segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

REFLEXÕES NATALÍCIAS

NATAL E SAUDADE
Uma atmosfera festiva e artificial
Mendigos estendendo a mão
Um sentimento nostálgico e pungente
Invade quantos desejam mais
Que anjinhos de tarlatana
Cobertos de purpurina
Árvores de plástico
Enfeitadas de bolinhas
Presépios estilizados
Falsos sorrisos falsos dourados
Presentes de obrigação


Pressa. Rostos fechados.
Passa gente...
A noite cai de repente
Para mais uma festarola sem história.


Nos fundos da minha memória
Sobrevive uma época mais real
De afectos partilhados
(Talvez a saudade os manipule e adoce)


E o Menino no Presépio
Construído em união
Com trabalho e alegria
_ As idas ao bosque colher musgo
Ou a pintura manchada do papel de jornal
A imitar rocha, natureza, serra...,
os raminhos de pinheiro...
O azevinho desenhado, pintado, recortado e espalhado
pela mesa modesta e farta... Em dia de festa o passadio era bem esmerado.
O desembrulhar cuidadoso
Das figuras simples de barro
Arrumadas piedosamente pela mãe
em conjuntos intencionais.
O estábulo de madeira atraía os nossos olhares
As imagens em adoração O Menino de barro deitado em rústica mangedoura
Os pastores
A orquestra
As lavadeiras
Os magos que se aproximavam devagarinho do palheiro
As ceifeiras
O regato de celofane amarfanhado
O lago de prata com patinhos de cera dentro
O moinho com as pás a girar ao vento inventado
As grinaldas de hera...

A avó velhinha que amassava
e tendia no joelho
As filhós que fritava
numa enorme e fumegante sertã
(Não sei porquê sabiam sempre melhor no tabuleiro
Quando mais húmidas e endurecidas
se já estavam a acabar)

A reunião familiar
em consoada
E o lugar cativo
na mesa
Preenchido invariavelmente
Pela solidão de algum vizinho
Desamparado ou triste

Os brinquedos amanhecidos
Pelo sobressalto dos mais novos
Que afirmavam ter ouvido e acordado
Pelos passos leves de Jesus Divino
(Na verdade estavam arrumados, encafuados, dentro dos sapatos no fogão...)
(Eram poucos e baratos
Mas tão especiais!)


A sensação de plenitude e alegria
Que perduravam...!

Ai! Que saudades do Natal!!!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ONDE O ARADO EMPRESTADO ME REVOLVE AS EMOÇÕES

JULHO DE 2010

O grito explode-me nos olhos
molhados de ternura
onde o brilho ficou baço



A coragem diluída
numa imensa desilusão
pela mentira da vida



Estremeço
e o canto
de lágrimas molhado
já o retrato desfez



Uma mão cheia de pedras
uma réstea de sorrisos
e a bolsa plena de dores



Estragos que a vida fez.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

ALMOÇO DOS ANTIGOS ALUNOS DO LICEU ANTÓNIO ENES

Dia 20 de Novembro. Sábado. Dia de ficar ilhada por falta de transportes públicos.
Embora tenha calhado deitar-me tarde, bem tarde, levantei-me cedo para poder apanhar o único autocarro do dia para Santarém. Às 8.30.
Desci na ponte e fui com o "Fernando", um bocadinho a pé, um bocadinho andando até à estação dos caminhos de ferro.
Subi para o comboio intercidades, uma agradável viagem até Santa Apolónia. Chegada lá, e felizmente esquecida da cimeira, tomei um táxi para o Cais do Sodré.
Barco para Cacilhas, (e lamentei não conseguir encontrar_também não procurei, diga-se a verdade_ um restaurante onde almocei com os meus pais era eu pequenita, o Carlos ainda não tinha nascido. Ficou-me na memória porque, criança de tenra idade que eu era, Me deslumbrei com as paredes cobertas de conchas, objectos de decoração cor de rosa e nácar, um berço em tamanho natural de conchinhas cor-de-rosa... E o meu pai pediu para ele açorda de camarão).
Depois, e porque o último mail que vira, do Eduardo Marques, me indicava o Pragal para o nosso encontro, iria lá buscar-me, novamente autocarro para esse destino.
Depois atrapalhei-me. O telemóvel deixou de funcionar. Não podia fazer nem receber telefonemas. Pouco habilidosa com as tecnologias modernas, fui pedindo que mo consertassem. Cada pessoa que, com a melhor das boas vontades, lhe mexia, estragava mais.
No Pragal, como não soubesse onde descer para facilitar a boleia, andei, andei, andei... Até que comecei a tentar organizar-me. Quem tem boca vai a Roma, e não tenho vergonha de perguntar.
Lembrei-me então que o almoço seria na Trafaria. (Nunca lá tinha ido. Quando era pequena tinha tido uma caneca da feira com uma vista do sítio. Era a minha única referência...)
No autocarro, e como já perdi a vergonha de falar com estranhos (estranha era eu... forasteira de pai e mãe) fui perguntando onde havia de descer... Restaurante pertencendo aos antigos donos do PIRI PIRI em LM, e o velhote que estava à minha frente era de Ulme, perto de mim, vivia em Almada e ia de propósito lá buscar um frango para o almoço... Logo me colei a ele, claro.
Chegando, perguntei se era ali o evento. SIIIMMMM......
Mandei uma mensagem ao Eduardo e esperei. Andando, porque os "anões" não me dão sossego.
Então chegaram. E tal como eu temia... não conhecia ninguém. Mas fiquei a conhecer. Gente boa. Mais novos, quase todos... Mas com vivências semelhantes, interessantíssimas, bem dispostas, amigáveis.
Conversámos, brincámos, comemos comida moçambicana, trocámos e-mails, outros contactos... Uma família.
Parecia que o tempo se suspendera e a simpatia nos envolvia em memórias, partilha de vidas...
E mistério.
Quando coloquei os meus olhos na Teresa Lopes logo senti que a conhecia. E bem. De onde? Da apresentação do "XICUEMBO" do Carlos Gil meu irmão? Talvez. Ela confirmou ter estado lá... Mas tinha a certeza que não era só isso.
Depois tenho uma vaga ideia... Talvez errada. A Teresa é artista plástica, quem sabe não foi ou é professora e conheci-a há anos, num congresso da FENPROF em Lisboa?
Tenho de perguntar-lhe.
E o que ali foi de gente talentosa! Uma honra subida conhecê-los.
(Não fora o cansaço e o adiantado da hora nomearia os seus nomes, com algumas considerações). Penso voltar ao assunto em breve.
Todos já me contactaram, pedidos de amizade no Facebook, enfim. Vê-se bem que são de Moçambique e do Liceu António Enes.
Sábado que vem volto a Lx. Ao Linhó. (Penso não ficar lá presa, não me dava mesmo jeito)...
E para quê?...ALMOÇO DOS ANTIGOS PROFISSIONAIS DA RÁDIO de LM. Vou encontrar lá os que já reencontrei em Março, e outros que não tive ainda ocasião de rever. Estou que nem me aguento de tanta expectativa.
Que fantástica romagem de saudade tenho vindo a protagonizar desde há seis anos! Parece de propósito e sinto-me feliz.
Me aguardem!

ESSENCIAL

Dás-me num olhar
a energia mágica dos sentidos
oceanos de ternura nos teus gestos
maremotos de emoções na minha vida
música e ritmo no meu sangue
em sobressalto

O teu bronze macio
como argila moldável
elemento dúctil
e activo
entre os meus dedos
esculpindo dias claros
e madrugadas de êxtases
num tempo que é só nosso
na distância por achar.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

ESTRELAS NOS OLHOS_____Pae. Moreira das Neves

Naquele fim de tarde dolorida,
Foi minha mãe à fonte e viu estrelas
Projectadas na água adormecida.

Levantava-se a lua atrás das serras
E estendia brancuras sobre as ruínas
E ao longo das estradas,
Como que desfolhando no ar um ramo
De magnólias divinas.
E açucenas magoadas.

E minha mãe ia a levar a boca
À fonte pura, para deixar nela
A sede que a pungia.

Por três vezes se ouviu: Ave, Maria!

A fonte estremunhou num sobressalto.
Em redor e por cima estava a Noite,
Nua de nuvens, virginal e calma.
O Silêncio rezava no céu alto.
Abriam sonhos de oiro em cada alma.

Voltou a casa a minha mãe. E enquanto
Ela regava, ao fundo da varanda,
Um craveiro florido
E rescendente,
Perguntei-lhe, entre triste e surpreendido,
Piedosamente:

_Donde vens, que não vens como costumas?
As lágrimas que trazes nos teus olhos
Não são iguais a lágrimas nenhumas...

Iluminam a casa e dão à gente
A sensação de estrelas despegadas
Das mãos de Deus abertas de repent
Às nossas mãos cansadas.

Responde minha mãe:
_É que, meu filho, fui à fonte, além,
E quando me verguei para beber,
Lembrou-se-me de ti o coração.

Então,
Vi estrelas do céu no fundo de água,
Sem limos nem escolhos.

E já não quis beber. E não bebi.

Recolhi as estrelas nos meus olhos
E trouxe-as para ti!...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

fábula da flor______Álamo Oliveira

só porque tu existes meu amor
os teus seios se teceram
e verteram
flor.

FÁBULA DA VIDA------------ÁLAMO OLIVEIRA

_ que búzio infinito esta mulher
com a música da vida
grávida no seu ventre!

_ que prado este ventre de luzerna
amarela e enternecida
na véspera do colo da semente!

domingo, 17 de outubro de 2010

UM PERFIL, QUASE UM RETRATO------------Bernardo Santareno

O teu perfil deslumbrado
por um halo de fogo vivo...
O teu perfil mergulhado
na noite sem fundo antiga!

Oculta estrela vislumbra-se
no sítio dos teus lábios...
Da tua cinta corre um fumo
de galopes e sangue queimado...

Dos gestos teus ficam cobras
de lume e vento azul...
A tua voz, no ar, abre covas
onde o medo se esconde rosa...

E à tua volta o mundo estranho
_ as pedras, as aves, as flores... _
são simples esboços de desenho,
um caos de linhas e de cores!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

UMA CONSTANTE DA VIDA---------------Ana Luísa Amaral

Errámos junto
à História: devíamos
pegar em foices e enxadas
e destruir mil campos
de pensar:
computadores, ogivas nucleares,
assentos petrolíferos e mais:
centrais de mil cisões
(e, já agora, aquele pequeníssimo
sonar)

Errámos pela
História: enquanto tempo,
devíamos pegar nas foices,
nas enxadas.
E nos anéis das fadas
plantar outras sementes: bombas
despoletadas, ferrugentas,
que dessem trigo e paz

Errámos nas histórias
de encantar:
um lobo freudiano, um capuchinho,
um osso pela grade
da prisão.
Voltaram as sereias
sentadas no olhar em devoção
(sem nunca terem nem sequer
partido)

(E seduz-nos ainda
esse cantar.)
Errámos sem saber
que o seu vagar é tal
que o sonho, cedo ou tarde,
se fará.
Que ao lado da cisão: a catedral
e ao lado do vitral: irracional
razão

A história junto
à História,
a enxada quebrada pelo chão

de Ana Paula Inácio

amanhã vou comprar umas calças vermelhas
porque não tenho rigorosamente nada a perder:
contei, um a um, todos os degraus
sei quantas voltas dei à chave,
sublinhei as frases importantes,
aparei os cedros
fechei em código toda a escrita.

