde-se nos mistérios da noite
Dilui-se nos segredos
Do luar!

ADIÓS

No. No es llegada todavia
La hora de la separación.
Mientras este instante
Perdurar
Yo quiero embriagar-me
De infinito
En tus ojos
Y perder-me
En la ternura de tus brazos.
Después,
Cuando llegar
El momento de la verdad
Cogeré de tus lábios
La promesa
De que en el "nunca"
Me aguardarás

terça-feira, 17 de março de 2009

SAYONARA--------------------------------------1966

Não. Não é chegada ainda
A hora da separação...
Enquanto este instante
Perdurar
Quero embriagar-me de infinito
Nos teus olhos
E perder-me
Na ternura dos teus braços
Depois quando chegar
o momento da verdade
Colherei dos teus lábios
A promessa
De que no nunca
Me esperarás.

"SE..."------------------------------------1966

Se um dia te doer a solidão
O silêncio te ferir
E as trevas te perderem...
Pensa em mim...


Se um dia te cansares
De procurar em formas esbatidas
A ilusão de um afecto
Que vibra dentro de ti...
Cerra os olhos um momento
E pensa em mim...


Se um dia sentires uns lábios
Frementes de desejo
Procurando o calor dos teus
Num último beijo...
Pensa em mim...


Distante
Eu velo por ti...
Oro por ti...Penso em ti...
...E amo-te...

---------------------------------------2003

Persiste o arrepio
Sossego em tua boca
A língua quieta já
Sem arrebates
Nem enseadas frescas
E líquidas emoções
As minhas mãos nas tuas:
Cansadas viajantes
Dos caminhos ínvios
Em nossa pele
E a chuva de palavras
Que não dissemos...
E a memória
Do riso alvar das papoilas
Desmanchando
Os sulcos
Ao amanhecer...

Solidão-----------------------------------1966

Sob os meus pés
Cansados
Morrem vagas indiferentes...
O fragor do mar revolto
Traz-me o som
Da tua voz...
(Na praia deserta
Eu espero...)
Tenho as faces orvalhadas
Na boca o travo do sal...
(Eu espero,
E tu não vens...)
Uma imensa dor silente
Ecoa nos soluços da noite...
(Não ouves
Os meus gemidos...?)
Ah!...Em breve chega
A libertação...
Olvidarei a minha angústia...
Uma onda cresceu mais
E eu afoguei-me em pranto...!

RENASCER

Que farei dos dias novos
De pensamentos renovados?
Quando os sentir instalados
Não terei outros cuidados
A não ser
Captar no reflexo a centelha movente
Conservar intacto
O sortilégio
Trazer à luz
A Alegria clara
Que ainda não sei cantar
E por isso me invento


O sol nas águas serenas
O verde luminoso
A deslizar no vento
Um cansaço de sensatez
Segurando a realidade
Alça o sonho
que teima Num crescendo apaixonado
Pela vida


Acabou o pesadelo!

DERRIÇO-------------------------------------1964

No meu jardim de ilusões e enganos
Forma-se, num sonho, a tua imagem
Sedutora... E olhos profanos
Não a vêem. É louca miragem
Que só o meu coração sente.


O teu canto embala-me docemente...
Despertou meus ideais de rapariga...
Meu louco amor, tão infeliz e ardente,
Aceita as migalhas... Sou tua amiga!


Os teus olhos, Amor, são vãos delírios
Que assim deixam nos meus sombras veladas
Inundando a minha alma de martírios...
As minhas ilusões amarguradas
Calam. E não adoçam meu tormento...
São ecos dum antigo sofrimento.





martírios-----flores e... dores

"Fome indecisa"--------------------Miguel Torga

Como hei-de saber o que desejo,
Se tudo o que não tenho me apetece?
A minha vida é mesmo essa quermesse
Negativa.
Vivo
A sonhar ser conviva
Doutro banquete.

NIRVANA----------------Miguel Torga

Nu, como Apolo, no areal salgado.
(A roupa era o pudor da covardia).
E agora cresçam versos a meu lado:
Estou deitado
Num lençol de poesia!

"ATÉ SEMPRE, MEU AMOR"

Era o tempo em que tudo começava e acabava em ti, e inventava nomes de harmoniosas acústicas para as personagens que encarnavas nos meus sonhos... (ainda ando muitas vezes em círculos e perco-me nos assombros da emoção).
Recuperei os gestos pueris e antigos de escrever na areia as iniciais breves e cheias do teu nome, rodeadas pelo desenho quase perfeito de um coração- tão solitário.
Ainda trauteio desolada velhas melodias de então e encontro formas estafadas de te incluir nas rimas...
Há-de vir o tempo- que tempo?... eu tenho lá tempo!...- em que chutarei para longe o pedestal que não quis e onde me içaste para me moldares ao teu ideal impossível, utópico. Enforcar-me-ei no luar da realidade... Não sei bem se valha a pena escancarar a verdade... Amputada de ti, que tenho eu a perder?... Ou a ganhar?

