sábado, 25 de setembro de 2010

NOVAS QUADRAS de António Aleixo

A vida é uma ribeira;
caí nela, infelizmente...
hoje vou, queira ou não queira,
aos trambolhões, na corrente.

O mundo só pode ser
melhor do que até aqui,
_ quando consigas fazer
mais p'los outros que por ti!

A esmola não cura a chaga;
mas quem a dá não percebe
que ela avilta, que ela esmaga
o infeliz que a recebe.

A ninguém faltava o pão,
se este dever se cumprisse:
_ ganharmos em relação
com o que se produzisse.

Tu, que tanto prometeste
enquanto nada podias,
hoje que podes _esqueceste
tudo quanto prometias...

Chegasses onde pudesses;
mas nunca devias rir
nem fingir que não conheces
quem te ajudou a subir!

Os que bons conselhos dão
às vezes fazem-me rir,
_ por ver que eles próprios são
incapazes de os seguir.

Entra sempre com doçura
a mentira, p'ra agradar;
a verdade entra mais dura,
porque não quer enganar.

Falas bem, mas antes queria
que soubesses proceder
menos em desarmonia
com o que sabes dizer.

Não sou esperto nem bruto,
nem bem nem mal educado:
sou simplesmente o produto
do meio em que fui criado.

Não escolho amigos à toa,
sempre temendo algum perigo:
primeiro, escolho a pessoa;
depois, escolho o amigo.

Meu coração, no seu cofre,
está tão afeito ao mal
que se sente, se não sofre,
fora do seu natural.

Só quando sinceramente
sentimos a dor de alguém,
podemos descrever bem
a mágoa que esse alguém sente.

Não digas que me enganaste,
por ter confiado em ti;
muito mais do que levaste,
ganhei eu no que aprendi.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

SORRI ------------------------------Charles Chaplin

SORRI
Quando a saudade te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos, vazios...

SORRI
Quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador


SORRI
Quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados, doloridos...

SORRI
Vai mentindo a tua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz...

A LUZ--------------Rogério Carrola

Áspero é agora o voo da luz
marcando Outubro pela implosão da cor
que cai, devagar e fria, das grandes árvores.

O pensamento está quieto. Apoia-se
numa janela de desamor ainda não
totalmente fria,
que o calor das cortinas compõe,
com suas cores quentes,
um cantinho de mão junto ao bafo da boca.

O que mais se agita é a memória
que apaga e ilumina, em grito,
e ao sabor dos olhos,
o que estes contemplam
de fora para dentro e, de dentro,

para a nostalgia do infinito.

Enfraquece lentamente,
a luz,partindo-se,
aqui em pálidos azuis,
além em rubros amarelecidos
de febre natural.

Não é propriamente um pôr-do-sol férreo
mas o pensamento dorido
torna-o deserto não só na cor
como no silêncio.

Esta luz faz tombar as folhas muito devagar.
Parece não chegarem ao chão,
tão lentamente os olhos
as empurram para a quietude última
da emoção.

Que olhar é este que traz a alma de Outono
ao vidro da janela?

Que pensa esta solidão,
como se fosse uma casa,
cheia de nada por dentro

e aberta à vida inteira no rosto que dá
para o horizonte da luz?

Os dedos afagam o débil das cortinas
como se afagassem a retina da dor
ou a gota de sol que vem pousar
na última folha caída dos olhos.

A luz encosta as suas asas
na calma do vento

e paira, tão lentamente como o beijo eterno
que um grande amor deposita
no corpo desse desejo.

Fecham-se as casas. Todas as casas.
E o horizonte da realidade desaparece.

As sombras conquistam o chão e levantam
a noite.

Fria.

A cabeça retira-se das cortinas
e o olhar da luz
anuncia apenas a esperança

de um novo dia.

AMIGOS VERDADEIROS (adaptado)

São aqueles com quem temos afinidades
que nos despertam saudades
que conhecem a nossa realidade!
Amigos do peito são aqueles que se tornam especiais:
Que nos ouvem quando precisamos de falar;
Que nos calam, quando é necessário ouvir;
Que nos estimulam, quando pensamos em desistir;
Que nos amparam, quando achamos que vamos cair.
Amigos verdadeiros são aqueles que se entristecem com as nossas derrotas;
Que se sentem felizes com as nossas vitórias;
Que caminham ao nosso lado na mesma direção,
que sempre nos empurram para a frente,
quando a vida parece perder a razão.
Amigos de verdade são amigos queridos,
jamais esquecidos
e mesmo quando ausentes eles tornam-se presentes
porque estão guardados no peito, no nosso coração!