Amanhã comprarei calças vermelhas
fixarei o calendário agrícola
afiarei as facas
ensaiarei um número
abrirei um livro na mesma página
descobrirei alguma pista.

de Maria Alberta Menéres

A minha escrita é simples e devolve-me
o brilho dos silêncios descobertos.
Desta maneira: um dia me direi
sem minúcia no espaço mesmo à boca de cena
inaugurando o medo com tal delicadeza
que do cérebro à mão por mim não saberei
se os próprios gestos já serão meus versos.

domingo, 3 de outubro de 2010

RESUMO da AULA ou FOLK DOURO----------Maria José Queiroz Viana

Tenho que fugir rumo ao azul
Tenho que fugir, fugir e ser duende dentro de mim
Corpos enlaçados?
Ternuras, mágoas?
Tenho que fugir, rumo ao rio sinuoso que curva e descurva em mim.
Em vales, ora apertados, ora mais largos
Tenho que fugir, fugir e ser sol que caminha nas nuvens que cobrem de manto branco
A fonte da alma da minha alma
que jorra sangue da boa terra
De olhos leais
À noite cheios de luares...
Mãos finas? Delgadas? Sedosas?
Tenho que fugir aos foguetes e morteiros
Onde o sol de olhos pintados
Onde as esponjas deitam mel
Onde a procissão passa
E cura o pus dos pinheiros
Templos de líquenes
De fontes gorgolejantes
E ser mais um tísico que reza as «ave-marias»
Enquanto na igreja as ladainhas ecoam
Nas vertentes rochosas e abruptas
Onde milhafres rasam
E, tenho que fugir, fugir e ser ferida dentro de mim.

de Maria Alberta Menéres

Quase não sei esperar o inesperado,
a rede que se parte e a outra rede
que se reparte: o não saber esperar
com a paciência antiga do silêncio
sentado mansamente ao nosso lado.

Quase não sei sonhar o amargo espanto
de estar aqui à porta de uma lua
que dá para um jardim que deu outrora
para um caminho que não finda nunca
tão pura e simplesmente ao fim da rua.

O TEMPO PARADO-----------Suzana Secca Ruivo

Não é um silêncio justo
uma pausa
de sons deslumbrados
mas apenas um lugar
onde a mulher
sabe o tempo
incompleto do futuro.

sábado, 25 de setembro de 2010

NOVAS QUADRAS de António Aleixo

A vida é uma ribeira;
caí nela, infelizmente...
hoje vou, queira ou não queira,
aos trambolhões, na corrente.

O mundo só pode ser
melhor do que até aqui,
_ quando consigas fazer
mais p'los outros que por ti!

A esmola não cura a chaga;
mas quem a dá não percebe
que ela avilta, que ela esmaga
o infeliz que a recebe.

A ninguém faltava o pão,
se este dever se cumprisse:
_ ganharmos em relação
com o que se produzisse.

Tu, que tanto prometeste
enquanto nada podias,
hoje que podes _esqueceste
tudo quanto prometias...

Chegasses onde pudesses;
mas nunca devias rir
nem fingir que não conheces
quem te ajudou a subir!

Os que bons conselhos dão
às vezes fazem-me rir,
_ por ver que eles próprios são
incapazes de os seguir.

Entra sempre com doçura
a mentira, p'ra agradar;
a verdade entra mais dura,
porque não quer enganar.

Falas bem, mas antes queria
que soubesses proceder
menos em desarmonia
com o que sabes dizer.

Não sou esperto nem bruto,
nem bem nem mal educado:
sou simplesmente o produto
do meio em que fui criado.

Não escolho amigos à toa,
sempre temendo algum perigo:
primeiro, escolho a pessoa;
depois, escolho o amigo.

Meu coração, no seu cofre,
está tão afeito ao mal
que se sente, se não sofre,
fora do seu natural.

Só quando sinceramente
sentimos a dor de alguém,
podemos descrever bem
a mágoa que esse alguém sente.

Não digas que me enganaste,
por ter confiado em ti;
muito mais do que levaste,
ganhei eu no que aprendi.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

SORRI ------------------------------Charles Chaplin

SORRI
Quando a saudade te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos, vazios...

SORRI
Quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador


SORRI
Quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados, doloridos...

SORRI
Vai mentindo a tua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz...

A LUZ--------------Rogério Carrola

Áspero é agora o voo da luz
marcando Outubro pela implosão da cor
que cai, devagar e fria, das grandes árvores.

O pensamento está quieto. Apoia-se
numa janela de desamor ainda não
totalmente fria,
que o calor das cortinas compõe,
com suas cores quentes,
um cantinho de mão junto ao bafo da boca.

O que mais se agita é a memória
que apaga e ilumina, em grito,
e ao sabor dos olhos,
o que estes contemplam
de fora para dentro e, de dentro,

para a nostalgia do infinito.

Enfraquece lentamente,
a luz,partindo-se,
aqui em pálidos azuis,
além em rubros amarelecidos
de febre natural.

Não é propriamente um pôr-do-sol férreo
mas o pensamento dorido
torna-o deserto não só na cor
como no silêncio.

Esta luz faz tombar as folhas muito devagar.
Parece não chegarem ao chão,
tão lentamente os olhos
as empurram para a quietude última
da emoção.

Que olhar é este que traz a alma de Outono
ao vidro da janela?

Que pensa esta solidão,
como se fosse uma casa,
cheia de nada por dentro

e aberta à vida inteira no rosto que dá
para o horizonte da luz?

Os dedos afagam o débil das cortinas
como se afagassem a retina da dor
ou a gota de sol que vem pousar
na última folha caída dos olhos.

A luz encosta as suas asas
na calma do vento

e paira, tão lentamente como o beijo eterno
que um grande amor deposita
no corpo desse desejo.

Fecham-se as casas. Todas as casas.
E o horizonte da realidade desaparece.

As sombras conquistam o chão e levantam
a noite.

Fria.

A cabeça retira-se das cortinas
e o olhar da luz
anuncia apenas a esperança

de um novo dia.

AMIGOS VERDADEIROS (adaptado)

São aqueles com quem temos afinidades
que nos despertam saudades
que conhecem a nossa realidade!
Amigos do peito são aqueles que se tornam especiais:
Que nos ouvem quando precisamos de falar;
Que nos calam, quando é necessário ouvir;
Que nos estimulam, quando pensamos em desistir;
Que nos amparam, quando achamos que vamos cair.
Amigos verdadeiros são aqueles que se entristecem com as nossas derrotas;
Que se sentem felizes com as nossas vitórias;
Que caminham ao nosso lado na mesma direção,
que sempre nos empurram para a frente,
quando a vida parece perder a razão.
Amigos de verdade são amigos queridos,
jamais esquecidos
e mesmo quando ausentes eles tornam-se presentes
porque estão guardados no peito, no nosso coração!

(autor desconhecido)-----------O QUE É UM AMIGO (adaptado)

Um amigo é alguém que nos quer assim como somos.

Alguém muito especial e tão próximo dos nossos pensamentos que nenhuma distância poderá ser longe.

Um amigo é alguém que ao cumprimentar-nos nos faz felizes.
Um amigo é alguém que nos compreende sem necessidade de palavras. Que permanece próximo quando as coisas não nos correm bem.

Um amigo é alguém que está sempre disposto a escutar os nossos problemas e a ajudar a solucioná-los.

Obrigada aos meus amigos por serem assim.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

REENCONTREI MAIS UM AMIGO

A vida afunda-nos, por vezes, em terrenos inóspitos de terra seca e estéril. Sentimos no peito um vazio que tentamos encher de entulho... Inutilidades, futilidades... _ Esforço vão. E de súbito, há espaço para abrir as portas da alma e receber nela amigos novos, e reencontrar amigos deixados noutro portal do tempo... Esquecidos pelos vendavais da vida.
Estou nessa fase boa, gratificante, de deixar cicatrizar
mágoas novas e velhas e receber o bálsamo refrescante do afeto. Desde há seis anos a esta parte que tem sido assim. Eles têm chegado, regularmente, numa cadência que até parece concertada. E os novos conhecimentos têm trazido também surpreendentes parcerias, inesperadas afinidades que desejo se consolidem em amizade autêntica e sólida.
Amizade como eu a entendo: baseada na confiança, na partilha, na lealdade, nos laços que não podemos temer atar.
Sentía-me traída, e eis que me descubro privilegiada. Bem hajam, amigos. Nós somos partículas do universo. Poalha sideral atraída pela gravidade. Nada é por acaso. Que saibamos ser simples e darmo-nos na estima partilhada.

AMIGA--------------------Florbela Espanca

Deixa-me ser a tua amiga, Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor,
A mais triste de todas as mulheres.

Que só, de ti, me venha mágoa e dor
O que me importa a mim?! O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!

Beija-me as mãos, Amor, devagarinho...
Como se os dois nascêssemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...

Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei prà minha boca!...

domingo, 19 de setembro de 2010

TORTURA-------------Florbela Espanca

Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida Verdade, o Sentimento!
_ E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...

Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
_ E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho de um momento...

São assim ocos, rudes os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

MATURIDADE-------------ideias avulsas e dispersas

O ser humano amadurecido convive bem com a solidão. A solidão também nos ajuda a gostar de nós mesmos. Até que possamos tolerar, apreciar, a nossa própria companhia, não podemos esperar que outras pessoas se sintam muito felizes com a nossa presença.
Harry Emerson Fosdick observou, certa vez, que os que não conseguem suportar a solidão são como "lagoas com as águas eternamente encapeladas pelo vento, incapazes de se acalmarem para refletir a beleza". Que lhes parece?
Não há pior solidão que a acompanhada, que não nos permite o encontro conosco mesmos: meditar sobre as atividades do dia, fazer o balanço do que se passou, ler... Há uma relação direta entre a solidão e o processo criativo. Portanto, estar só é ter uma oportunidade única para crescer, para se enriquecer como pessoa, para se tornar melhor.
Alguém maduro, ou em processo de amadurecimento, aprende a libertar-se de complexos de culpa, que não conduzem a nada. Deve abrir-se e aprender com os seus próprios erros.
É preciso aperfeiçoar-se, procurando aprimorar, desenvolver, as nossas melhores caraterísticas. Deixemos as nossas faltas para trás, que é onde devem ficar. Precisamos corrigir os nossos erros, e então esquecê-los. Guardando, se possível, as lições aprendidas. É como deve ser o perdão, por exemplo:- Perdoar, e esquecer.
Complexos de culpa e de inferioridade, preocupações com erros passados e defeitos atuais não pertencem a um estado de espírito louvável nem desejável.
Se cultivarmos estas atitudes massacrantes, mergulhamos em autopiedade, ou pior, autopunição, e não seremos capazes de respeitar-nos e nem gostar de nós mesmos, da mesma forma que também não gostaríamos de outras pessoas, se as tivessem.
Alguém maduro não pretende ser perfecionista. Quer dizer que devemos compreender que ninguém, inclusive nós mesmos, pode agir sempre acertadamente.
Em consequência, é injusto esperar isso dos outros e de nós mesmos.
Alguém maduro não se leva demasiado a sério. Temos de ser capazes de relaxar e rir de nós mesmos, de vez em quando. É uma das condições para aprendermos a gostar mais de nós, e em tempos de crise, ajuda a relativizar as dificuldades.
É incómodo este pensamento, mas temos de assumir que o nosso comportamento é ditado principalmente pelo grupo social ou económico a que pertencemos. Vestimo-nos, comemos, vivemos e pensamos em função da aprovação social. Por vezes até entramos em competição com os nossos vizinhos.
E se esse ambiente entrar em conflito com a nossa personalidade individual, tornamo-nos, frequentemente, neuróticos e infelizes. Sentimo-nos perdidos e desnorteados _conclusão, não gostamos de nós mesmos.
O valor que damos ao sucesso material e ao prestígio, a tortura de nos querermos igualar aos outros, suplantar os outros, trazem descontentamento, insatisfação, ansiedade, e levam a enfermidades do espírito.E também acredito que a falta de uma espiritualidade em crescimento contribui para a falta de orientação emocional.
A personalidade de cada um não pode ser mudada. Ninguém muda ninguém na sua essência. Essa personalidade pode apenas ser revelada. Temos obrigação de aprender a conhecer-nos. Despojar-nos do medo, da renúncia, da falta de confiança em nós mesmos. Conhecer os outros e respeitá-los. Desistir de tentar modificá-los ou controlá-los. Até porque não é possível, e sairemos frustrados no intento.
O processo de amadurecimento da mente é uma aventura contínua no caminho do autoconhecimento. "Conhece-te a ti mesmo"- dizia Sócrates.
É necessária maturidade até no trabalho. Que está difícil e precário. Então, se não pudermos ter a ocupação que gostávamos, procuremos criar atitudes positivas de apreço pelo que temos de fazer. Imprimir o nosso cunho pessoal às tarefas, com o nosso empenho.
E cultivemos a simpatia no local de trabalho, ajudando a criar um clima agradável de boa vontade, de afecto e até cumplicidade entre colegas e patrões.
Ter consideração por si próprio é indispensável (brio profissional).
Tentemos olhar as dificuldades como desafios, oportunidades para crescer, para mostrar o melhor de nós mesmos, para ter sucesso.
Devemos permitir-nos obter uma auto-realização criativa. Nossa.
CONSELHOS:
1º- Procurar diariamente alguns momentos de solidão.
2º- Esforçar-se por romper hábitos. (É até uma forma de prevenir Alzheimer).
Mesmo os princípios básicos podem ser algumas vezes desafiados. Os não-conformistas são responsáveis pelo progresso da civilização.
3º- Procurar exercitar-se. O entusiasmo traz cor à vida e acrescenta vida aos anos.
Pessoas aborrecidas são imaturas. Se aborrecem os demais, não têm consideração por estes. Há quem tenha um peculiar sentido de humor, geralmente à custa de graçolas acerca dos outros. Só eles se acham graça. São pobres de espírito e não sabem. Têm parca imaginação e falta de sensibilidade e bom senso.
Ser aborrecido é quase sempre sintoma de um ser desorientado, estático, imaturo, que deixou de progredir.
Há outros que se comprazem em chocar as pessoas. Deleitam-se a dizer coisas impróprias, a salpicar a conversa de palavrões, inconveniências, imbecilidades. Dão, de si próprios, um triste espectáculo de imaturidade.
4º- Aprender a ser assertivo. Saber o que quer, e lutar por isso com diplomacia e persistência.
5º- Não existe vacina contra a rejeição. Dói, mas é inevitável. É indispensável enfrentar essa dor. Gradualmente descobriremos que somos capazes de aguentar as separações. E aqueles de quem somos obrigados a separar-nos não nos limitam. E às vezes nem voltarão a recordar-nos. Sigamos em frente.
6º- Aproveitem a vida. Ousem quebrar regras.Perdoem rapidamente. Nunca deixem de sorrir, por mais banal ou bizarro que seja o motivo. É preciso lembrar que não há dor que um abraço não mitigue. Não há prazer sem risco. Não há realização que não comporte a incerteza de vencer desafios.
A vida pode não ser a festa que esperávamos, mas já que cá estamos, temos de comemorar!!!
Cresçam de vez e apreciem a Vida!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