.................................................................................................................................................................................

Toda a onda regressa ao vórtice que a motiva... O meu amor desvairado (ou obsessão) que não procurei neste carma antigo ficou ali, suspenso na extremidade do tempo novo, encerrado numa ampola translúcida de sonho, derramando a sua luz leitosa, encantatória e difusa sobre o presente... A mágoa de hoje é igual à de antes, repetitiva e absurda. Se a mostrar não a verás... tão insensível o teu coração..., dolorido e ansioso, tão emotivo apenas nas tuas rimas certas. Tem um nome: rejeição. E desconsideração.
Cansei-me de viajar à toa na galáxia... de colidir a esmo com ambiguidades siderais... ignorando as sombras voadas fragmentadas nos olhos cegos, porque sim. As evidências somam-se à tua indisponibilidade crónica. Os teus olhos, que reencontrei ariscos, fugidios, e confundi com uma atitude discreta e arredia, revelavam a tua culpa... O que desde então calaste, mas não me proibiste de revelar, não encobria nenhum mistério indecifrável, se eu quisesse ter lido nas minhas intuições tão certas.
Ontem como agora é o adeus.
Desta feita não irás, porque nunca te tive... De longe em longe o eco inesperado da tua voz acordará em mim a sensação de perigo, o júbilo e a dor do silêncio que paira nutrindo a perda que fica depois de te calares...
Vou partir. Emigrar de mim. Serei de novo uma sobrevivente. Se cantar a alegria será minha.
No fundo da alma, resignada, a tua presença inevitável lembrando momentos parcos de certezas incertas, fiapos de ilusão que prendi e desprendi sozinha na teia de equívocos do teu silêncio para mim audível... na sombra inesperada das tuas ausências insuspeitas... nos teus regressos ambíguos...
Aplaquei-me na sensatez que não tinha. -A garota apaixonada sucumbiu, soterrada nos escombros das emoções contidas, retidas, expostas e não correspondidas...
Tens agora a amiga certa, para sempre.

segunda-feira, 16 de março de 2009

DEDICATÓRIA----------------------------------2006

Para ti amigo
especial
eterno e ausente
o meu preito
insatisfeito
de lucidez vazia e magoada
um sonho inútil
reduzido a nada
e um sentimento absurdo
e intemporal
ecos soturnos de musa doente


os meus poetas que partilho
na certeza
de que nos entenderemos
no seu canto
um assombro às vezes de alegria
outras de pranto
e o silêncio que rasgo à tua beira
mas não oiças a tristeza
(de vil não há quem a queira)


as palavras que arremeço a desvendar-te
a ternura dos meus olhos que não vês
uma lâmina de prosa a procurar-te
a dualidade tão despojada e nua
e a fé na eternidade
em que não crês
esta verdade crua
em que me despeço
Vês?...

Senza Metafore-----no princípio era o medo--2005

era o medo ancestral
atávico
enfrentando o desconforto
Era a diferença
A ameaça
Era a noite em silêncio
agasalhada
Os passos leves
profanando a madrugada
Era o treino... o hábito
a vigília
o revólver perto
o fácil acariciar da coronha
ajeitando-a à mão
Eram os receios lívidos
na noite pesada
era uma noiva esperançada
uns olhos enormes no escuro
abrigando não bem o susto
mas a estranheza
E a solidão de novo
fechando tudo
a ternura aligeirando o gesto
restando embora
um laivo metálico e doloso
deixando a pairar no sonho
a incerteza


... a solidão fechando tudo

tudo
a solidão

REVOLTA-----------------------------1966

Num fio de névoa suspenso
Entre o cansaço de não ser
E a dor de não viver
Colho as ilusões que a vida me tirou
Procuro os sonhos puros
Que o mundo cruelmente arrebatou.
Só na irrealidade
Encontro as cinzas do que fui.
-Que fiz da minha sede de infinito?
Saciei-a nos charcos estagnados de conformismo cómodo.
-Onde está o meu asco?
O desdém que em vosso cinismo modulei?
Esconde-se cobarde em sorrisos servis...
- Confiança?... Em mim?
Se fracassei... Em vós?
Se me desiludis?!
Mas cedo chegará a hora.
Serei de novo EU.Terei firmeza rígida
Para lutar. Mãos vigorosas
Para derrubar as vossas portas cerradas...
E se me procurardes- e haveis de procurar
Ao cumprirdes o fado que vos cabe
- Encontrareis um coração
Seco de afectos, vazio de ideais.
Decerto um riso sarcástico
- Esgar amargurado talvez o noteis,
Mas isso que vos importa?
Se me procurardes
Encontrareis um decidido Não!
-Liberto de humildade, hipocrisia ou apatia
-Para vos rejeitar.