(autor desconhecido)-----------O QUE É UM AMIGO (adaptado)

Um amigo é alguém que nos quer assim como somos.

Alguém muito especial e tão próximo dos nossos pensamentos que nenhuma distância poderá ser longe.

Um amigo é alguém que ao cumprimentar-nos nos faz felizes.
Um amigo é alguém que nos compreende sem necessidade de palavras. Que permanece próximo quando as coisas não nos correm bem.

Um amigo é alguém que está sempre disposto a escutar os nossos problemas e a ajudar a solucioná-los.

Obrigada aos meus amigos por serem assim.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

REENCONTREI MAIS UM AMIGO

A vida afunda-nos, por vezes, em terrenos inóspitos de terra seca e estéril. Sentimos no peito um vazio que tentamos encher de entulho... Inutilidades, futilidades... _ Esforço vão. E de súbito, há espaço para abrir as portas da alma e receber nela amigos novos, e reencontrar amigos deixados noutro portal do tempo... Esquecidos pelos vendavais da vida.
Estou nessa fase boa, gratificante, de deixar cicatrizar
mágoas novas e velhas e receber o bálsamo refrescante do afeto. Desde há seis anos a esta parte que tem sido assim. Eles têm chegado, regularmente, numa cadência que até parece concertada. E os novos conhecimentos têm trazido também surpreendentes parcerias, inesperadas afinidades que desejo se consolidem em amizade autêntica e sólida.
Amizade como eu a entendo: baseada na confiança, na partilha, na lealdade, nos laços que não podemos temer atar.
Sentía-me traída, e eis que me descubro privilegiada. Bem hajam, amigos. Nós somos partículas do universo. Poalha sideral atraída pela gravidade. Nada é por acaso. Que saibamos ser simples e darmo-nos na estima partilhada.

AMIGA--------------------Florbela Espanca

Deixa-me ser a tua amiga, Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor,
A mais triste de todas as mulheres.

Que só, de ti, me venha mágoa e dor
O que me importa a mim?! O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!

Beija-me as mãos, Amor, devagarinho...
Como se os dois nascêssemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...

Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei prà minha boca!...

domingo, 19 de setembro de 2010

TORTURA-------------Florbela Espanca

Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida Verdade, o Sentimento!
_ E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...

Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
_ E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho de um momento...