CONTAR HISTÓRIAS

Contar histórias é uma velha e nobre arte que convém aprimorar. Desde tempos imemoriais que os saberes, as competências, as tradições, foram sendo transmitidos na forma de narrações de factos, encantamentos, lendas, magia... memórias. Antes da invenção da escrita. Pela tradição oral. Por anciãos, feiticeiros, mulheres "de virtude". Por figuras de peso respeitadas na comunidade. E assim foram passando os testemunhos de geração em geração. De boca em boca. Preservando o acervo cultural do povo.
Já há anos que os contadores de estórias vêm exercendo, de novo, o seu ofício, com crescente interesse e atualidade.
Qualquer um pode contar histórias? De certo modo. Mas há regras a ter em atenção.
1º- Recolher histórias, lendas locais, nacionais ou universais interessantes.
2º- Não enfrentar nunca o público sem conhecer bem a história.
3º- Prepará-la, fazendo uma primeira leitura silenciosa, ou inteligente, depois ler em voz alta. Interpretá-la. Se tiver audiência disponível, aproveitá-la, para um ensaio do resultado.
- Contar estórias ou dizer poesia é, no fundo, fazer teatro. Interpretar. Divertir ou encantar. Passar a mensagem.
4º- Escolher e "vestir" uma personagem adequada: vendedora de balões, avozinha, mestra, tia, vizinha, criatura da mata, musa, pastor...etc.
5º- Deve adotar vestuário diferente e adequado à personagem que escolheu viver. Os trajes, mesmo que sejam improvisados, devem tornar o contador uma figura especial. Devem ajudar a passar a magia.
6º- Adaptar as histórias, empregando os conhecimentos que se têm de tantas que temos ouvido, lido ou conhecido...
- Utilizar uma e apropriar-se dela sem autorização do autor é roubo, é plágio. Diversificar, compor a narração com retalhos de muitas, é pesquisa.
7º- Se têm dono, respeitar pelo menos o fio condutor, e referir a "paternidade".
Se cortar ou modificar algo, apresentá-la como "adaptação da estória X de Fulano".
8º- Treinar muito a voz: deve sair clara e nítida. Experimentar inflexões, cambiantes, mutações.Lembrar que a leitura ou narração deve ser viva, interessante, sem nunca cair na monotonia e aborrecer o público. Imitar as personagens, emprestando-lhe caraterísticas únicas, condizentes com a estória. Fazer gestos, mimando o tema. Criar uma "voz" que caraterize e defina a personagem.
Fazer pausas intencionais para segurar a atenção dos ouvintes.
9º- Escolher a música para harmonizar, preparar o ambiente, e como fundo musical.
10º- Nunca deve o narrador cair na armadilha de tentar sobrepor a sua voz ao ruído da plateia. Nunca deve elevar a voz. Pelo contrário. Se o alarido ou entusiasmo forem excessivos deve calar-se, ou baixar a própria voz, para obrigar os ouvintes a fazer silêncio para o poderem escutar.
11º- Histórias de cariz moralista são maçadoras. A mensagem deve ser implícita, subliminar. No fim pode (e deve) ser reforçada numa conversa informal integrada com a assistência.
Contar histórias é passar valores. A amizade. A paz. A concórdia. A alegria. A lealdade. O trabalho. A solidariedade... Nunca uma estória deve conter uma situação, mesmo que pareça engraçada ou de efeito, que mostre ideias negativas ou reprováveis.
12º- Tirar grande prazer da leitura, e gostar de partilhá-la com os demais.


GOSTOS:

-Crianças pequenas gostam de histórias quotidianas, de animais, de animais humanizados.
- Meninas de 9, 10 anos, gostam de histórias de fadas, de conflitos: equilíbrio e desequilíbrio de forças entre o bem e o mal, de românticas simples, de finais felizes, por exemplo. "A Fada Oriana", "A Princesinha", "A Bela Adormecida", etc., etc.
- Rapazinhos da mesma faixa etária gostam de estórias de aventuras: de Sophia de Mello Breyner, "O Ladrão de Bagdade", "Jim da Selva", mistérios, tipo livros de Enid Blyton, etc.
- Idosos gostam de contar as suas vivências. Deve aproveitar-se essa tendência e a memória de longo prazo, sem permitir que a narrativa se torne interminável, nem secante.
O contador é moderador. Dirige e orienta a sessão.
- Os mais velhos gostam de ouvir histórias curtas, engraçadas, de final inesperado, de preferência com uma pitadinha de picante.
-É preferível contar duas ou três histórias curtas no mesmo espectáculo, que uma enorme que cansa os espetadores ou os faz desviar a atenção e perder o interesse nela.

Mais lembretes interessantes:

- Cuidar da qualidade da voz. Nunca (ou raramente) comer gelados no verão, pois o choque térmico danifica as cordas vocais.
- Aprender a colocar a voz.
- Mesmo que tenha de gritar, exagerar, ou forçar a voz para servir a estória e aumentar o "realismo" fantasioso das personagens, nunca deve fazê-lo fora do seu registo pessoal. Isso aprende-se com treino.
- Nunca terminar de repente. O contador deve ficar sentado no meio da assistência, ou no palco, após ficar claro que a história acabou, mas que continua disponível para interagir com o público. Deve mesmo misturar-se com este, ainda sem "despir"
a personagem. Prolongar o encantamento... Em especial se a assistência for de crianças.
- Se for preciso (não é sempre?) pode arranjar estratégias pessoais para atuar com brilho. Eu sou muito tímida e nervosa, então, tomo Valdispert um quarto de hora antes do espectáculo, sem o que bloqueio e nada me ocorre. Há quem beba um cálice de vinho do Porto, etc.... Convém sentir-se solto e seguro.
- As histórias podem ser contadas por várias pessoas dispostas em linha em frente do público. É uma narração assente na confiança, no conhecimento do pensamento comum de cada interveniente, e fixa-se no improviso. Baseado na dinâmica de múltiplas histórias conhecidas de todos. Exige uma técnica que não tenho agora tempo de mentalizar e partilhar. Nem sei se interessaria.
EXPERIMENTEM.
- Não tenham escrúpulos em contar histórias tradicionais, às vezes terríveis. Essas histórias foram quase todas escritas para adultos. Mas logo as crianças quiseram ouvi-las e... apropriaram-se delas. Psicólogos estudaram o efeito na formação das crianças e concluíram que elas refletem terrores, medos próprios de todos os miúdos. De serem abandonados (João e Maria ou a Casinha de Chocolate), de que os protetores morram, de que não gostem delas, (Branca de Neve), etc. E os finais resolvem satisfatoriamente essas angústias. Até as mais assustadoras dos "irmãos Grimm" passam indicadores de justiça, que são gratos às crianças e lhes agradam.
- Ah! E não se esqueçam de respirar bem. A respiração correta é essencial em todas as actividades da vida, até a dormir, mas aí ela processa-se naturalmente sem o boicote da consciência desperta. Se não respirarmos como deve ser (respiração abdominal), provocaremos um edema nas cordas vocais e ficaremos sem voz.
- Aqueçam a voz antes da tarefa. Façam vocalisos, trauteiem as vogais, subindo e descendo na escala de notas, variem o timbre. Se não houver tempo, comecem com discrição, sem esforços inúteis, e vão crescendo na intensidade. Saber dosear a expressão e o esforço é sinal de competência no mester.
- Em caso de S.O.S., chazinho de perpétuas roxas. É tiro e queda nas afonias de stress, constipações, cansaço. Mas não vale beber só uma chávena. Eu costumo levar comigo um termo e vou bebericando todo o dia.
- Frequentem as ações de formação que puderem. Até aparecem muitas grátis de boa qualidade. Vou inscrever-me noutra para o dia 16 em Almeirim:"Vitória, Vitória... Acabou-se a História". Vale a pena. Aprende-se muito. E depois devemos estar abertos à troca de experiências com os outros e aprender com a nossa própria experiência.
DIVIRTAM-SE! BOM TRABALHO

pensamento

Fizeram ontem 35 anos que o meu paizinho faleceu. Paz à sua alma.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

AUTO-ESTIMA

Pesquisando o tema, coligi ideias e conselhos de outros, acrescentei algo da minha lavra, resultado de cogitações solitárias, e debitei-os no programa De Mulher para Mulher sexta-feira passada.


A primeira condição para viver em harmonia, desfrutando em pleno das relações com os outros é amarmo-nos. Incondicionalmente. Procurando rodear-nos dos nossos gostos, fazendo tudo o que gostamos, procurando acima de tudo sentir-nos bem. Procurar ter sempre, na nossa vida, uma visão realista e global do que nos faz felizes, e tomar decisões a favor da nossa felicidade. E esse bem estar pessoal acabará por transmitir-se aos outros, influenciando o ambiente em que vivemos.
Se não soubermos (aprendermos) amar-nos, dificilmente saberemos dar amor aos outros.
Se não gostarmos verdadeiramente de nós não procuramos ser felizes e não conseguiremos amar as outras pessoas. Mesmo que o acreditemos profundamente. Como será possível dar o que não temos?
Qualquer pessoa que não se ama acaba atraindo também seres com a mesma caraterística, pelo seu magnetismo, ou pela lei natural da atração. Devido a essa afinidade começarão a acontecer conflitos entre eles, na relação de afetividade.
Dois malquistos no seu insite acabam dividindo mágoas, somando ressentimentos, sobrando cobranças impossíveis de colmatar.
Nunca poderemos dar amor, ou sermos amados verdadeiramente, se não formos os primeiros a fazê-lo. E isso aprende-se. Como?

