sábado, 31 de janeiro de 2009

ALVORADA

Hay un silencio
Proscrito de desorden
Hay un trasmallo
De sueño
En el semblante
Y el cotidiano
A ganarse
Fracturado
En cada pulsación
À flor de mí


La tristeza residual
Es eso mismo
Una marca antigua
Un canal de espanto
Por donde pasó
El dolor
Se demora la ausencia
Y todavia fluye el pesar


De nada vale llorar
Es preciso cantar la quietud conquistada
Devolver al redil
Insumisas emociónes
Perder de vez la llave
Del baul que guarda
Penosos recuerdos
(disgustos viejos
no merecen nuevo dolor)
Cantemos entonces
Aunque fingir
Insulte la alegria
Y simulacros de amor
Se oculten detrás de la burla
Plastificada
Y la ternura malgastada
Se esconda en el miedo
Visceral ancestral irracional
Pero auténtico
Que me rasga e condiciona
(intenté vencerlo espantarlo
Lo eché de menos)


Apaziguada en la certeza
De haver vencido la Muerte
Mismo asi incompleta
Gratificada por centellas de poesia
Valió la pena

Fue linda mi suerte!

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

CRIAÇÃO------------------------1977

Ser tela virgem
Paleta
Ser cor ser forma
Criação
Dominar com minha mão
A rudeza amarga
Do sonho
Que hesita e não se fixa
Derrubar a barreira
Dos dedos pesados
Esmagando o pincel
Ansioso por correr caminhos
Fantásticos e belos


Ser o sopro breve e claro
Que tudo arrasa e revela
E sem o qual nada vale
E além dele... o nada...
Ser audácia... inspiração...
ser no meu quadro apenas
A figura de mulher
Sensual esguia e nua
Imprecisa estilizada
Pureza adoçando o olhar
E lascívia na boca
De sorriso inacabado
Ser no meu quadro
O mistério
Que 'inda está por desvendar
Ser o momento de febre
Que me levou a criar
Ser arte
Que em vão persigo
E não alcanço nem perco
Em minha inquietação
O abraço em que pari
Os sonhos que não vivi.

Danço Sozinha--------------------2007

Se antes o ritmo
Era marcado pela tua cadência
E os nossos corpos se cosiam
Com o silêncio confortável e insuspeito
Inundado pelas tuas melodias
E as nossas pernas se misturavam
E dançavam
A compasso
Harmonioso e cúmplice
Depois começaram
A desacertar


Agora só
Maravilhada e tranquila
Os meus pés aprenderam
Todos os movimentos
Todas as músicas
Todos os ritmos


Uma alegria postiça
resignada
Vem dar serenidade
Ao meu sentir
E deixo que a música
Me entre pelos pés
Suba pelo sangue
Me invada a mente
E me faça feliz



Adeus ansiedade
Adeus tristeza
Adeus solidão partilhada
A felicidade
Dura apenas o momento
Que me pertence agora
Depois novamente
O ruído do medo
A voragem da vida a sugar-me
Aprendi a combatê-los
Num baile a uma só vibração
(frenesim ou suavidade)
Em que acerto sempre
E ganho eu!


Dança é terapia
Dança é alegria
Ainda que dure apenas
O instante transitório
Da melodia

Transferência

Como estive muito tempo arredada do computador o primeiro blogue tornou-se impraticável... Então, criei outro com o mesmo nome. Resultado: é uma confusão. Resolvi cancelar o primeiro e reescrever as mensagens que houvera publicado. Gostaria de partilhar o meu sentir, a minha maneira de ver o mundo e estar na vida... Quem sabe se serei entendida e aceite por outras pessoas que, mesmo que não afinizem comigo, terão generosidade para partilhar também os seus pensamentos e sentimentos, sem me ostracizarem. Isto também é terapia, mas, por favor, não se sintam coagidos a brindar-me com os vossos comentários. Obrigada pela paciência, e se não for pedir de mais, ajudem-me a seleccionar alguns meus, são os que não têm indicação de outro autor diferente, com vista à publicação de um livro ainda este ano... Posso contar convosco? Obrigada.