São assim ocos, rudes os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

MATURIDADE-------------ideias avulsas e dispersas

O ser humano amadurecido convive bem com a solidão. A solidão também nos ajuda a gostar de nós mesmos. Até que possamos tolerar, apreciar, a nossa própria companhia, não podemos esperar que outras pessoas se sintam muito felizes com a nossa presença.
Harry Emerson Fosdick observou, certa vez, que os que não conseguem suportar a solidão são como "lagoas com as águas eternamente encapeladas pelo vento, incapazes de se acalmarem para refletir a beleza". Que lhes parece?
Não há pior solidão que a acompanhada, que não nos permite o encontro conosco mesmos: meditar sobre as atividades do dia, fazer o balanço do que se passou, ler... Há uma relação direta entre a solidão e o processo criativo. Portanto, estar só é ter uma oportunidade única para crescer, para se enriquecer como pessoa, para se tornar melhor.
Alguém maduro, ou em processo de amadurecimento, aprende a libertar-se de complexos de culpa, que não conduzem a nada. Deve abrir-se e aprender com os seus próprios erros.
É preciso aperfeiçoar-se, procurando aprimorar, desenvolver, as nossas melhores caraterísticas. Deixemos as nossas faltas para trás, que é onde devem ficar. Precisamos corrigir os nossos erros, e então esquecê-los. Guardando, se possível, as lições aprendidas. É como deve ser o perdão, por exemplo:- Perdoar, e esquecer.
Complexos de culpa e de inferioridade, preocupações com erros passados e defeitos atuais não pertencem a um estado de espírito louvável nem desejável.
Se cultivarmos estas atitudes massacrantes, mergulhamos em autopiedade, ou pior, autopunição, e não seremos capazes de respeitar-nos e nem gostar de nós mesmos, da mesma forma que também não gostaríamos de outras pessoas, se as tivessem.
Alguém maduro não pretende ser perfecionista. Quer dizer que devemos compreender que ninguém, inclusive nós mesmos, pode agir sempre acertadamente.
Em consequência, é injusto esperar isso dos outros e de nós mesmos.
Alguém maduro não se leva demasiado a sério. Temos de ser capazes de relaxar e rir de nós mesmos, de vez em quando. É uma das condições para aprendermos a gostar mais de nós, e em tempos de crise, ajuda a relativizar as dificuldades.
É incómodo este pensamento, mas temos de assumir que o nosso comportamento é ditado principalmente pelo grupo social ou económico a que pertencemos. Vestimo-nos, comemos, vivemos e pensamos em função da aprovação social. Por vezes até entramos em competição com os nossos vizinhos.
E se esse ambiente entrar em conflito com a nossa personalidade individual, tornamo-nos, frequentemente, neuróticos e infelizes. Sentimo-nos perdidos e desnorteados _conclusão, não gostamos de nós mesmos.
O valor que damos ao sucesso material e ao prestígio, a tortura de nos querermos igualar aos outros, suplantar os outros, trazem descontentamento, insatisfação, ansiedade, e levam a enfermidades do espírito.E também acredito que a falta de uma espiritualidade em crescimento contribui para a falta de orientação emocional.
A personalidade de cada um não pode ser mudada. Ninguém muda ninguém na sua essência. Essa personalidade pode apenas ser revelada. Temos obrigação de aprender a conhecer-nos. Despojar-nos do medo, da renúncia, da falta de confiança em nós mesmos. Conhecer os outros e respeitá-los. Desistir de tentar modificá-los ou controlá-los. Até porque não é possível, e sairemos frustrados no intento.
O processo de amadurecimento da mente é uma aventura contínua no caminho do autoconhecimento. "Conhece-te a ti mesmo"- dizia Sócrates.
É necessária maturidade até no trabalho. Que está difícil e precário. Então, se não pudermos ter a ocupação que gostávamos, procuremos criar atitudes positivas de apreço pelo que temos de fazer. Imprimir o nosso cunho pessoal às tarefas, com o nosso empenho.
E cultivemos a simpatia no local de trabalho, ajudando a criar um clima agradável de boa vontade, de afecto e até cumplicidade entre colegas e patrões.
Ter consideração por si próprio é indispensável (brio profissional).
Tentemos olhar as dificuldades como desafios, oportunidades para crescer, para mostrar o melhor de nós mesmos, para ter sucesso.
Devemos permitir-nos obter uma auto-realização criativa. Nossa.
CONSELHOS:
1º- Procurar diariamente alguns momentos de solidão.
2º- Esforçar-se por romper hábitos. (É até uma forma de prevenir Alzheimer).
Mesmo os princípios básicos podem ser algumas vezes desafiados. Os não-conformistas são responsáveis pelo progresso da civilização.
3º- Procurar exercitar-se. O entusiasmo traz cor à vida e acrescenta vida aos anos.
Pessoas aborrecidas são imaturas. Se aborrecem os demais, não têm consideração por estes. Há quem tenha um peculiar sentido de humor, geralmente à custa de graçolas acerca dos outros. Só eles se acham graça. São pobres de espírito e não sabem. Têm parca imaginação e falta de sensibilidade e bom senso.
Ser aborrecido é quase sempre sintoma de um ser desorientado, estático, imaturo, que deixou de progredir.
Há outros que se comprazem em chocar as pessoas. Deleitam-se a dizer coisas impróprias, a salpicar a conversa de palavrões, inconveniências, imbecilidades. Dão, de si próprios, um triste espectáculo de imaturidade.
4º- Aprender a ser assertivo. Saber o que quer, e lutar por isso com diplomacia e persistência.
5º- Não existe vacina contra a rejeição. Dói, mas é inevitável. É indispensável enfrentar essa dor. Gradualmente descobriremos que somos capazes de aguentar as separações. E aqueles de quem somos obrigados a separar-nos não nos limitam. E às vezes nem voltarão a recordar-nos. Sigamos em frente.
6º- Aproveitem a vida. Ousem quebrar regras.Perdoem rapidamente. Nunca deixem de sorrir, por mais banal ou bizarro que seja o motivo. É preciso lembrar que não há dor que um abraço não mitigue. Não há prazer sem risco. Não há realização que não comporte a incerteza de vencer desafios.
A vida pode não ser a festa que esperávamos, mas já que cá estamos, temos de comemorar!!!
Cresçam de vez e apreciem a Vida!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