Mandamentos da Auto-Estima:
1º- Quem se ama de verdade evita pensar, sobretudo vivenciar interiormente o passado triste, e quando se lembra, mentaliza-o apenas como experiência válida para a sua evolução. Recorda, de forma fria, despojada e natural, tudo o que aconteceu no passado, e procura retirar a lição e proveito dos acontecimentos que viveu.
2º-Quem se ama de verdade sabe distanciar-se, mantém o controlo emocional, procura entender o próximo e "dar-lhe um grande desconto", para não deixar as críticas negativas, as calúnias, as palavras ofensivas e as desarmonias caírem sobre o seu campo energético e prejudicá-lo.
3º-Quem se ama com verdade não espera ser compreendido, prefere compreender as pessoas de um modo geral,mantém-se de bem com a vida e não se preocupa com a opinião alheia. Não dá ouvidos às críticas, evitando que elas cresçam e germinem. Sua consciência é seu guia.
4º-Quem se ama não guarda raiva, rancor ou ressentimento. Se tem mágoas procura entendê-las, resolvê-las e esquecê-las. Vê tudo à sua volta como se fosse um processo de auto-conhecimento. Está sempre disposto a perdoar e esquecer, em qualquer situação.
5º-Quem se ama aprende a perdoar-se.
6º- Quem se ama de verdade não aceita sugestões negativas. Vigia os seus pensamentos e procura analisá-los. Quem se ama não deixa os pensamentos pessimistas instalar-se. Antes procura substituí-los, no ato, por ideias positivas.
7º- Quem se ama de verdade não se magoa, não se sente atingido e triste quando alvo do negativismo dos outros. Pelo menos não chora inconsolavelmente. Não valoriza situações infelizes.
Não se entristece por razões mínimas.
8º- Quem se ama não perde o controlo de si mesmo, sejam quais forem as circunstâncias. Não se deixa levar por qualquer situação negativa.
9º- Quem se ama tem coragem de recomeçar, e cria em si força e segurança, se for necessário, sem medo de enfrentar o desconhecido.
10º- Quem se ama não teme a aproximação aos outros. Não se retrai de manifestar afecto. Sem exageros.
11º-Quem se ama é grato. À vida. A todo o bem que o envolve.
Achamos que as pessoas que amamos têm obrigação de gostar de nós da mesma forma,sem nos darmos conta de que cada um tem a sua maneira de gostar. Então culpamo-nos por não atrairmos igual querer. Culpamo-nos até pela dor que sentimos. É falta de auto-estima. Sintamo-nos bem por, em algum momento, termos amado e termos sido amados.

sábado, 11 de setembro de 2010

POEMA-------------de Reinaldo Ferreira

Sei que a ternura
Não é coisa que se peça,
E dar-se não significa
Que alguém a queira ou mereça.
Estas verdades,
Que são do senso comum,
Não me dão conformação
Nem sentimento nenhum
De haver força e dignidade
Na minha sabedoria...
Eu preferia
_Sinceramente, preferia!_
Que, contra as leis recolhidas
No que ficou dos destroços
De outras vidas,
Tu me desses a ternura que te peço;
Ou que, por fim, reparasses
Que a mereço.

de Reinaldo Ferreira

Fico na esperança de um gesto
Que hás-de fazer.
Gesto, claro, é maneira de dizer,
Pois o que importa é o resto
Que esse gesto tem de ter.
Tem que ter sinceridade
Sem parecer premeditado;
E tem que ser convincente,
Mas de maneira diferente
Do discurso preparado.
Sem me alargar, não resisto
À tentação de dizer
Que o gesto não é só isto...
Quando tu, em confusão,
Sabendo que estou à espera,
Me mostras que só hesitas
Por não saber começar,
Que tentações de falar!
Porque enfim, como adivinhas,
Esse gesto eu sei qual é,
Mas se o disser, já não é...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

de Maria do Rosário Pedreira

Mãe, eu quero ir-me embora__ a vida não é nada
daquilo que disseste quando os meus seios começaram
a crescer. O amor foi tão parco, a solidão tão grande,
murcharam tão depressa as rosas que me deram _
se é que me deram flores, já não tenho a certeza, mas tu
deves lembrar-te porque disseste que isso ia acontecer.

Mãe, eu quero ir-me embora _ os meus sonhos estão
cheios de pedras e de terra; e, quando fecho os olhos,
só vejo uns olhos parados no meu rosto e nada mais
que a escuridão por cima. Ainda por cima matei todos
os sonhos que tiveste para mim _tenho a casa vazia,
deitei-m com mais homens do que aqueles que amei
e o que amei de verdade nunca acordou comigo.

Mãe, eu quero ir-me embora _nenhum sorriso abre
caminho no meu rosto e os beijos azedam na minha boca.
Tu sabes que não gosto de deixar-te sozinha, mas desta vez
não chames pelo meu nome, não me peças que fique _
as lágrimas impedem-me de caminhar e eu tenho de ir-me
embora, tu sabes, a tinta com que escevo é o sangue
de uma ferida que se foi encostando ao meu peito como
uma cama se afeiçoa a um corpo que vai vendo crescer.

Mãe, eu vou-me embora _ esperei a vida inteira por quem
nunca me amou e perdi tudo, até o medo de morrer. A esta
hora as ruas estão desertas e as janelas convidam à viagem.
Para ficar bastava-me uma voz que me chamasse, mas
essa voz, tu sabes, não é a tua _ a última canção sobre
o meu corpo já foi há muito tempo e desde então os dias
foram sempre tão compridos, e o amor tão parco, e a solidão
tão grande, e as rosas que disseste que um dia chegariam
virão já amanhã, mas desta vez, tu sabes, não as verei murchar.

de Isabel Meyrelles

Tu já me arrumaste no armário dos restos
eu já te guardei na gaveta dos corpos perdidos
e das nossas memórias começamos a varrer
as pequenas gotas de felicidade
que já fomos.
Mas no tempo subjectivo
tu és ainda o meu relógio de vento
a minha máquina aceleradora de sangue
e por quanto tempo ainda
as minhas mãos serão para ti
o nocturno passeio do gato no telhado?

Quotidiano--------------Fernanda Botelho

Sou eu. Sabes quem sou?
Não, não digas nada.
Sei apenas que estou
Acabrunhada.
E se inclino o rosto,
se pareço uma pirâmide truncada
com sobrecasaca de frio,
é porque não gosto
de puxar o fio
à meada.

(Escadas escuras
subidas dia a dia.
Pernas cansadas
e solas gastas.
Harmonias acabadas
num gesto torvo.
Tremenda nostalgia
de iluminações vastas
e de calçado novo).

Pernas cansadas? Sim.
Magras? Talvez.
Aqui, onde me vês,
já fui assim
... roliça,
como bocejo na hora da preguiça...

Aqui, onde me vês,
não é a mim que me vês,
É a magricela
que sobe aquela
escada de sonhos desiguais
que me constrangem.

_E ainda para mais
os meus sapatos rangem.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

CATORZE--------------------Fernando Luís Sampaio

As moedas, as roupas, a tábua de ardósia
eram arrecadadas.
Com os paus de giz erguera a baforada
de astros, a bicicleta vermelha
no armazém quando o vento
vinha dos mares de inverno.

Então a luz entrançava-se-lhe nos braços,
queimava-lhe as portas,
a camisola, o cabelo cortado à navalha.
O amigo sempre ficava na treva
que a sala retinha.

domingo, 5 de setembro de 2010

Lisbon revisited-------------Fernando Pessoa

Não. Não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências)_
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul _ o mesmo da minha infância _
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!

Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

MIRADOURO---------Miguel Torga

Com tristeza e vergonha enternecida,
Olho daqui
A ponte de palavras
Que construí
Sobre o abismo da vida.

Sonhei-a;
Desenhei-a;
Sólida até onde pude,
Lancei-a como um salto de gazela:
E não passei por ela!

Vim por baixo, agarrado ao chão do mundo.
Filho de Adão e Eva,
Era de terra e treva
O meu destino.
E cá vou como um pobre peregrino.

DESENCONTRO------------Bernardo Santareno

Jograis e trovadores,
vagabundos de todos os tempos,
são os meus parentes.
Não me peçam construções,
nem actos úteis de momento:
Eu sou um adolescente
e nunca serei adulto.
Não me peçam sobriedade,
nem gestos medidos, cinzentos:
Eu sou um arlequim
e visto-me de encarnado,
como as aves no firmamento
e como as flores na terra!
Não me exijam palavra certa,
nem honra... P'ra quê ilusões?
Nem santo, nem herói, nem mestre:
Eu sou um poeta
e só posso dar canções!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Uma Manhã bem disposta

Ontem fui orientar um pequeno atelier de mancha colorida em Santarém. Na livraria "Aqui há Gato" da Sofia Vieira. (Esta loja não existe. É um pedaço de sonho para as crianças. Um lugar encantado onde o faz de conta tem sentido . É um recanto de felicidade!) Terminado o à parte: Preparei as mesas e materiais que tinha levado de véspera, chamámos as criancinhas que esperavam no pátio interior. Sentaram-se, e iniciámos a actividade. Confesso que me sentia fervilhante de expectativa pelos resultados... Há muito que não praticava estas técnicas.
Os meninos divertiram-se, e eu comecei a esmorecer... Não é que demorei tanto tempo a reencontrar a técnica que o "papel cavalinho" acabou... e eu não tinha dado por isso? Tenho feito desenhos, outras criações, e não notei grande diferença, mas para as manchas resultarem é necessário mergulhar a folha A4 completamente na água, e depois pingar-lhe generosamente tinta de cores variadas em cima, movimentando o papel para orientar as gotas coloridas... Ora este, que vem em blocos de folhas, encharca, ensopa, rasga, e os trabalhos não têm o mesmo encanto e resultado! Ainda experimentámos outra forma de fazer com estampagem com vidro, tentando "esborrachar", espalhar a tinta no papel molhado... O aspecto final foi idêntico. Saíram obras engraçadas... Um pouco surpreendentes para quem não conhece, mas tão aquém do por mim esperado! Será que poderei encontrar e adquirir folhas do velho papel cavalinho algures, nalguma papelaria antiga e esquecida? Tenho de tentar. Já está agendado outro workshop para o Natal!
Outro apelo que tomo a liberdade de fazer: Conhecem o romance juvenil: "Rebeca do Ribeirão Dourado"? Precisava muito de o reler, adquirir, fruir... Não o achei nas livrarias. Dizem-me que já não existe, mas precisava dele para um apontamento de trabalho. Pesquisei na net, e constatei que existe um exemplar na Biblioteca Gulbenkian. Ora, é-me impossível pedi-lo emprestado aí, pela residência e falta de mobilidade... Alguém sabe onde comprá-lo? Alguém o tem e quer vender-mo? E "A Casa de Nossa Mãe", que me roubaram da velha casa do Oledo? Penso que ambos são da EUROPA-AMÉRICA... Alguém me ajuda?
Ficarei muito grata.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

UM DIA DIFÍCIL

Comecei hoje o dia com uma pequena viagem de autocarro ao hospital de Santarém para fazer análises. Um acontecimento frequente e rotineiro em quem não pode dar-se ao luxo de descurar a vigilância dos "anões", facilmente amotinados. Havia poucos doentes devido às férias, e fui logo atendida. Já que lá estava, e tinha ido prevenida, dei um salto ao 8º piso, a Pediatria, onde sou voluntária como animadora. Pois se passo grande parte do meu tempo em exames e consultas, faço o meu gosto e levo um pouquinho de ânimo e diversão às crianças internadas. Hoje foi difícil.
De repente e sem preparação psicológica foi-me apresentada uma menina especial. Saída do IPO, com trânsito pelo D. Estefânia, e agora com uma infecção respiratória. Frágil. Inchada. Deformada. Com uma cicatriz quase circular no parietal superior direito , que tentava coçar. Molinha. Com a voz alterada, de tal forma que, não estando habituada a ela, quase não a consegui entender...
Engoli em seco e apelei a toda a coragem que consegui sacar do fundo, que pareço não conhecer nas suas potencialidades. Afivelei um grande sorriso e interagi, durante um bom bocado. Brincámos com as palavras... Contei histórias curtas e divertidas. Até me aperceber dos sinais inequívocos de cansaço. (Acordara muito cedo, aliás como todos os dias, para o tratamento com aerossóis). Gostou. Respondeu com graça às minhas pequenas e inocentes provocações... E despedi-me, para que descansasse.
Ao sair já tinha mais fregueses à espera. Não podia sobrevalorizar as minhas forças.
Encostei-me à parede... Fiz uma pequena pausa para limpar os olhos, respirar fundo e seguir em frente. Ala para outra enfermaria onde estava outro pequenito com a mãe. Cumprimentei-o, apresentei-me. Tentando fazer perecer normal a minha visita e a situação hospitalar. Nem falámos nisso. Era o que faltava. Cantei cantiguinhas muito infantis, lengalengas. Contei uma pequena história... E o pequenito percebendo tudo e mostrando por sinais evidentes o quanto apreciava, não parou quieto, apesar da ligadura no pulso e do olhito inchado. Fui-me embora antes que se fartasse. A seguir um bebé... que não falava sequer. Pareceu-me um pouco atrasado no seu desenvolvimento. Tentei conversar com ele, (enroscadinho no colo doce da mãe), contei pequeninas partes de uma história..., mas não reagia muito.
Depois fui para a sala de actividades, onde uma miúda mais crescida, pré-adolescente, se entretinha no computador. Acedeu a ouvir uma história, talvez para me contentar. E li-lhe, de Irene Lisboa... Talvez por não estar de posse dos meus sentimentos controlados, pelo que presenciara e vivenciara antes, não soube encontrar uma história alegre ou motivadora. Acabei de ler, tentei aligeirar, e desistimos. Fazia melhor em voltar para o jogo. O computador. O melhor foi que os pequenitos começaram uma bela brincadeira com os brinquedos interactivos. Muito mais adequados a levá-los a esquecer a fase menos boa das suas pequenas vidas.
Voltei para o centro da cidade onde tratei de outras solicitações, revi amigos... Desertinha por voltar para casa. Sentia-me quebrada, e não houve mazagran que me valesse.
Foi, de facto, um dia complicado. Já aprendi a relativizar tantas situações e a distanciar-me de momentos desagradáveis... Tenho de praticar mais e melhor, sob pena de não ser útil junto das crianças doentes, se não conseguir dominar ainda melhor as emoções e levar-lhes leveza e alegria, que tanta falta lhes fazem.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O VALOR DO VENTO-------Ruy Belo

