só porque tu existes meu amor
os teus seios se teceram
e verteram
flor.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
FÁBULA DA VIDA------------ÁLAMO OLIVEIRA
_ que búzio infinito esta mulher
com a música da vida
grávida no seu ventre!
_ que prado este ventre de luzerna
amarela e enternecida
na véspera do colo da semente!
com a música da vida
grávida no seu ventre!
_ que prado este ventre de luzerna
amarela e enternecida
na véspera do colo da semente!
domingo, 17 de outubro de 2010
UM PERFIL, QUASE UM RETRATO------------Bernardo Santareno
O teu perfil deslumbrado
por um halo de fogo vivo...
O teu perfil mergulhado
na noite sem fundo antiga!
Oculta estrela vislumbra-se
no sítio dos teus lábios...
Da tua cinta corre um fumo
de galopes e sangue queimado...
Dos gestos teus ficam cobras
de lume e vento azul...
A tua voz, no ar, abre covas
onde o medo se esconde rosa...
E à tua volta o mundo estranho
_ as pedras, as aves, as flores... _
são simples esboços de desenho,
um caos de linhas e de cores!
por um halo de fogo vivo...
O teu perfil mergulhado
na noite sem fundo antiga!
Oculta estrela vislumbra-se
no sítio dos teus lábios...
Da tua cinta corre um fumo
de galopes e sangue queimado...
Dos gestos teus ficam cobras
de lume e vento azul...
A tua voz, no ar, abre covas
onde o medo se esconde rosa...
E à tua volta o mundo estranho
_ as pedras, as aves, as flores... _
são simples esboços de desenho,
um caos de linhas e de cores!
terça-feira, 12 de outubro de 2010
UMA CONSTANTE DA VIDA---------------Ana Luísa Amaral
Errámos junto
à História: devíamos
pegar em foices e enxadas
e destruir mil campos
de pensar:
computadores, ogivas nucleares,
assentos petrolíferos e mais:
centrais de mil cisões
(e, já agora, aquele pequeníssimo
sonar)
Errámos pela
História: enquanto tempo,
devíamos pegar nas foices,
nas enxadas.
E nos anéis das fadas
plantar outras sementes: bombas
despoletadas, ferrugentas,
que dessem trigo e paz
Errámos nas histórias
de encantar:
um lobo freudiano, um capuchinho,
um osso pela grade
da prisão.
Voltaram as sereias
sentadas no olhar em devoção
(sem nunca terem nem sequer
partido)
(E seduz-nos ainda
esse cantar.)
Errámos sem saber
que o seu vagar é tal
que o sonho, cedo ou tarde,
se fará.
Que ao lado da cisão: a catedral
e ao lado do vitral: irracional
razão
A história junto
à História,
a enxada quebrada pelo chão
à História: devíamos
pegar em foices e enxadas
e destruir mil campos
de pensar:
computadores, ogivas nucleares,
assentos petrolíferos e mais:
centrais de mil cisões
(e, já agora, aquele pequeníssimo
sonar)
Errámos pela
História: enquanto tempo,
devíamos pegar nas foices,
nas enxadas.
E nos anéis das fadas
plantar outras sementes: bombas
despoletadas, ferrugentas,
que dessem trigo e paz
Errámos nas histórias
de encantar:
um lobo freudiano, um capuchinho,
um osso pela grade
da prisão.
Voltaram as sereias
sentadas no olhar em devoção
(sem nunca terem nem sequer
partido)
(E seduz-nos ainda
esse cantar.)
Errámos sem saber
que o seu vagar é tal
que o sonho, cedo ou tarde,
se fará.
Que ao lado da cisão: a catedral
e ao lado do vitral: irracional
razão
A história junto
à História,
a enxada quebrada pelo chão
de Ana Paula Inácio
amanhã vou comprar umas calças vermelhas
porque não tenho rigorosamente nada a perder:
contei, um a um, todos os degraus
sei quantas voltas dei à chave,
sublinhei as frases importantes,
aparei os cedros
fechei em código toda a escrita.