CONTAR HISTÓRIAS

Contar histórias é uma velha e nobre arte que convém aprimorar. Desde tempos imemoriais que os saberes, as competências, as tradições, foram sendo transmitidos na forma de narrações de factos, encantamentos, lendas, magia... memórias. Antes da invenção da escrita. Pela tradição oral. Por anciãos, feiticeiros, mulheres "de virtude". Por figuras de peso respeitadas na comunidade. E assim foram passando os testemunhos de geração em geração. De boca em boca. Preservando o acervo cultural do povo.
Já há anos que os contadores de estórias vêm exercendo, de novo, o seu ofício, com crescente interesse e atualidade.
Qualquer um pode contar histórias? De certo modo. Mas há regras a ter em atenção.
1º- Recolher histórias, lendas locais, nacionais ou universais interessantes.
2º- Não enfrentar nunca o público sem conhecer bem a história.
3º- Prepará-la, fazendo uma primeira leitura silenciosa, ou inteligente, depois ler em voz alta. Interpretá-la. Se tiver audiência disponível, aproveitá-la, para um ensaio do resultado.
- Contar estórias ou dizer poesia é, no fundo, fazer teatro. Interpretar. Divertir ou encantar. Passar a mensagem.
4º- Escolher e "vestir" uma personagem adequada: vendedora de balões, avozinha, mestra, tia, vizinha, criatura da mata, musa, pastor...etc.
5º- Deve adotar vestuário diferente e adequado à personagem que escolheu viver. Os trajes, mesmo que sejam improvisados, devem tornar o contador uma figura especial. Devem ajudar a passar a magia.
6º- Adaptar as histórias, empregando os conhecimentos que se têm de tantas que temos ouvido, lido ou conhecido...
- Utilizar uma e apropriar-se dela sem autorização do autor é roubo, é plágio. Diversificar, compor a narração com retalhos de muitas, é pesquisa.
7º- Se têm dono, respeitar pelo menos o fio condutor, e referir a "paternidade".
Se cortar ou modificar algo, apresentá-la como "adaptação da estória X de Fulano".
8º- Treinar muito a voz: deve sair clara e nítida. Experimentar inflexões, cambiantes, mutações.Lembrar que a leitura ou narração deve ser viva, interessante, sem nunca cair na monotonia e aborrecer o público. Imitar as personagens, emprestando-lhe caraterísticas únicas, condizentes com a estória. Fazer gestos, mimando o tema. Criar uma "voz" que caraterize e defina a personagem.
Fazer pausas intencionais para segurar a atenção dos ouvintes.
9º- Escolher a música para harmonizar, preparar o ambiente, e como fundo musical.
10º- Nunca deve o narrador cair na armadilha de tentar sobrepor a sua voz ao ruído da plateia. Nunca deve elevar a voz. Pelo contrário. Se o alarido ou entusiasmo forem excessivos deve calar-se, ou baixar a própria voz, para obrigar os ouvintes a fazer silêncio para o poderem escutar.
11º- Histórias de cariz moralista são maçadoras. A mensagem deve ser implícita, subliminar. No fim pode (e deve) ser reforçada numa conversa informal integrada com a assistência.
Contar histórias é passar valores. A amizade. A paz. A concórdia. A alegria. A lealdade. O trabalho. A solidariedade... Nunca uma estória deve conter uma situação, mesmo que pareça engraçada ou de efeito, que mostre ideias negativas ou reprováveis.
12º- Tirar grande prazer da leitura, e gostar de partilhá-la com os demais.