Está hoje um dia de vento e eu gosto do vento
O vento tem entrado nos meus versos de todas as maneiras e
só entram nos meus versos as coisas de que gosto
O vento das árvores o vento dos cabelos
o vento do inverno o vento do verão
O vento é o melhor veículo que conheço
Só ele traz o perfume das flores só ele traz
a música que jaz à beira-mar em agosto
Mas só hoje soube o verdadeiro valor do vento
O vento actualmente vale oitenta escudos
Partiu-se o vidro grande da janela do meu quarto

PASTELARIA------------Mário Cesariny

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
_ ele há tanta maneira de compor uma estante!

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao
precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade, rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora_ ah, lá fora!_ rir de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes à mostra

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

SAUDADE DA PROSA-------Manuel António Pina

Poesia, saudade da prosa;
escrevia «tu», escrevia «rosa»;
mas nada me pertencia,

nem o mundo lá fora
nem a memória,
o que ignorava ou o que sabia.

E se regressava
pelo mesmo caminho
não encontrava

senão palavras
e lugares vazios:
símbolos, metáforas,

o rio não era o rio
nem corria e a própria morte
era um problema de estilo.

Onde é que eu já lera
o que sentia, até a
minha alheia melancolia?

PRÓLOGO-------------Manuel de Freitas

O tempo, esse pequeno escultor,
prolongou-te os gestos
até à exaustão, ao limite do escárnio,
ao inoportuno reclame daquele
que vai morrer e não morre
e fala demasiado sobre o silêncio do seu grito.

Paciência. Não poderia ter sido de outra
maneira. Há uma infância parada,
onde o cadáver de deus
nada quer dizer. Sim, tem chovido muito.
Mas que saberá destas mesmas horas
o gato negro que a tua mão já não encontra?

Deténs-te, usas palavras vãs, despedes-te.
Sabes que foi sempre assim.

sábado, 14 de agosto de 2010

Álvaro de Campos (Fernando Pessoa: 1888-1935)

Eu cantarei,
Quando a manhã abrir as portas do meu esforço,
Eu cantarei,
Quando o alto-dia me fizer fechar os olhos,
Eu cantarei,
Quando o crepúsculo limar as arestas
Eu cantarei,
Quando a noite entrar como a Imperatriz vencida
Eu cantarei a Tua Glória e o meu desígnio.
Eu cantarei
E nas estradas ladeadas por abetos,
Nas áleas dos jardins emaranhados,
Nas esquinas das ruas, nos pátios
Das casas-de-guarda,
A Tua Vitória entrará como um som de clarim
E o meu desígnio esperá-la-á sem segundo pensamento.

AS PALAVRAS ABREM PORTAS-------------Ana Hatherly

As palavras abrem portas
que só elas abrem-fecham:
revolvem o pó da lembrança
batem no vidro do coração
temporário Jonas prisioneiro


Engolidas pela máquina do tempo
um dia irão reaparecer
em mudos ecrãs iluminados


Hão-de ser recopiadas
mas sem poderem já recuperar
o acre sabor metafísico
da sua perdida voz

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

MA BOHÊME-----------Arthur Rimbaud

Je m'en allais, les poings dans mes poches crevées;
Mon paletot aussi devenait idéal;
J'allais sous le ciel. Muse! e j'étais ton féal;
Oh! là là! que d'amours splendides j'ai rêvées!

Mon unique culotte avait un large trou.
_ Petite Poucet rêveur, j'égrenais dans ma course
Des rimes. Mon auberge était à la Grande-Ourse.
_ Mes étoiles au ciel avaient un doux frou-frou;


Et j'écoutais, assis au bord des routes,
Ces bons soirs de septembre où je sentais des gouttes
De rosée à mon front comme un vin de vigueur;

Où, rimant au milieu des ombres fantastiques,
Comme des lyres, je tirais les élastiques
De mes souliers blessés, un pied contre mon coeur!

MUSA IMPONTUAL--------Miguel Torga

Agora que passou a inquietação
E sei que não vens,
Que aliviada solidão eu sinto!
Como um cadáver que se libertou
Das penas de viver,
Tenho nas veias um sossego frio.
É um repouso de pedra
Sem qualquer inscrição perturbadora.
Calma de hibernação
Nos ossos, no instinto e na razão,
E na própria vontade criadora.

POEMA da EMOÇÂO AUSENTE------------Edmundo de Bettencourt

PLANTA ALTA E TRIGUEIRA----------Ruy Belo

As plantas acenavam ao vento de agosto, nas suas hastes finas e verdes. E disse-me a mais faladora de todas, alta e trigueira:
_ Dás-me dez anos da tua vida?
Eu só tinha cinco anos, pus-me a contar pelos dedos, vi que ia ficar com muito pouco.
_ Dou_ disse eu.
E ainda hoje, que nunca mais soube de mim, vou com o vento, balouçando. E agosto é todo o ano para mim.

TRAZ-ME UM GIRASSOL-------Eugenio Montale

Traz-me um girassol para que o transplante
no meu árido terreno
e mostre todo o dia
ao espelho azul do céu
a ansiedade do teu rosto
amarelento

Tendem à claridade as coisas obscuras
esgotam-se os corpos num fluir
de tintas ou de músicas. Desaparecer
é então a dita das ditas

Traz-me tu a planta que conduz
Onde crescem loiras transparências
e se evapora a vida como essência
Traz-me o girassol de enlouquecidas luzes.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

BLOQUEIO ou MURO (simplesmente)

Palpo a rudeza áspera
de um pequeno galho seco.
Tento dobrá-lo.
Estálo-o entre os dedos.
Oiço o gemido forçado... mas não verga.
Sinto a ausência da seiva que o habitara.
Concentro-me:
Sinto-me vazia. Uma casca sem miolo.
Sem dor. Nem contentamento.
Negação.
Tento capturar a força peregrina.
Roubar o sol
das linhas tracejadas
por pensamentos hesitantes.
Iluminar-me
de certezas
e seguir em frente.
Frágil.
Porém inquebrantável.
Atrás do ideal.
Flexível como o junco.
Intensa.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

de Fernando Luís Sampaio---------------TRÊS

O mar, todo ele ainda rente aos dedos, sopra-me
os indícios de leite ardido, esse crepúsculo que
se incendeia ao contágio de águas retaliadas.
Dele também o modo de deter uma frase
abrindo-se numa trovoada de ternura, insurge-se
pelos interiores da linguagem e envolve-se pela
memória.

Num lapso de páginas céu e mar escamoteiam-se,
enfiam-se-me entre os lábios, irrompe
meio lenta a língua nesta luta.
A breve trecho sinto a infância à boca das
vagas, também ela prestes a juntar-se às areias.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

QUANDO PENSO---------------Ana Hatherly

Quando penso
a neve cai em mim
com uma lentidão sobrenatural


Não bate leve
como quem chama por mim:
Não bate
não chama
nem sequer cai


Paira
suspensa do tecido da matéria
onde só a luz cria o espaço


Mas sem luz não há espaço
e devorada por uma réstea de sol
imagino o meu pequeno vulto
lutando com o infinito desacerto-acerto


Quando penso
no meu peito estremece
a oferenda íntima
duma fractura oculta

SALMO XXVI-- de "Heráclito Cristiano"-----Francisco de Quevedo (1580-1645)

Depois de tantos dias esbanjados,
tantas escuras noites mal dormidas;
depois de tantas queixas repetidas,
tantos suspiros tristes derramados;
depois de tantos gozos malogrados
e tantas justas penas merecidas;
depois de tantas lágrimas perdidas,
de tantos passos sem acerto dados,
resta apenas em minhas mãos esguias
de um engano tão vil conhecimento,
acompanhado de esperanças frias.
E sei enfim que, no contentamento
do mundo, a alma compra nesses dias,
com grande esforço, seu arrependimento.

O MEU CADERNO DE FOLHAS-----------Jorge de Sousa Braga

Tenho folhas lanceoladas,
lobadas, lineares
redondas, sagitadas,
elípticas, ovalares,
pilosas ou ciliadas,
filiformes, triangulares,
inteiriças, espatuladas,
em forma de coração.
E folhas A4 e A5,
lisas ou quadriculadas.
Mas estas não são
para aqui chamadas.
_Ou serão?

terça-feira, 27 de julho de 2010

EPÍSTOLA A ÁLVARO SALEMA -----------Jorge de Sena

Dizes que não me entendes, sobretudo na vida.
Que sabes tu da vida? E dos que falam dela?
Ou será que te espantas de que eu não obedeça
às ordens de partidos a que não pertenço?
Deixemo-nos de histórias, meu amigo.
É triste e é cómico, mas é preciso dizer-se:
A conivência torpe com a humanidade,
no que ela tem de vil, de ignóbil, de mesquinho,
a conivência com este espectáculo hediondo
de um mundo de traição, perfídia, malignidade reles,
e sobretudo estupidez triunfante, não é possível.
Não penses_ se é que pensas_ que te escapas disso,
imaginando que rectamente cumpres um dever
ao fingir que não entendes... Seja qual for a nobre causa,
a santa causa, não escapas à vileza e à mesquinhez:
a conivência não é possível: nada que seja nobre,
nada que seja santo, pode resistir
a tão porcas vizinhanças. Se uma causa, um homem,uma pátria,
precisam de sujar a dignidade e a integridade de alguém
para salvar-se, que há que salvar neles?
E que fica em ti que não seja ignóbil?
Não é a dignidade que se afunda em complacências,
mas esses que chamam traidores a quem a traição não serve
de embuste à inteireza.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

MADRIGAL DE MUJER-------------Maria Monvel

La fortuna te dio su raro privilegio,
Van sus cadenas áureas a tus manos prendidas.
Tu belleza embellece su raro sortilegio...
Y tu ambición recela que és poco aun, mi vida!

Los honores doblaron en reverencia grave
su multitud de frontes a tu valor rendidas.
Besó tus pies la gloria con su gran beso suave
Y tu ambicion recela que és poco aun, mi vida!

En tus venas elasticas, la sangre azul circula.
Si una gota bastarda halló en ellas cabida.
Tu escudo en campo azur, al de un infante emula
Y tu ambicion recela que és poco aun, mi vida...

Alabardas ha puesto, en tus cuarenta años,
la juventud, para salvaguardar erguida
tu fronte, donde no hay surcos de desengaños...
Y tu ambicion recela que és poco aun, mi vida!

Oh! Y la belleza qué claró el sol en tus ojos
Y la luna en tus dientes, esa luz desvaída,
Y el dia moribundo en tus cabellos rojos,
Y la potente encina en tu pecho, mi vida...