Fantasia Onírica----------poema bailado

Envolto em névoas distantes
está adormecido
o meu amado...
É pungente o langor
que antecede o dia
e a Poesia esconde-se ainda
por detrás das pálpebras semicerradas...
Aliso as penas... Distendo as asas...
e voo para ele... em trajectória trágica...
As minhas mãos em concha
os dedos frementes...
-Um punhal surgido não sei de onde
brilha feroz nas mãos cariciosas...
A ferida viva aberta
no seu peito
é cravo de sangue
rubra pétala
que beijo ungida de luz.
Do coração inerte
jorra uma fonte de água cristalina
pulsátil e fresca... murmurante na madrugada
Banha generosa
os meus lábios gretados
calando as palavras
à beira do silêncio
amordaçando em mim
uma canção desesperada.




Dos fundos da memória
brota uma doce melodia
invadindo de luz o silêncio
o nosso silêncio
onde a noite desceu...
As mãos trémulas de esperança
diluem-se em ternura
e de novo se fizeram conchas
para abrigar o seu coração amado
O clarão indistinto
não era afinal
a lâmina do punhal...
Era a estrela d'alva
que arde sem lume no palor da aurora
Não era chaga- é luz coagulada
Não jorra sangue
- é água virginal
bebêmo-la os dois e renascemos
Uma alegria sem risos
toca o ponto iluminado da poesia
junto ao ponto de Deus
e somos já almas gémeas
balançando na manhã parada
Parecemos tão leves
dançando na brisa
Soltamos as asas
que não devorámos
e galopamos as nuvens
nas fímbrias do sonho
Enterramos na areia
indiferente
os atritos que mordemos
na mansidão calada
-Após o perdão.


.................................................................................................................


Tudo tudo me emociona...
se encontrei há tanto o meu amor
à altura da Poesia
como deixá-lo partir de novo
sem me partilhar?

DESENCONTRO--------------------------------1982

Onde ficaram
Nossos sonhos
Meu amor
Que os não percebo?
Um céu cinza escuro
E conflitos repassados
De solidão e amargura
Que trouxemos na bagagem
Na aridez da viagem
A mágoa por companheira
O fastio como clima
E o desespero por norte
Destino? Incerto...
Insegurança constante
O desencanto do nada
E a tristeza indefinida
De nada valer a pena

Le Printemps------------------Victor Hugo

Voici le printemps! mars, avril au doux sourire,
Mai fleuri, juin brûlant, tous les beaux mois amis;
Les peupliers, au bord des fleuves endormis,
Se courbent mollement comme de grandes palmes;
L'oiseau palpite au fond des bois tièdes et calmes;
Il semble que tout rit, et que les arbres verts
Sont joyeux d'être ensemble et se disent des vers.
Le jour na^t couronné d'une aube fraîche et tendre,
Le soir est plein d'amour; la nuit, on croit entendre,
A travers l'ombre immense et sous le ciel béni,
Quelque chose d'heureux chanter dans l'infini.

de Paul Éluard

La nuit n'est jamais complète
Il y a toujours,
Puisque je le dis
Puisque je l'afirme,
Au boût du chagrin
Une fenêtre ouverte
Une fenêtre éclairé


Il y a toujours
Un rêve qui veille
Désir à combler
Fain à satisfaire
Un coeur généreux
Une main tenue
Une main ouverte
Des yeux attentifs
Une vie
La vie à se partager.
Qu'est-ce que c'est ça?
C'est la porte qui bat...
Elle s'est fermée sur ses pas
Et moi, je suis restée seule
Avec mes souvenirs et mon chagrin.
Et j'ai pleuré longtemps.

Bonjour Tristesse----------------------------1978

Bonjour tristesse.
Rapelle-toi:
Mes yeux doux
Et ma tendresse,
Mon envie de verité.
Ma joie d'aimer!...
Mes bras tenus
Avides de caresses
Et d'autres pour embrasser?...
Ma bouche humide
Pleine de baisers...
C'était hier
Et j'étais jeune
Et je croyais la vie en rose...
Aujourd'hui
Je suis seule
Et je n'ais plus de soleil
Dans mon âme.
Bonjour tristesse!
Oublie-moi...!