GOSTOS:

-Crianças pequenas gostam de histórias quotidianas, de animais, de animais humanizados.
- Meninas de 9, 10 anos, gostam de histórias de fadas, de conflitos: equilíbrio e desequilíbrio de forças entre o bem e o mal, de românticas simples, de finais felizes, por exemplo. "A Fada Oriana", "A Princesinha", "A Bela Adormecida", etc., etc.
- Rapazinhos da mesma faixa etária gostam de estórias de aventuras: de Sophia de Mello Breyner, "O Ladrão de Bagdade", "Jim da Selva", mistérios, tipo livros de Enid Blyton, etc.
- Idosos gostam de contar as suas vivências. Deve aproveitar-se essa tendência e a memória de longo prazo, sem permitir que a narrativa se torne interminável, nem secante.
O contador é moderador. Dirige e orienta a sessão.
- Os mais velhos gostam de ouvir histórias curtas, engraçadas, de final inesperado, de preferência com uma pitadinha de picante.
-É preferível contar duas ou três histórias curtas no mesmo espectáculo, que uma enorme que cansa os espetadores ou os faz desviar a atenção e perder o interesse nela.

Mais lembretes interessantes:

- Cuidar da qualidade da voz. Nunca (ou raramente) comer gelados no verão, pois o choque térmico danifica as cordas vocais.
- Aprender a colocar a voz.
- Mesmo que tenha de gritar, exagerar, ou forçar a voz para servir a estória e aumentar o "realismo" fantasioso das personagens, nunca deve fazê-lo fora do seu registo pessoal. Isso aprende-se com treino.
- Nunca terminar de repente. O contador deve ficar sentado no meio da assistência, ou no palco, após ficar claro que a história acabou, mas que continua disponível para interagir com o público. Deve mesmo misturar-se com este, ainda sem "despir"
a personagem. Prolongar o encantamento... Em especial se a assistência for de crianças.
- Se for preciso (não é sempre?) pode arranjar estratégias pessoais para atuar com brilho. Eu sou muito tímida e nervosa, então, tomo Valdispert um quarto de hora antes do espectáculo, sem o que bloqueio e nada me ocorre. Há quem beba um cálice de vinho do Porto, etc.... Convém sentir-se solto e seguro.
- As histórias podem ser contadas por várias pessoas dispostas em linha em frente do público. É uma narração assente na confiança, no conhecimento do pensamento comum de cada interveniente, e fixa-se no improviso. Baseado na dinâmica de múltiplas histórias conhecidas de todos. Exige uma técnica que não tenho agora tempo de mentalizar e partilhar. Nem sei se interessaria.
EXPERIMENTEM.
- Não tenham escrúpulos em contar histórias tradicionais, às vezes terríveis. Essas histórias foram quase todas escritas para adultos. Mas logo as crianças quiseram ouvi-las e... apropriaram-se delas. Psicólogos estudaram o efeito na formação das crianças e concluíram que elas refletem terrores, medos próprios de todos os miúdos. De serem abandonados (João e Maria ou a Casinha de Chocolate), de que os protetores morram, de que não gostem delas, (Branca de Neve), etc. E os finais resolvem satisfatoriamente essas angústias. Até as mais assustadoras dos "irmãos Grimm" passam indicadores de justiça, que são gratos às crianças e lhes agradam.
- Ah! E não se esqueçam de respirar bem. A respiração correta é essencial em todas as actividades da vida, até a dormir, mas aí ela processa-se naturalmente sem o boicote da consciência desperta. Se não respirarmos como deve ser (respiração abdominal), provocaremos um edema nas cordas vocais e ficaremos sem voz.
- Aqueçam a voz antes da tarefa. Façam vocalisos, trauteiem as vogais, subindo e descendo na escala de notas, variem o timbre. Se não houver tempo, comecem com discrição, sem esforços inúteis, e vão crescendo na intensidade. Saber dosear a expressão e o esforço é sinal de competência no mester.
- Em caso de S.O.S., chazinho de perpétuas roxas. É tiro e queda nas afonias de stress, constipações, cansaço. Mas não vale beber só uma chávena. Eu costumo levar comigo um termo e vou bebericando todo o dia.
- Frequentem as ações de formação que puderem. Até aparecem muitas grátis de boa qualidade. Vou inscrever-me noutra para o dia 16 em Almeirim:"Vitória, Vitória... Acabou-se a História". Vale a pena. Aprende-se muito. E depois devemos estar abertos à troca de experiências com os outros e aprender com a nossa própria experiência.
DIVIRTAM-SE! BOM TRABALHO

pensamento

Fizeram ontem 35 anos que o meu paizinho faleceu. Paz à sua alma.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

AUTO-ESTIMA

Pesquisando o tema, coligi ideias e conselhos de outros, acrescentei algo da minha lavra, resultado de cogitações solitárias, e debitei-os no programa De Mulher para Mulher sexta-feira passada.