Mi corazon estruja tu mano despiedada,
Y me és dulzura y miel esta mortal herida.
Mujer, como una niña me muero enamorada
Y tu ambicion recela que és poco aun, mi vida!

O PRINCÍPIO DO FIM--------Cândido Torresão

Se tenho ainda à vida algum amor,
se tenho alguma pena em a deixar,
não é por quem mostrou seu desamor
deixando-me este eterno agonizar.

Não é por Pai nem Mãe,cujo penhor
Bom Deus a Si chamou p'ra castigar
erros que cometi, sem os pesar,
dos meus primeiros anos, no verdor.

Se tenho amor à vida, é por seiscentos
amigos tão leais e tão fiéis
que poucos os terão de tal valia:

Por eles, já passei duros tormentos!
Mas são seiscentos livros e papéis
pelos quais chego a ter idolatria.

DA ANGÚSTIA----------Lara de Lemos

Sei o momento escuro
da não vida.

O momento da vaga
imensurável
sepultando meu corpo
em mar de agruras.

Sei o momento exato
desta morte.

Lara de Lemos---------UMA DATA---------para Paulo César, meu filho.

O homem se marca
com datas.
Arca com o peso
de calendários
de onde ressurge
uma criança amarga

com suas lágrimas
suas teimas
sua maneira inexata
de ferir o que fere
com armas inventadas
na raiz de sua raiva.

É setembro.
O menino esquivo
não quer ser lembrado.
Um amor
maior que o tempo
refaz seu
retrato.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

ASSERÇÂO

Deixou na pia a loiça suja a amolecer devagar, na água com detergente. Esqueceu-se de jantar. Mas não se importou.
Livre de remoques, ditos ofensivos ou olhares reprovadores de soslaio, sobrolhos franzidos, redescobria a paz de viver ao seu ritmo, pensando em si, esquecendo de vez os moldes rígidos em que a vida, ou os outros, pretenderam formatá-la, e onde nunca coubera, desajustada e infeliz.
Recuperou prazeres perdidos, num tempo só seu.
Neste momento sem culpa lia um romance, concentrada, numa fruição crescente, fascinada pelo percurso singular da personagem feminina, que reencontrara no fim e no fundo da viagem, no escoar do Verão, nas ondas de calor, no deslumbramento da claridade, a intimidade, a compreensão, o carinho, perdidos na lufa-lufa quotidiana.
Mas havia amor. Sempre houvera. Sem tempo, mas apenas adormecido. E a história terminara de forma trágica... Tão romântica. Tão bonita!
E ela? Porque não vivera nada assim? E se tivesse sido diferente? Teria tido alma e sensualidade para segurar, fazer crescer, e preservar um afecto como o que fantasiava?
Será que existiam uma tal paz e aderência perfeitas? Ou mesmo apenas satisfatórias?
Já o vislumbrara, o Amor vivido, na existência de outros... Raro, mas real. Possível. Ou não era? Será que merecera? Ou era apenas louca?
Deixou a leitura, perdida nos seus devaneios.
... Uma lembrança amarga, de outra vida, assombrou-a. Atingiu-a a violência do pensamento subversivo. Como então, aterrou-a a imagem. Não. Não era digno dela. Nem dele.
Foi quando pôs um ponto final na submissão descontente, e determinou mudar, com avidez acautelada.
Uma luz bruxuleava algures na penumbra do corredor, suspensa num fio de realidade irresistível. Levantou-se; dirigiu-se ao espelho. Catou do fundo da gaveta um bâton vermelho e usado com que riscou o vidro, esmagando-o:
_Eu amo-me.
E acreditou.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

HOJE MESMO------------Francisco Alberto Cartaxo e Trindade

Ainda hoje
é dia de caminhares
por caminhos de amanhã
na escuridão
dos pesadelos
das noites de insónias.

Ainda hoje
tens liberdade
de brincar com os cacos velhos
com os palhaços rotos
que aparecem nas ruas
despidas de gente vaivém.

Ainda hoje podes seguir
meus passos trilhados
no sempre dos futuros
eternos
e invioláveis
e procurar
lá nos confins do horizonte
a verdade do presente
ou as ruínas do passado
sem história.

Ainda hoje
me encontras
na luta constante
e inquieta
do querer hoje,
sempre, nunca, depois,
tarde ou cedo,
sem ninguém nos caminhos
a impedir os passos
na areia
do longo areal
da vida longa
de hoje mesmo

sábado, 10 de julho de 2010

ACRESCENTANDO FRASES DE AMIZADE

Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém,dizer-lhe o que deseja ouvir. Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso.E com confiança no que diz.
Carlos Drummond de Andrade


Talvez as melhores amizades sejam aquelas em que haja muita discussão, muita disputa e mesmo assim muito afecto.
George Eliot


Amigo é aquela pessoa com quem nos atrevemos a ser quem somos, verdadeiramente.
Autor desconhecido


O desejo de ser amigo é um processo rápido, mas a amizade é uma fruta que amadurece lentamente.
Aristóteles


A amizade é como a saúde: Nunca nos damos conta do seu verdadeiro valor até que a perdemos.
Autor desconhecido


Se se planta uma semente de amizade, recolher-se-á um ramo de felicidade.
Lois L. Kaufman (Com sorte, claro!)


A amizade é como as estrelas. Não as vemos sempre, mas sabemos que existem
M. de A. Camargo


Só os solitários conhecem a alegria da amizade. Outros têm as suas famílias, mas só para alguém só , ou exilado, os amigos são tudo.
Warren G. Harding


A amizade é sempre proveitosa. O amor é-o às vezes.
Séneca


A verdadeira amizade supõe um pacto de fidelidade, uma capacidade de dar sem esperar resposta.
Autor desconhecido


Todos anseiam por amizade, mas muito poucos se esforçam por consegui-la. A amizade precisa de tempo.Tempo para se estabelecer e tempo para se manter.
Norman Shidle


Nenhum caminho é longo de mais quando um amigo nos acompanha.
Autor desconhecido


O melhor amigo é aquele com quem nos sentamos por longas horas sem dizer uma palavra e, ao deixá-lo, temos a sensação de que foi a melhor conversa que já tivemos.
Autor desconhecido


Os laços de real amizade são mais estreitos do que os de sangue e da família.
G. Bocaccio


É mais seguro reconciliar-se com um inimigo do que derrotá-lo. A derrota pode privá-lo do seu veneno, Mas a reconciliação retirar-lhe-á a sua vontade de prejudicar.
O. Feltcham


A confidência corrompe a amizade, muito contacto consome-a, só o respeito a conserva.
M. Tulio Cicerón


Não pode ser amigo quem exige o seu silêncio, cala a sua expressão, ou atrapalha o seu crescimento.
Alice Walker


Quando a voz de um inimigo acusa, o silêncio de um amigo condena.
Ana de Áustria


Amigo é quem nos socorre, não quem tem pena de nós.
Thomas Fuller


Para viver a vida em plenitude, temos que aprender a amar as pessoas e usar as coisas, e não o contrário.
Anónimo


O sorriso que floresce sobre a dor abranda os corações mais endurecidos.
Anónimo


O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: "Se fosse eu..." ou: " Não te avisei?"
Rubens Alves

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Cântico à Minha Terra--------Francisco Henriques (ALMEIRIM)

PELA BOCA MORRE O PEIXE

O "Margó" era um boçal
Que em seu falar ordinário
Empregava o palavrão.
Não o fazia por mal,
Era o seu vocabulário,
Uma força de expressão.

Tinha o freio bem cortado,
E com homem ou senhora
Era sempre o mesmo tom.
Um dia foi contratado
Pra criado de lavoura
Em casa de Dom Dion.

Este era um fidalgo antigo
Que à Cruz tirava o chapéu,
Todo escoifado do pó.
Quando tal soube, um amigo
Levantando as mãos ao céu
Preveniu logo o "Margó":

_Se vais pra lá trabalhar
És corrido como um cão
por falar com indecência!
_O quê? Cando eu le falar
É de barrete na mão
E só por Vossa Incelência!

E assim foi... dois ou três dias,
Muito seguro de si
Pelo nó que à língua dá,
Todo ele são cortesias:
Vossa Incelência pr'aqui,
Vossa Incelência pr'acolá.

Era uma rica vidinha!
Como o lugar era bom,
Tinha certo o ganha-pão.
Até que um dia, na vinha,
Aparece o Dom Dion
Montado no seu alazão.

Mas o cavalo fogoso
Tais floreados arranja
Que embica numa raiz;
E o cavaleiro garboso
No chão da meia-laranja
Foi esmurrar o nariz.

Vem o "Margó" a correr
Para acudir ao patrão
Com a maior reverência.
E enquanto o ajudava a erguer
Perguntou-lhe, em aflição:
_Magoou-se, Vossa Incelência?

_Não, João, não me magoei,
A Divina Providência
Estendeu-me a Sua Mão.
_Nim sabe como eu fiquei
Cando vi Vossa Incelência
Bater c'os cornos no chão!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Há pessoas que passam nas nossas vidas e deixam um pouco de si. Outras levam consigo um pouco de nós. Porém, existem outras que sempre permanecem, e nos fazem sentir que, para estarmos juntos, não é preciso estar próximos fisicamente, e sim, do lado de dentro.
Charles Chaplin

domingo, 13 de junho de 2010

quinta-feira, 10 de junho de 2010

MAIS AFORISMOS SOBRE A AMIZADE

As feridas causadas pela amizade são as mais profundas e dolorosas.
Shakespeare


É difícil dizer quem nos faz mais mal: inimigos com as piores intenções ou amigos com as melhores.
E.R.Bulwer-Lytton


As lágrimas da amizade servem para confortar-nos nas nossas dores, mas nunca as remedeiam.
Shakespeare


Um amigo é um irmão escolhido por nós.
Droz


Deus deu-nos nossos parentes, mas teve a bondade de nos deixar escolher os nossos amigos.
Ethel Munford


Celebrar a vida é somar amigos, experiências e conquistas, dando-lhes sempre algum significado.
Autor desconhecido


Deus me livre de inimizades de amigos.
F. Lope de Vega


Os amigos sinceros e constantes são raros. A maior parte o é enquanto não os necessitamos ou enquanto podemos ser-lhes úteis.
Osório


Quem tem apenas por amigos os lisonjeiros, vê-se em tamanho perigo como a ovelha entre os lobos.
Crates


Nada é mais injusto que um amigo que não nos fala com franqueza.
Molière


A amizade entre as pessoas é muito mais profunda do que abismos de ódio.
Autor desconhecido


A amizade é uma benevolência recíproca entre dois seres igualmente entusiastas um pela felicidade do outro.
Platão


O amigo certo conhece-se nos momentos incertos.
Cícero


Se queres arranjar um amigo, adquire-o na provação; mas não te apresses a confiar nele. Porque há amigo de ocasião, que não persevera no dia da desgraça.
Eclesiástico 6:7,8


O que mais precisamos na vida é de alguém que nos leve a realizar o que podemos fazer. Nisso reside a função de um amigo.
Emerson


Diante da vastidão do espaço e da imensidade do tempo, é uma alegria partilhar um planeta e uma época com as pessoas queridas.
Autor desconhecido


Estamos todos num mesmo barco em mar tempestuoso e devemos uns aos outros uma terrível lealdade.
G. K. Chesheston


Existirá algo mais agradável do que ter alguém com quem falar de tudo como se estivéssemos falando connosco mesmos?
Cícero


A amizade é como dinheiro: mais fácil de conseguir do que de manter.
Samuel Butler


A amizade é a sabedoria dos homens livres.
Albert Camus


De amigo reconciliado e de caldo requentado, nunca bom bocado.
(Provérbio)


Amigo de verdade é aquele que transforma um pequeno momento num grande e inolvidável instante.


A infelicidade tem algo de bom: faz-nos conhecer os verdadeiros amigos.


O dia mais importante não é quando conhecemos as pessoas, mas, sim, o momento em que elas passam a existir dentro de nós.


A amizade é um bem ao alcance de todos. Saiba escolher os amigos e investir nas pessoas à sua volta. Os amigos verdadeiros valem mais do que verdadeiras preciosidades.


Amigo não é aquele que te enxuga as lágrimas, e sim o que as não deixa cair.