"Quase um Poema de Amor"-------Miguel Torga

Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.


Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
-Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.

de Fernando Pessoa--------------"ODES DE RICARDO REIS"

Nunca a alheia vontade, inda que grata,
Cumpras por própria. Manda no que fazes,
Nem de ti mesmo servo.
Ninguém te dá quem és. Nada te mude.
Teu íntimo destino involuntário
Cumpre alto. Sê teu filho.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Poemas Visuais em tela

na noite incendiada
o gume do silêncio
cinde a angústia
e a memória improvável
agasalha o medo





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No oco da noite
o assombro
da esperança
esventrando
a mágoa suspensa
na janela do medo




---------------------x---------------------x----------------------x---------------------





Sim
cultivo agora
a Alegria
rego-a em lágrimas
e sangue novo
Alimento-a na Coragem
(digo raiva ou fúria
ao Sol do pranto)
Sinto-a florescer cá dentro
e rebentar amarras





--------------------------x--------------------------x--------------------------x--------------




expús a jugular
ao canino sedutor
já não vejo
o meu reflexo na Vida
nem na sombra
dos teus olhos




--------------------------x---------------------------x-----------------------------x



onde aprendi
a perícia
de esgaravatar
as feridas
no avesso das unhas
partidas?




-------------------------x----------------------x-------------------x------------------------



P'rá frente Dor
Acorda o espanto
Afasta o desamor
Enxuga o pranto



............................XXX...................XXX.................



Destroçaste o meu coração
sem cuidares que nele residias...
Diz-me: pensavas restar incólume?

terça-feira, 3 de março de 2009

-----------------------------------------1982

Enrolada
No meu canto
Em bola informe
A angústia
Liquefeita
Alonga-se pelas paredes
E ameaça sufocar-me.

CROQUIS----------------------------------1971

Um rosto gaiato
Um riso burlão
Lambendo os salpicos
E desenhando no chão
Um rasto sem convicção
Enterrava os pés na areia...


E até vir a maré cheia
Ambulava pela praia
Só tranquilo e sem destino
Nada
Nada a justificar
O seu riso de menino


Voltava o rosto para o céu
E bebia luz
_Eu senti-me envergonhada
Do fardo que carregava...


Com a ponta dos pezitos
Revirava as conchas brancas
E como as ondas mais gordas
Avançavam seus requebros
Espreguiçou-se contente
E sentou-se no molhado.
_O que me impelia a ver
E o tempo ali parado?


Qualquer coisa na postura
Fazia adivinhar a gargalhada
Tremiam-lhe as espáduas
Ou era a melena sacudida
Que oscilava
Ou a sua presença viva
Que estranhamente palpitava...
Ou...
Sim... Mais nos olhos
Que na boca
Mais nos gestos que nos sons...
Ria interiormente o pequenito
Um riso intenso satisfeito
e que me arrepiava


_Porque rias tu menino
E eu mais triste chorava?

Prece

Quero cantar
E a minha voz não soa...
O meu sorriso de agora
É tão diverso
Do esgar mal esboçado
Que desenhava fingindo!
O meu olhar ganhou brilho...
E pode a noite vir!...
Não é possível! Não mereço...
De sofrimento eu sei,
A angústia bem a conheço...
O desespero também...
E esta alegria nova que me invade!...
O que fazer
De tanta felicidade
Subitamente a inundar-me a alma
E a enchê-la de luz?
Aguenta coração! Agora é festa!
Meu Deus! Será que mereço?
Será mesmo, ou sonho ainda?
(Não te desvaneças, não...)
Se esta bênção com que não contava
For mais uma provação,
Dai-me forças, Senhor, dai-me coragem
Para cumprir o meu carma
E, sem revolta, crescer na expiação.
Bendito sejais por isso!
Se o sonho for real,
Que a generosidade
Não acabe, mais uma vez,
Em renúncia e mais tormento.
_Para quê sofrer em vão?_
O coração já não pode
Está cansado de pulsar
Descompassado e chorar.

---------------------------------------1991

Se recolhida me vês
Em mim mesmada
É que mordo a raiva
Criteriosamente
No meu canto
E reservo avara
As últimas energias
Para eclodir...
E então
Estilhaçar de um golpe
A taça do fracasso
(Bebo a sicuta ou
Derramo-a nos pés?...)
E cuspir

ah

cuspir na angústia

Quebrar as cadeias
E rir... Rir... Rir...
Livre
No fim.