A primeira condição para viver em harmonia, desfrutando em pleno das relações com os outros é amarmo-nos. Incondicionalmente. Procurando rodear-nos dos nossos gostos, fazendo tudo o que gostamos, procurando acima de tudo sentir-nos bem. Procurar ter sempre, na nossa vida, uma visão realista e global do que nos faz felizes, e tomar decisões a favor da nossa felicidade. E esse bem estar pessoal acabará por transmitir-se aos outros, influenciando o ambiente em que vivemos.
Se não soubermos (aprendermos) amar-nos, dificilmente saberemos dar amor aos outros.
Se não gostarmos verdadeiramente de nós não procuramos ser felizes e não conseguiremos amar as outras pessoas. Mesmo que o acreditemos profundamente. Como será possível dar o que não temos?
Qualquer pessoa que não se ama acaba atraindo também seres com a mesma caraterística, pelo seu magnetismo, ou pela lei natural da atração. Devido a essa afinidade começarão a acontecer conflitos entre eles, na relação de afetividade.
Dois malquistos no seu insite acabam dividindo mágoas, somando ressentimentos, sobrando cobranças impossíveis de colmatar.
Nunca poderemos dar amor, ou sermos amados verdadeiramente, se não formos os primeiros a fazê-lo. E isso aprende-se. Como?

Mandamentos da Auto-Estima:
1º- Quem se ama de verdade evita pensar, sobretudo vivenciar interiormente o passado triste, e quando se lembra, mentaliza-o apenas como experiência válida para a sua evolução. Recorda, de forma fria, despojada e natural, tudo o que aconteceu no passado, e procura retirar a lição e proveito dos acontecimentos que viveu.
2º-Quem se ama de verdade sabe distanciar-se, mantém o controlo emocional, procura entender o próximo e "dar-lhe um grande desconto", para não deixar as críticas negativas, as calúnias, as palavras ofensivas e as desarmonias caírem sobre o seu campo energético e prejudicá-lo.
3º-Quem se ama com verdade não espera ser compreendido, prefere compreender as pessoas de um modo geral,mantém-se de bem com a vida e não se preocupa com a opinião alheia. Não dá ouvidos às críticas, evitando que elas cresçam e germinem. Sua consciência é seu guia.
4º-Quem se ama não guarda raiva, rancor ou ressentimento. Se tem mágoas procura entendê-las, resolvê-las e esquecê-las. Vê tudo à sua volta como se fosse um processo de auto-conhecimento. Está sempre disposto a perdoar e esquecer, em qualquer situação.
5º-Quem se ama aprende a perdoar-se.
6º- Quem se ama de verdade não aceita sugestões negativas. Vigia os seus pensamentos e procura analisá-los. Quem se ama não deixa os pensamentos pessimistas instalar-se. Antes procura substituí-los, no ato, por ideias positivas.
7º- Quem se ama de verdade não se magoa, não se sente atingido e triste quando alvo do negativismo dos outros. Pelo menos não chora inconsolavelmente. Não valoriza situações infelizes.
Não se entristece por razões mínimas.
8º- Quem se ama não perde o controlo de si mesmo, sejam quais forem as circunstâncias. Não se deixa levar por qualquer situação negativa.
9º- Quem se ama tem coragem de recomeçar, e cria em si força e segurança, se for necessário, sem medo de enfrentar o desconhecido.
10º- Quem se ama não teme a aproximação aos outros. Não se retrai de manifestar afecto. Sem exageros.
11º-Quem se ama é grato. À vida. A todo o bem que o envolve.
Achamos que as pessoas que amamos têm obrigação de gostar de nós da mesma forma,sem nos darmos conta de que cada um tem a sua maneira de gostar. Então culpamo-nos por não atrairmos igual querer. Culpamo-nos até pela dor que sentimos. É falta de auto-estima. Sintamo-nos bem por, em algum momento, termos amado e termos sido amados.