Nenhum caminho é longo de mais quando um amigo nos acompanha.


Muitas vezes falta-nos tempo para dedicar aos amigos, mas para os inimigos temos todo o tempo do mundo.


A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas.


Metade do que se diz a brincar é verdade. Dizer verdades a brincar é uma maneira gentil de ser honesto sem ofender a outra pessoa.


Nunca deixes alguém fazer-te sentir como se não merecesses o que queres.


Há que cuidar da amizade assim como se cuida de uma planta, para que nunca deixe de crescer.


A amizade começa quando, estando juntas, duas pessoas podem permanecer em silêncio sem se sentir constrangidas.
Tyson Gentry


A amizade torna o fardo mais leve porque o divide ao meio.


Ela intensifica as alegrias, ameniza as tarefas difíceis,amacia os precalços, compartilha os problemas,diminui as distâncias.


O amigo revela, desvenda, conforta. É uma porta aberta em qualquer situação.


A amizade\coloca música e poesia na banalidade do quotidiano. Um amigo na hora certa é o sol ao meio-dia, farol na escuridão,bússola e rota no oceano, porto seguro na viagem atribulada... Um Amigo é o milagre do calor humano que Deus opera num coração.

AO AMOR ANTIGO--------Carlos Drummond de Andrade

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.


O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.


Se em toda a parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.


Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Soneto de Olavo Bilac (o genuíno)

Não têm faltado bocas de serpentes,
(Dessas que amam falar de todo o mundo,
E a todo o mundo ferem, maldizentes)
Que digam:"Mata o teu amor profundo!


Abafa-o, que teus passos imprudentes
Te vão levando a um pélago sem fundo...
Vais te perder!" E, arreganhando os dentes,
Movem para o teu lado o olhar imundo:


"Se ela é tão pobre, se não tem beleza,
Irás deixar a glória desprezada
E os prazeres perdidos por tão pouco?


Pensa mais no futuro e na riqueza!"
E eu penso que afinal... Não penso nada:
Penso apenas que te amo como um louco!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

AFORISMOS sobre a AMIZADE

O melhor meio de conservar amigos é nada lhes dever e nunca lhes emprestar dinheiro.
Paulo Koch


Uma pessoa fechada jamais conhecerá a amizade, nem abrirá seus horizontes.
Autor desconhecido


A verdadeira amizade nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem.
Autor desconhecido


As amizades renovadas exigem mais cuidados do que aquelas que nunca foram interrompidas.
Rochefoucauld


Neste mundo temos três tipos de amigos: os que nos amam, os que não se preocupam connosco e os que nos odeiam.
Chamfort


Enquanto fores feliz, terás sempre muitos amigos. Se o céu se toldar, ficarás sozinho.
Ovídio


A amizade: um belo nome que se muda quando nos incomoda.
Petrónio


A única amizade que vale é aquela que nasce sem nenhum motivo.
Van Shendel


A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas.
Francis Bacon


Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudades, mas não estará só.
Amir Klink


A amizade é um amor que nunca morre.
Mário Quintana


A amizade é o instinto dos homens. O amigo constitui a doçura da existência dos lutadores, o estímulo para vencer agruras e dissabores, a força propulsora das ideias, escolas e seitas. A simpatia e a amizade são as formas mais queridas dos seres.
Austregésilo


Amigo que não presta e faca que não corta, que se perca, pouco importa.
(Provérbio)


Devemos perdoar aos nossos inimigos. Não há nada que mais os chateie.
Oscar Wilde


Faço com os meus inimigos o que faço com os meus livros: guardo-os onde possa encontrá-los, mas uso-os raramente.
Miguel Torga


Nada agrada tanto à alma como uma amizade fiel e doce.
Lúcio Anneo Sêneca


Não devemos julgar as pessoas somente pela maneira como nos tratam, mas também pelo modo como se relacionam com os outros.
Celio Devenat


Algumas pessoas que passam pela nossa vida simplesmente passam. Outras demoram-se um pouco, e deixam pegadas em nossos corações. E nunca mais seremos os mesmos.


Amigo é aquele que nos faz sentir melhores e, sobretudo, nos faz sentir amados.


É sensato fazer amizade com as pessoas, nunca com os seus bens.


Não vale a pena explicar-se. Os amigos não precisam disso, e os inimigos ou mal intencionados, nunca acreditarão.


Amigo não é aquele que diz: Avança. Vai em frente. Mas o que diz: Eu vou contigo.


Para encontrar um amigo, devemos fechar um olho. Para conservá-lo, devemos fechar os dois.
Norman Douglas


Mais vale uma amizade sincera do que um amor fingido.


Um amigo não é aquele que, em alguma ocasião, nos faz algum bem. O amigo está sempre connosco, em toda a parte, mesmo à distância, ou afastado no tempo. Está lá para nós. Incondicionalmente.


A amizade mais profunda e dedicada pode ser ferida por uma pétala de rosa.
Chamfort

quinta-feira, 3 de junho de 2010

VOLUNTARIADO

Quem estranha e critica o acto de servir os outros, fazer coisas pelo próximo, o que melhor sabemos fazer, o que nos sentimos mais confortáveis a realizar, quando podemos, onde nos querem, para os que apreciam e podem sentir-se mais confortados, ou mais ricos, pelo muito ou pouco que lhes damos, não sabem, nem entenderão nunca, a satisfação íntima que acompanha as acções de voluntariado. O primeiro beneficiado é sempre o próprio. Ocupar-se dos outros benevolamente, sem esperar outra recompensa que não seja a sensação boa de ter algo em si que interessa aos outros, que pode partilhar com os que necessitam, por de algum modo estarem mais fragilizados ou sós.
A nossa solidão é colmatada. O coração recebe boas vibrações. A alma sente alegria, e nesses instantes de felicidade, ainda que possa ser breve, esquecemo-nos de nós, e o fardo fica mais leve.
Além da ASAL, sou voluntária em Pediatria no HDS. À medida das minhas forças, da minha disponibilidade. E que bem me sinto entre as crianças doentes, entretendo-as, alegrando-as, ajudando-as a esquecer, ainda que por alguns momentos, a razão de ali se encontrarem.
Já contei que no Dia de África, dia 25 de Maio, contei histórias africanas no internamento. Foi uma festa. No Dia da Criança, 1 de Maio, tive consulta. Então, antes da minha hora, estive nas consultas externas a fazer pinturas corporais (sim, porque os miúdos estavam enroscadinhos no colo das mães, ou em grande aconchego com os pais, e não quiseram dar-me o prazer de os enfeitar. Só pintei uma carita de "Homem Aranha" e duas mãos: Uma menina e uma médica estagiária, que já conhecia doutros contextos.( E não é que os pequenitos me presentearam com um coelhinho de biscuit, talvez modelado por algum mais velho e habilidoso, ou até pela educadora, e um porta chaves de uma marca de remédios! Que detalhes amorosos! Que amores.). Dia 16 vou a outra consulta de tarde. De manhã irei para o internamento brincar e contar histórias. Calha bem porque a educadora da área irá faltar nesse dia. Está tudo combinado.
Ficou assim acertado: em dias temáticos, quando necessitarem, sempre que tiver disponibilidade lá estarei. Não abdico desse pedacinho de ventura que é meu, e se nutre da simpatia que encontro e do afecto que semeio.

domingo, 30 de maio de 2010

SEMANA de ÁFRICA-------------2010

E chegou novamente O DIA de ÁFRICA! No dia 25 de Maio! Comemorei-o à minha maneira, isto é: consegui tornar-me voluntária do HDS, mais concretamente do serviço de Pediatria. Então , combinei com a educadora de serviço aos internamentos e lá fui, lutando contra algumas peripécias adversas: atraso do autocarro, etc. Deliciei-me.
Estava um rapazinho internado, mas a pé; um pequenito de dois anos com a mãe; uma menina de 10 que, tendo estado internada, voltou para uma consulta. A Liliana (educadora) ainda considerou a hipótese de ir buscar uma pequenita que fora operada ao apêndice e trazê-la na cama, mas achou melhor não, depois.
Criado o clima propício às narrativas que acreditaram seriam exóticas, comecei... Karingana Wa Karingana... E falei de goriots e cocoanas, de capulanas, tombazanas e mamanas, de meninos e de animais. Contei as fábulas africanas que havia preparado: "Porque é que as galinhas esgaravatam na terra"...," Qual a razão do cão abanar o rabo"..., "Porque é que a lebre tem cauda curta", e de propósito para o pequenino Afonso, "As Minhocas". Por sinal ele não apreciou grande coisa. Mal disposto, incomodado, choramingava ao colo da mãe. Os outros acharam muita graça.
Posso dizer que a iniciativa foi bem acolhida. De tal forma que logo foi agendado que voltaria no Dia da Criança, por coincidência também a data da minha primeira consulta com o neurocirurgião. Foi assim combinado: antes desta farei pinturas faciais na sala de espera das consultas externas de Pediatria, depois, irei às urgências da especialidade contar histórias... confesso que me sinto um pouco aflita: será que as pessoas terão disponibilidade para ouvir e deixar-me interagir com as crianças? Esses lugares são bastante pesados e perturbadores por definição... Não irei piorar o ambiente e a disposição dos doentes e famílias, já de si queixosos e pouco receptivos? Quem sugeriu as actividades tem , com certeza, experiência e sabe o que se adequa às situações.
Mas reparo que me afastei do tema: SEMANA AFRICANA.
De há cinco anos a esta parte a UTIS, em parceria com a Associação de Estudantes dos PALOP tem vindo a organizar, no âmbito da disciplina de Língua e cultura dos países africanos de expressão portuguesa as semanas de África, e tem sido um sucesso. Há cinco, não. Este ano, e porque as complicações e contrariedades inerentes à parceria tornavam os êxitos amargos e cansativos, foi apenas a UTIS a promover e organizar os eventos. Eu costumava levar o ano a sonhar, na expectativa de matar saudades, conviver com gente boa das terras quentes e distantes... Como no ano passado "os anões" já me não deixaram aproveitar a euforia das festas, murchamente apenas me preparei para trabalhar.
No dia 25 à tarde começaram as comemorações, com a inauguração oficial no TSB da exposição de pintura, artesanato e capulanas, que deram o mote. Não pude estar presente. No dia 26 todo o dia contei estórias africanas no mesmo local, para crianças dos jardins escola e escola básica do Choupal. Todos nos divertimos: pequenitos, professoras, auxiliares de educação, e eu, a mais compensada.
No dia 27 à noite tivemos um sarau de poesia africana. Os alunos interpretaram poemas de vários autores dos diversos países, uns anteriores à independência outros após, e houve convidadas: a Fernanda Narciso, doentíssima mas magistral como sempre, a Linda Costa, uma força da Natureza, e eu, que disse "Africa surge et ambula!" de Rui de Noronha e "Maternidade" de Glória de Sant'Ana.
No dia 28, alunos e professora rumaram manhã cedo a Lisboa, visitar a Fundação Oriente e almoçar no Mercado da Ribeira (com baile). Claro que não fui, e não por falta de convite. Novamente "os anões".
Dia 29 de Maio, Sábado, foi um jantar africano no restaurante "Kanimambo", em Santarém, e às 21h30 concerto pelos Charruas no Teatro Sá da Bandeira. Queria ir? Pois gostava, até estive na cidade... (Fui cuidar dos gatos do meu neto durante três dias...) Mas não pude. À noite tive ensaio aqui em Alpiarça, e a peça é de marionetas e assenta na minha prestação: sou a narradora. Que o Meia Laranja se não perca pela falta da minha comparência! Noblesse oblige.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

REMORSO------------Pedro Homem de Mello

Lembro o seu vulto, esguio como espectro
Naquela esquina, pálido, encostado
Era um rapaz de camisola verde
Negra madeixa ao vento
Boina maruja ao lado

De mãos nos bolsos e de olhar distante
Jeito de marinheiro ou de soldado
Era um rapaz de camisola verde
Negra madeixa ao vento
Boina maruja ao lado

Quem o visse, ao passar, talvez não desse
Pelo seu ar de príncipe, exilado
Na esquina, ali, de camisola verde
Negra madeixa ao vento
Boina maruja ao lado

Perguntei-lhe quem era e ele me disse:
_ Sou do monte, Senhor, e seu criado.
_ Pobre rapaz de camisola verde
Negra madeixa ao vento
Boina maruja ao lado

Por que me assaltam turvos pensamentos?
Na minha frente esteve um condenado?
_ Vai-te, rapaz de camisola verde
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado!

