segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Nouée
Je suis en train
De tailler mon destin dernier
La ligne enchainée
Presque innaperçue
Fait comme un noeud
Sous la main crispée
Les émotions cachés
Dans une noisette
Fermée dans mon angoisse
Sans la reconaître
Et pourtant émmue
Dans mon Chagrin
Affreuse je me tais.
Aupparavant et encore
J'ai choisis la masque
(Trappe volontaire)
À me défendre
À me tomber faible.
Un échec.
Au secours! Je ne peux plus...
Car je suis fiére
Je veux préserver mon âme
Inconnue
Celui qui me tue
Toujours au prés moi
Sans se méfier
N'en a jamais rien sû
Il ne le saura jamais.
toda a vida
me despojei
inteira
senti que o fado
me assinalou
sem tino
mas cobro o imposto
da dívida
o selo do sofrimento
que a vida me impôs

Funâmbula---------------------------2005

apoio a ponta do pé
no arame
e ergo em haste dinâmica
o corpo elíptico e controlado
quem me equilibra
os limites
e desafia a desordem
fracturada
das emoções disjuntas
nesta inércia permitida (?)
domínio da dor
e do medo
postigo aberto
no eu

Flagrante--------------------------------2005

e de súbito o rio
o traço forte a espelhar-se
na nitidez do azul
com gaivotas ao fundo
um acorde inaudível
a vibrar na luz difusa
as boas vindas do cais
um sentimento total e absoluto
devastador
recorrente absurdo
a doer na paisagem
a idiota compraz-se (ainda)
em ver os outros por dentro
por detrás do musgo dos olhos
arreda com descaso
o azebre dos poros
e espreita sob as pedras
as borboletas perdidas
nos destroços velhos
ou a quitina em seu lugar
fornicando a solidão
varejeira átona
limita-se a viver
estrebuchando
despenho-me
pelos abismos angulosos
das palavras
rumo às metáforas
que escondem os sentidos
se perco a ironia
nos regatos sinuosos
e inúteis das lágrimas
desnorteio-me sem remédio
nos labirintos de mim

Sem título----------------------------2006

o poema cru
que vagueia intimamente
exigindo a transcrição
e que após a escrita
às vezes nem eu entendo
esta saudade de mim
que submerge a razão
rasga a caliça da língua
subvertidas as palavras
perfura a opacidade das pálpebras
e esgaravata as feridas
no avesso das unhas partidas
diz que quer mas não ousa
escarrar a obsessão

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Mensagem

Medito absorta na penumbra
Sozinha e intranquila
No silêncio prematuro
De palavras
Que me fugiram travessas
De poemas claros
Já despidos delas


Sinto no ar um vago
Perfume de violetas
E na alma
Subitamente remoçada
estremecem ainda
Frágeis borboletas inquietas
Desafiando a medo a eternidade


Desamparo é a saudade
Fechada numa carta (e engulo o susto)


Cerro os olhos
E contemplo extasiada
Teu rosto em mim impresso
Teus gestos de mar e de neblina
E oiço a tua voz de sempre
Voz amada
Que me embala as noites
E acalenta e ilumina
Enquanto feneço
Na cela cinzenta
Dos dias iguais...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

ABUSO----------------------------------------2004

A cicatriz
Fechando a mágoa
Curando falso
A dentada funda e crua
Na carne macerada


O risco na pele
A espora na ilharga
E o silêncio vazio
Amordaçando fantasmas


Destrutivo
É o cerco
No centro a presa acuada
Escoiceando no escuro
Debate-se e desiste
Dominada


O corpo dissipado
em mágoa pura
Perverso
e absoluto
Limite
De mim mesma

IRREGULAR-------------------------------------2005

pisei os sonhos
no gral da angústia
enterrei na testa
a aresta aguda
do caco maior


o vidro moído
escapa-se em silêncio
pelos interstícios
das veias


agora vejo por dentro
a realidade fragmentada
no caleidoscópio
dos olhos


cai uma pausa
de espanto
a nivelar os sentidos
na alquimia das horas


ignoro as sombras voadas
nas janelas do sangue
e o assobio
em que embalo
o medo
assalta-me as paredes
sem me afligir

UTOPIA--------------------------------------2005

É a hora em que o silêncio
não esconde equívocos
e me enrosco fetal e confiante
num cobertor morno de ternura sonhada
Encosto-me na colina macia e firme
dum ombro sólido e confiável
que imaginei
É então que me acolho
nuns braços fortes
envolvida em segurança e exclusividade
protegida contra o mundo e a procela
abraçada intimamente
vencidas as barreiras desconfiadas
quebradas as grades
e logo os nós de angústia começam a desatar-se
e o vómito a desfazer-se
na garganta dorida
Não sentirei por dentro o grito a enovelar-me as entranhas
nem outro sobressalto
que o acordar aguardado
Poderei dar-me ao luxo
dum pranto solto e partilhado
e chamar-te enfim Amor
meu Amor inventado
nesta idade sem razão

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

MULHER IDEAL-------------------------1980

Mecânica
Cómoda
Insensível
Impassível
Previsível
Harmoniosa
Perfeita
Imperturbável
Inócua
Inodora
Automática
Programada
Silenciosa
Conivente
Complacente
(não o hímen
mas ela)
Anti choque
Anti queda
Anti aderente
Anti absorvente
Anti alérgica
Anti bactéria
Anti rugas
Anti nódoas
Anti humidade
Anti humildade


Rápida
Prática
Funcional
Exacta
Resistente
Irrompível
Versátil
Económica
Rendível
Rentável
Ajustada
Descartável
Robot!