sábado, 25 de setembro de 2010

NOVAS QUADRAS de António Aleixo

A vida é uma ribeira;
caí nela, infelizmente...
hoje vou, queira ou não queira,
aos trambolhões, na corrente.

O mundo só pode ser
melhor do que até aqui,
_ quando consigas fazer
mais p'los outros que por ti!

A esmola não cura a chaga;
mas quem a dá não percebe
que ela avilta, que ela esmaga
o infeliz que a recebe.

A ninguém faltava o pão,
se este dever se cumprisse:
_ ganharmos em relação
com o que se produzisse.

Tu, que tanto prometeste
enquanto nada podias,
hoje que podes _esqueceste
tudo quanto prometias...

Chegasses onde pudesses;
mas nunca devias rir
nem fingir que não conheces
quem te ajudou a subir!

Os que bons conselhos dão
às vezes fazem-me rir,
_ por ver que eles próprios são
incapazes de os seguir.

Entra sempre com doçura
a mentira, p'ra agradar;
a verdade entra mais dura,
porque não quer enganar.

Falas bem, mas antes queria
que soubesses proceder
menos em desarmonia
com o que sabes dizer.

Não sou esperto nem bruto,
nem bem nem mal educado:
sou simplesmente o produto
do meio em que fui criado.

Não escolho amigos à toa,
sempre temendo algum perigo:
primeiro, escolho a pessoa;
depois, escolho o amigo.

Meu coração, no seu cofre,
está tão afeito ao mal
que se sente, se não sofre,
fora do seu natural.

Só quando sinceramente
sentimos a dor de alguém,
podemos descrever bem
a mágoa que esse alguém sente.

Não digas que me enganaste,
por ter confiado em ti;
muito mais do que levaste,
ganhei eu no que aprendi.

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