Amanhã comprarei calças vermelhas
fixarei o calendário agrícola
afiarei as facas
ensaiarei um número
abrirei um livro na mesma página
descobrirei alguma pista.
porque não tenho rigorosamente nada a perder:
contei, um a um, todos os degraus
sei quantas voltas dei à chave,
sublinhei as frases importantes,
aparei os cedros
fechei em código toda a escrita.
Amanhã comprarei calças vermelhas
fixarei o calendário agrícola
afiarei as facas
ensaiarei um número
abrirei um livro na mesma página
descobrirei alguma pista.
de Maria Alberta Menéres
A minha escrita é simples e devolve-me
o brilho dos silêncios descobertos.
Desta maneira: um dia me direi
sem minúcia no espaço mesmo à boca de cena
inaugurando o medo com tal delicadeza
que do cérebro à mão por mim não saberei
se os próprios gestos já serão meus versos.
o brilho dos silêncios descobertos.
Desta maneira: um dia me direi
sem minúcia no espaço mesmo à boca de cena
inaugurando o medo com tal delicadeza
que do cérebro à mão por mim não saberei
se os próprios gestos já serão meus versos.
domingo, 3 de outubro de 2010
RESUMO da AULA ou FOLK DOURO----------Maria José Queiroz Viana
Tenho que fugir rumo ao azul
Tenho que fugir, fugir e ser duende dentro de mim
Corpos enlaçados?
Ternuras, mágoas?
Tenho que fugir, rumo ao rio sinuoso que curva e descurva em mim.
Em vales, ora apertados, ora mais largos
Tenho que fugir, fugir e ser sol que caminha nas nuvens que cobrem de manto branco
A fonte da alma da minha alma
que jorra sangue da boa terra
De olhos leais
À noite cheios de luares...
Mãos finas? Delgadas? Sedosas?
Tenho que fugir aos foguetes e morteiros
Onde o sol de olhos pintados
Onde as esponjas deitam mel
Onde a procissão passa
E cura o pus dos pinheiros
Templos de líquenes
De fontes gorgolejantes
E ser mais um tísico que reza as «ave-marias»
Enquanto na igreja as ladainhas ecoam
Nas vertentes rochosas e abruptas
Onde milhafres rasam
E, tenho que fugir, fugir e ser ferida dentro de mim.
Tenho que fugir, fugir e ser duende dentro de mim
Corpos enlaçados?
Ternuras, mágoas?
Tenho que fugir, rumo ao rio sinuoso que curva e descurva em mim.
Em vales, ora apertados, ora mais largos
Tenho que fugir, fugir e ser sol que caminha nas nuvens que cobrem de manto branco
A fonte da alma da minha alma
que jorra sangue da boa terra
De olhos leais
À noite cheios de luares...
Mãos finas? Delgadas? Sedosas?
Tenho que fugir aos foguetes e morteiros
Onde o sol de olhos pintados
Onde as esponjas deitam mel
Onde a procissão passa
E cura o pus dos pinheiros
Templos de líquenes
De fontes gorgolejantes
E ser mais um tísico que reza as «ave-marias»
Enquanto na igreja as ladainhas ecoam
Nas vertentes rochosas e abruptas
Onde milhafres rasam
E, tenho que fugir, fugir e ser ferida dentro de mim.
de Maria Alberta Menéres
Quase não sei esperar o inesperado,
a rede que se parte e a outra rede
que se reparte: o não saber esperar
com a paciência antiga do silêncio
sentado mansamente ao nosso lado.
Quase não sei sonhar o amargo espanto
de estar aqui à porta de uma lua
que dá para um jardim que deu outrora
para um caminho que não finda nunca
tão pura e simplesmente ao fim da rua.
a rede que se parte e a outra rede
que se reparte: o não saber esperar
com a paciência antiga do silêncio
sentado mansamente ao nosso lado.
Quase não sei sonhar o amargo espanto
de estar aqui à porta de uma lua
que dá para um jardim que deu outrora
para um caminho que não finda nunca
tão pura e simplesmente ao fim da rua.
O TEMPO PARADO-----------Suzana Secca Ruivo
Não é um silêncio justo
uma pausa
de sons deslumbrados
mas apenas um lugar
onde a mulher
sabe o tempo
incompleto do futuro.
uma pausa
de sons deslumbrados
mas apenas um lugar
onde a mulher
sabe o tempo
incompleto do futuro.
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