sábado, 11 de setembro de 2010

POEMA-------------de Reinaldo Ferreira

Sei que a ternura
Não é coisa que se peça,
E dar-se não significa
Que alguém a queira ou mereça.
Estas verdades,
Que são do senso comum,
Não me dão conformação
Nem sentimento nenhum
De haver força e dignidade
Na minha sabedoria...
Eu preferia
_Sinceramente, preferia!_
Que, contra as leis recolhidas
No que ficou dos destroços
De outras vidas,
Tu me desses a ternura que te peço;
Ou que, por fim, reparasses
Que a mereço.

de Reinaldo Ferreira

Fico na esperança de um gesto
Que hás-de fazer.
Gesto, claro, é maneira de dizer,
Pois o que importa é o resto
Que esse gesto tem de ter.
Tem que ter sinceridade
Sem parecer premeditado;
E tem que ser convincente,
Mas de maneira diferente
Do discurso preparado.
Sem me alargar, não resisto
À tentação de dizer
Que o gesto não é só isto...
Quando tu, em confusão,
Sabendo que estou à espera,
Me mostras que só hesitas
Por não saber começar,
Que tentações de falar!
Porque enfim, como adivinhas,
Esse gesto eu sei qual é,
Mas se o disser, já não é...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

de Maria do Rosário Pedreira

Mãe, eu quero ir-me embora__ a vida não é nada
daquilo que disseste quando os meus seios começaram
a crescer. O amor foi tão parco, a solidão tão grande,
murcharam tão depressa as rosas que me deram _
se é que me deram flores, já não tenho a certeza, mas tu
deves lembrar-te porque disseste que isso ia acontecer.

Mãe, eu quero ir-me embora _ os meus sonhos estão
cheios de pedras e de terra; e, quando fecho os olhos,
só vejo uns olhos parados no meu rosto e nada mais
que a escuridão por cima. Ainda por cima matei todos
os sonhos que tiveste para mim _tenho a casa vazia,
deitei-m com mais homens do que aqueles que amei
e o que amei de verdade nunca acordou comigo.

Mãe, eu quero ir-me embora _nenhum sorriso abre
caminho no meu rosto e os beijos azedam na minha boca.
Tu sabes que não gosto de deixar-te sozinha, mas desta vez
não chames pelo meu nome, não me peças que fique _
as lágrimas impedem-me de caminhar e eu tenho de ir-me
embora, tu sabes, a tinta com que escevo é o sangue
de uma ferida que se foi encostando ao meu peito como
uma cama se afeiçoa a um corpo que vai vendo crescer.

Mãe, eu vou-me embora _ esperei a vida inteira por quem
nunca me amou e perdi tudo, até o medo de morrer. A esta
hora as ruas estão desertas e as janelas convidam à viagem.
Para ficar bastava-me uma voz que me chamasse, mas
essa voz, tu sabes, não é a tua _ a última canção sobre
o meu corpo já foi há muito tempo e desde então os dias
foram sempre tão compridos, e o amor tão parco, e a solidão
tão grande, e as rosas que disseste que um dia chegariam
virão já amanhã, mas desta vez, tu sabes, não as verei murchar.

de Isabel Meyrelles

Tu já me arrumaste no armário dos restos
eu já te guardei na gaveta dos corpos perdidos
e das nossas memórias começamos a varrer
as pequenas gotas de felicidade
que já fomos.
Mas no tempo subjectivo
tu és ainda o meu relógio de vento
a minha máquina aceleradora de sangue
e por quanto tempo ainda
as minhas mãos serão para ti
o nocturno passeio do gato no telhado?

Quotidiano--------------Fernanda Botelho

Sou eu. Sabes quem sou?
Não, não digas nada.
Sei apenas que estou
Acabrunhada.
E se inclino o rosto,
se pareço uma pirâmide truncada
com sobrecasaca de frio,
é porque não gosto
de puxar o fio
à meada.

(Escadas escuras
subidas dia a dia.
Pernas cansadas
e solas gastas.
Harmonias acabadas
num gesto torvo.
Tremenda nostalgia
de iluminações vastas
e de calçado novo).

Pernas cansadas? Sim.
Magras? Talvez.
Aqui, onde me vês,
já fui assim
... roliça,
como bocejo na hora da preguiça...

