quinta-feira, 30 de abril de 2009

LEMBRANDO...

Flutuo no azul
nos dedos entrelaçam-se
limos e algas
qualquer réstea de luz
filtrada pela líquida
claridade
que oscila arrepia e afaga
ultrapassam-me miríades de peixes
multicores
roçagam-me a pele
e agitam o silêncio
ondulando na água
E agora?
Onde a calma?

quinta-feira, 23 de abril de 2009

GLÁDIO VITORIOSO--------------------1967

Consciente
Do seu nada
O Homem eleva
Os olhos
E anseia o infinito...


Busca o almo
Do espaço
Em vão
No azul sidério...
Penetra o sigilo
Esfíngico
Dos orbes
E regressa insatisfeito
À "digna" insignificância...


Orgulhoso e suspeito
Este ser que nada alcança
Procura com as mãos impuras
-Instigadas inseguras ancoradas-
Abarcar todo o Universo
E reduzir a incógnita das coisas
À razão...


Mas a audácia
Que o impulsiona
É um facho que arde vigilante
Na névoa desconhecida
É loucura... Mão firme que apaga
Da hesitante rota
O sabor amargo da derrota...!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Março de 1968

Assisti a um Crime de Estado.
E ouvi. Sobretudo ouvi. E quiseram silenciar-me.
Era então repórter de "A VOZ DE MOÇAMBIQUE". O artigo que escrevi no nervo emocionado, mas tentando já a insenção e distanciamento devido a uma jornalista, sobre o pouco que presenciara e o muito que adivinhara da minha varanda, à noite, na Avenida de Angola: tropel de passos apressados, corrida, gritos abafados, tiros... -Impedida de descer pelos meus pais. Foi censurado, mandado retirar da edição pelo Capitão Matos, do Gabinete de Censura da Polícia. Com a recomendação de me dedicar futuramente a temas mais leves, de acordo com o meu género e idade.
Na manhã do dia seguinte, na Avenida de Angola, frente ao bar "Vasco da Gama", a vida prosseguia normal e igual a outros quotidianos, sem vestígios da tragédia nocturna.


O homem morreu
Os olhos eram duas janelas
Rasgadas na noite
Bem no fundo
Uma criança espreitava nelas
E chorava de incompreensão


As balas na trajectória do ódio
Encontraram a carne quente do HOMEM
Cortaram-lhe a vida
Inundaram a noite de dor e de sangue


Porquê se eram irmãos?

quarta-feira, 15 de abril de 2009

ANOITECER--------------------1966

A tarde suspira e agoniza
A natureza funde-se num estertor
Uniforme e ensanguentada no poente...
Há nos seres criados uma inquietude
Ansiosa como se esperar a mortalha negra
Da noite fosse ansiar uma libertação...
Mas não há sofrimento na agonia da tarde:
Apenas desprendimento um impreciso
Halo de saudade...
E as sombras veladas
Infiltram-se fundo
Na essência das coisas,
Envolvem tudo e todos
No mesmo amplexo
De fraternidade e compreensão...
Em êxtase da noite adormecida
Evola-se ténue uma sentida prece...
Flutuam esparsos no ar pedaços de hinos
E a lua estremecendo pálida e inquieta
Estende e alonga os dedos álgidos de prata
E mergulha-os no mar...

RÉVEIL---------------Mme. De Pressensé

C'est le matin... Un rayon rose
Glisse de la persienne close
Jusqu'au lit blanc,
Un rayon rose qui se joue
Dans les cheveux et sur la joue
Du petit Jean.


L'enfant entrouvre une paupière
Puis il laisse entrer la lumière
Dans ses yeux bleus,
Il regarde et se met à rire,
Car le rayon semble lui dire:
Soyons joyeux!