Ouvindo-me, quedou-se, altivo, o moço
Indiferente à raiva do meu brado
E ali ficou, de camisola verde
Negra madeixa ao vento
Boina maruja ao lado

Ali ficou... E eu, cínico, deixei-o
Entregue à noite, aos homens, ao pecado
Ali ficou, de camisola verde
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado...

Soube eu, depois, ali se perdera
Esse que eu só pudera ter salvado
Ai! do rapaz de camisola verde
Negra madeixa ao vento
Boina maruja ao lado!

Em jeito de conversa...

Vem esta asserção a propósito do escândalo de Mirandela... Para mim revela tal atitude, principalmente, falta de bom senso. Onde é que a professorinha (e não é tão nova assim!) estava com a cabeça, quando aceitou expor-se daquela maneira, naqueles preparos, esquecendo-se de que tem responsabilidades educativas e sociais na formação daquelas crianças? Que respeito podem elas ter por alguém que não se respeita?
Excluindo as limitações da minha educação repressiva, posso até considerar a nudez natural, num contexto simples e espontâneo, em lugares próprios, na privacidade do lar ou entre amigos liberais, numa praia de nudistas... Mas aquilo? Além do mais as fotos são pirosas, de mau gosto, atrevo-me até a julgá-las ordinárias... E eu que pensava que a Playboy primava pelo tratamento artístico da nudez fotografada... Que se passará?
Juízo e vergonha na cara!...

O VENTO, A ÁGUA E A VERGONHA---------- D. B. ROSS

Viajavam juntos o vento, a água e a vergonha.
Quando pensaram em separar-se, quiseram marcar o lugar onde poderiam tornar a ver-se.
Disse o vento:
_Serei encontrado sempre na altura das montanhas.
Disse a água:
_ Serei encontrada nas entranhas da terra.
E disse enfim a vergonha:
_ Quem me perder uma vez nunca mais me encontrará.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

de Miguel Torga

Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti_não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto_sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!

CARTA DA INFÂNCIA----Carlos de Oliveira

Amigo Luar:
Estou fechado no quarto escuro
e tenho chorado muito.
Quando choro lá fora ainda posso ver as lágrimas
caírem na palma das minhas
mãos e brincar com elas ao orvalho
nas flores pela manhã.
Mas aqui é tudo por demais escuro
e eu nem sequer tenho duas estrelas nos meus olhos.
Lembro-me das noites em que me fazem deitar
tão cedo e te oiço
Bater, chamar e bater, na fresta da
minha janela.
Pelo muito que te tenho perdido enquanto durmo
vem agora,
no bico dos pés
para que eles te não sintam lá dentro,
brincar comigo aos presos no segredo
quando se abre a porta de ferro e a luz diz:
bons dias, amigo.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

BOM SENSO------------parte 2

1-Bom senso na alimentação
Todos temos as nossas preferências alimentares, as nossas incompatibilidades (e, por sinal aziago é precisamente o que nos faz mal que nos regalamos a comer... São os nossos vícios, mais ou menos secretos. Lá diz o ditado: O que é bom faz mal, engorda ou... é pecado.) Pois aqui exige-se bom senso. Moderação. Responsabilidade para com a nossa saúde e a dos outros.
2-Na vida sentimental ou afectiva
Não se deve exagerar nos afectos. É preciso conter-se. Assentar os pés bem na realidade. O excesso leva à possessividade, à cobrança, ao mal-estar, às discussões, à infelicidade. Para não falar no alvo do desvario (há sempre um parceiro mais sensato, ou frio, talvez felizmente) que se aborrecerá com a asfixia...Portanto, o exagero só pode ser contraproducente.
(Mas se a sua natureza é exceder o comum, aceite-se. Tente não ser muito magoado pela vida e... respeitar o outro na sua maneira de estar e de sentir. Tente não perder o sentido das realidades. Afinal, cada qual é como é.)
3-Nas amizades
É essencial manter os relacionamentos seguros, estáveis, baseados nas afinidades, no respeito, na confiança. Não abafar os amigos com a sua forma hiper sensível ou insegura de ser, não os decepcionar, honrar os compromissos e mostrar consideração. Não forçar nada. Respeitar.
4-Na vida profissional
A diferença entre alguém competente, cumpridor e empenhado e um trabalhólico (alguém com o vício, pior, a obsessão do trabalho) é exactamente o que o termo sugere: Uma pessoa que não sabe viver fora da profissão e dos seus problemas, que vive em constante perseguição de objectivos, cada vez mais longínquos, exigentes e ambiciosos.
Um trabalhólico é uma ameaça para si próprio__candidato a doenças causadas pelo stress- para os seus colegas, que o vêem como um rival "agressivo e sem escrúpulos", fonte de inquietação permanente e... sujeito a invejas; Para a família negligenciada, que usa frequentemente como desculpa para a sua ambição desmedida, não reparando que está a amputá-la da sua presença, das suas atenções, do seu amor, dado e recebido, de tudo o que vale a pena e não pode ser comprado.
5-Bom senso no consumo
Urge , cada vez mais, ter cuidado, não exceder as possibilidades reais (é dificílimo, com tantas solicitações actuais, necessidades falsas, criadas pela publicidade enganosa e as facilidades de crédito. "Laços ao dinheiro", dizia a minha avó.) Respeitar-se e respeitar o ambiente, não esquecendo os três Rs: Reduzir, Reutilizar, Reciclar.
Gastar menos, preocupar-se menos, poluir menos.
6-Bom senso na Moda
Não perder a perspectiva do bom gosto e das conveniências. Evitar ser uma fashion victim, ou seja, vítima da moda. Deve usar-se o que nos fica bem, sem deitar a perder as finanças da família, nem ficar parecida com um bouquet garrido ou... uma árvore de Natal.
Uma regra fácil, por exemplo,é não repetir a mesma cor em mais de três peças na mesma toilette. Se não se sente segura a combinar cores, arriscar pouco para além dos cambiantes da mesma cor, o ton sur ton que sempre fica bem, e é com certeza de bom gosto, sem se tornar monótono. Não se encher de acessórios, que carregam e pesam no conjunto. Se tem folhos na gola, não use colar. Se o vestido é bom, bonito e de desenho rico ou textura agradável, prefira uns belos brincos. A elegância é sóbria. The less is more.
7-Bom senso na vida financeira
Não ser ganancioso nem avarento, isto é, não ser tristemente miserável, se tiver condições de viver melhor e ser generoso, nem perdulário fora da sua realidade, a caminhar a largos passos para o desastre, a ruína pessoal, atolado em dívidas cada vez mais difíceis de pagar.

E que dizer do triste espectáculo da vida social... É estar atento aos notíciários, é só abrir o jornal...! "Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão".
Penso que muitos desvarios da sociedade derivam da crise, que todos ajudámos a instalar com a nossa fuga à realidade, o querer viver acima das nossas posses, o novo-riquismo artificial. Dos cidadãos e do Estado.
E o triste exemplo da vida política? Corrupção, desnorte, desrespeito... Esbanjamento dos recursos, má gestão do erário público, impostos cada vez mais pesados e ... desaproveitados... Vigarices. Falta de vergonha. E não nos iludamos. Não é provável que haja uns melhores que os outros. É tudo a eito.


É claro que tudo na vida requer moderação. O tal tacto. Ou bom senso. In medio virtus.


Terei eu bom senso? Nem por isso, reconheço. É fácil dar-me conta dos erros alheios, e até dos próprios. Teorizar. Reconhecer o remédio. Mas viver de acordo com estas e outras convicções, verdadeiras mas, porque idealizadas, longe da prática que me é possível, é muito mais complicado. Vai-se tentando.

terça-feira, 11 de maio de 2010

BOM SENSO

O bom senso, habitualmente chamado de tacto,é das melhores qualidades que alguém pode possuir. Porque será que cada vez parece mais arredado?
O bom senso pode suprir, à primeira vista, muitas vezes na vida a inteligência e até a bondade,porque permite ver as coisas como elas são e auxilia na travessia tormentosa de todos os dias. Claro que as outras qualidades que podem parecer ocultas, estão lá e são naturais, sem o que o dito bom senso mais não seria que um árido e aguerrido exercício de egoísmo...
Excessiva inteligência sem tacto, traz, em geral, desequilíbrio, frustrações, até inimizades, que não podem ajudar a pessoa a ser feliz nem a transmitir felicidade aos que a rodeiam.
Excessiva consciência de si mesmo, o velho egocentrismo, ou egoísmo se formos mais precisos, leva, a longo prazo, ao isolamento, à destruição da estabilidade, especialmente se for servido por uma fantasia às vezes delirante.
Inteligência prática é ser realista, pragmático, ciente dos seus deveres, dos seus direitos, dos seus limites e conveniências_ no fundo, é ter respeito por si e... pelos outros. Bom senso.
Por vezes confunde-se coragem com arrogância, rebeldia ou afoiteza. Nada mais diverso, e só leva a confrontos estéreis, desentendimentos, desaguisados desnecessários. Infelicidade. Deve evitar-se a atitude de desafio, ou a exposição gratuita, o pôr-se a jeito. Quem nos garante que o nosso ponto de vista é o mais correcto, que as nossas razões são as certas? Faz falta humildade, saber pôr-se no lugar do próximo. Respeito. Bom senso.
Coragem é conhecer-se, aceitar-se, conhecer as suas limitações e as dos outros. Procurar viver em harmonia e sem trair nunca os seus princípios.
Ter bom senso é procurar alcançar o bom, sem almejar o óptimo, que decepcionará pela impossibilidade, ou pelo esplendor da grandeza não alcançável. Afinal, a excelência é tremendamente difícil de conseguir, e quem nos diz que seja recomendável?! A perfeição é só de Deus. Temos de baixar as expectativas se queremos construir uma vida nivelada e segura.
Ter bom senso é, quanto a mim, não falar de mais, não se exceder nas confidências que constrangem e comprometem a naturalidade das relações. É saber ouvir, sem juízos de valor. É opinar apenas se for instado. Evitar os conselhos que, se fossem realmente bons, não se davam. Vendiam-se. É estar presente sem se impor. Ninguém é, ou tem de ser, igual a ninguém.
Não alardear inteligência ou cultura, quantas vezes, para não dizer quase sempre, falsas. Querer ter sempre a última palavra, demonstra imaturidade, falta de chá e de bom senso.
As pessoas parecem, muitas vezes, querer sobrepor-se às outras, e afinal provam que não usam de sensibilidade, de respeito, de educação, e dão um triste espectáculo de si mesmas. Quantas vezes essa alegada superioridade não acaba por desmoronar-se, desmontada nas bases pouco sólidas, e expondo ao ridículo quem tanto queria sobressair. E o mais lamentável é que raramente o pavão se dá conta. Falta de tacto!
Então tratemos de colocar bom senso em todos os aspectos da vida: Na vida privada e na pública ou social. E na política. Será que temos assistido a manifestações de bom senso de quem teria obrigatoriamente de dar exemplos de contenção, de probidade, de educação e respeito por si e pelos outros? Até quando?!
(cont.)

segunda-feira, 3 de maio de 2010

De Antemão--------Herberto Helder

Tocaram-me na cabeça com um dedo terrificamente
doce, Sopraram-me,
Eu era límpido pela boca dentro: límpido
engolfamento,
O sorvo do coração a cara
devorada,
O sangue nos lençóis tremia ainda:
metia medo,
Se um cometa pudesse ser chamado como um animal:
ou uma braçada de perfume
tão agudo
que entrasse pela carne: se fizesse unânime
na carne
como um clarão,
Um anel vivo num dedo que vai morrer:
tocando ainda
a cabeça o rítmico pavor
do nome,
O leite circulava dentro delas,
É assim que as mães se alumiam
e trazem para si o espaço todo
como
se dançassem,
São em si mesmas uma lenta
matéria ordenada, Ou uma
crispação: uma ressaca,
E quando me tocaram na cabeça com um dedo baptismal:
eu já tinha uma ferida
um nome,
E o meu nome mantinha as coisas do mundo
todas
levantadas