Aqui, onde me vês,
não é a mim que me vês,
É a magricela
que sobe aquela
escada de sonhos desiguais
que me constrangem.

_E ainda para mais
os meus sapatos rangem.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

CATORZE--------------------Fernando Luís Sampaio

As moedas, as roupas, a tábua de ardósia
eram arrecadadas.
Com os paus de giz erguera a baforada
de astros, a bicicleta vermelha
no armazém quando o vento
vinha dos mares de inverno.

Então a luz entrançava-se-lhe nos braços,
queimava-lhe as portas,
a camisola, o cabelo cortado à navalha.
O amigo sempre ficava na treva
que a sala retinha.

domingo, 5 de setembro de 2010

Lisbon revisited-------------Fernando Pessoa

Não. Não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências)_
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul _ o mesmo da minha infância _
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!

Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

MIRADOURO---------Miguel Torga

Com tristeza e vergonha enternecida,
Olho daqui
A ponte de palavras
Que construí
Sobre o abismo da vida.

Sonhei-a;
Desenhei-a;
Sólida até onde pude,
Lancei-a como um salto de gazela:
E não passei por ela!

Vim por baixo, agarrado ao chão do mundo.
Filho de Adão e Eva,
Era de terra e treva
O meu destino.
E cá vou como um pobre peregrino.

DESENCONTRO------------Bernardo Santareno

Jograis e trovadores,
vagabundos de todos os tempos,
são os meus parentes.
Não me peçam construções,
nem actos úteis de momento:
Eu sou um adolescente
e nunca serei adulto.
Não me peçam sobriedade,
nem gestos medidos, cinzentos:
Eu sou um arlequim
e visto-me de encarnado,
como as aves no firmamento
e como as flores na terra!
Não me exijam palavra certa,
nem honra... P'ra quê ilusões?
Nem santo, nem herói, nem mestre:
Eu sou um poeta
e só posso dar canções!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Uma Manhã bem disposta

Ontem fui orientar um pequeno atelier de mancha colorida em Santarém. Na livraria "Aqui há Gato" da Sofia Vieira. (Esta loja não existe. É um pedaço de sonho para as crianças. Um lugar encantado onde o faz de conta tem sentido . É um recanto de felicidade!) Terminado o à parte: Preparei as mesas e materiais que tinha levado de véspera, chamámos as criancinhas que esperavam no pátio interior. Sentaram-se, e iniciámos a actividade. Confesso que me sentia fervilhante de expectativa pelos resultados... Há muito que não praticava estas técnicas.
Os meninos divertiram-se, e eu comecei a esmorecer... Não é que demorei tanto tempo a reencontrar a técnica que o "papel cavalinho" acabou... e eu não tinha dado por isso? Tenho feito desenhos, outras criações, e não notei grande diferença, mas para as manchas resultarem é necessário mergulhar a folha A4 completamente na água, e depois pingar-lhe generosamente tinta de cores variadas em cima, movimentando o papel para orientar as gotas coloridas... Ora este, que vem em blocos de folhas, encharca, ensopa, rasga, e os trabalhos não têm o mesmo encanto e resultado! Ainda experimentámos outra forma de fazer com estampagem com vidro, tentando "esborrachar", espalhar a tinta no papel molhado... O aspecto final foi idêntico. Saíram obras engraçadas... Um pouco surpreendentes para quem não conhece, mas tão aquém do por mim esperado! Será que poderei encontrar e adquirir folhas do velho papel cavalinho algures, nalguma papelaria antiga e esquecida? Tenho de tentar. Já está agendado outro workshop para o Natal!
Outro apelo que tomo a liberdade de fazer: Conhecem o romance juvenil: "Rebeca do Ribeirão Dourado"? Precisava muito de o reler, adquirir, fruir... Não o achei nas livrarias. Dizem-me que já não existe, mas precisava dele para um apontamento de trabalho. Pesquisei na net, e constatei que existe um exemplar na Biblioteca Gulbenkian. Ora, é-me impossível pedi-lo emprestado aí, pela residência e falta de mobilidade... Alguém sabe onde comprá-lo? Alguém o tem e quer vender-mo? E "A Casa de Nossa Mãe", que me roubaram da velha casa do Oledo? Penso que ambos são da EUROPA-AMÉRICA... Alguém me ajuda?
Ficarei muito grata.