domingo, 18 de janeiro de 2009

SONHO VÃO

Do passado
E dores vãs
Quero livrar-me
Só o agora
Me deve bastar


Contudo a nítida
Presença
Jamais consentida
Invade-me o sonho
Tão nítida
Tão simples
Verdadeira
Tão lógica
Possível tão real
Que as cenas se constroem
Desenrolam e terminam
Naturais
E ao abrir os olhos
Deixam
Um traço de sorriso
Em minha boca murcha
E um leve golpe de brisa
Alivia-me o coração


Agradeço a visita
por se acaso
E no silêncio que respeito
Tento alhear-me e viver


Libertei-me das rimas
Há que estrofes
Só não consigo
Livrar-me de ti.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

POEMA----------H. Benton

Se me perguntas porque te quero
Amor
Há-de o pôr-do-sol mais rubro beijar
Horizontes
E flores brancas gritarem nos jardins
Inacabados
A posse louca de mil borboletas
Inacabadas


Ao bangué nos longes
O melhor tocador fará nascer
Sussurros de palmeiras embalando ondas
Junto ao mar
Ou carícias de mãe pelo rosto do filho morto


Então
Com beijos feitos num só
Dos meus lábios espancados ouvirás este soluço


Com lágrimas nos olhos dentes cerrados
Amo-te
Com insultos velhos em bocas parentes
Amo-te
Com dedos rasgados no sangue dos sonhos desfeitos
Amo-te
Expulso do sol da brisa dos deuses
Ainda te amo

Porque te amo com o sangue perdido nas raízes dos tempos
Avós.

domingo, 11 de janeiro de 2009

RIBA-TEJO--------------Domingos Lobo

O Ribatejo é uma linha de água
e sobressalto
um fio de cal
e de ternura
um solstício no vinho
e o tresmalho
de um cavalo de vento e de amargura
um rio feito de assombros e de sal
que transporta nos ombros o orvalho
as manhãs inventadas
e as sombras
dos homens construtores de madrugadas
Há na lezíria um canto
imerso
forja suspensa no azul
por onde andou redol a desbravar o espanto
de haver um outro espaço
um outro sul
por onde andou Soeiro sobre o escuro
soletrando os modos de dizer
aos meninos de olhos sobre o chão
que os olhos foram feitos para ver
o futuro
o futuro que está aqui ao rés da mão
O Ribatejo é um istmo de febre
e ansiedade
feito de um sopro de asas
e cetim verde sobre as águas
em ti repousam horizontes a liberdade
da lira de Camões a verter mágoas
há um punhal cigano
espetado no dorso do poente
um toiro lidado mano a mano
as mãos cheias de sol naturalmente
O Ribatejo é um lugar de mosto
e de vertigem
de vinho e sangue e sal
de trigo de suor e de lonjura
sereno como a brisa como um rosto
perdido na paisagem
envolto em tempestades de ternura
sortilégios antigos um arrepio
há por dentro de ti um cheiro a cravo
mouros nostálgicos desenhando o rio
e o mistério das lágrimas
que fazem o homem livre e não o escravo
Mas há sempre um lume crescendo nos teus dedos
a fímbria do inverno o fogo de um fandango
incendiando os medos
sobre a pele do outono vemos-te amargo e doce
andamos no teu corpo a desbravar-te
perdemo-nos em ti
como se fosse
uma réstia de luz a desvendar-te
sobre um manto de sobreiros e de espuma
nasces do verão do azul dos astros
das cores todas da bruma
estás tão perto dos olhos que perdemos
a fala nas ameias
dos castelos
onde habita a memória e o desejo

basta-nos percorrer as tuas veias
sobre um leito de ar e de cegonhas
subir ao teu encontro Riba- Tejo

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

GRITO-------------------2----------------------------1969

Ah como as palavras ferem
Se a intenção é fazer mal
Esta angústia de calar
Quando há tanto que dizer
Se um abraço diz tudo
Porque havemos de falar?
E se há névoas presentes
Porque temos de esconder?
Que vazio! Que cansaço
A alma agora contém...
Uma vida para amar
Corpo e alma para dar
E asas para queimar
Dia a dia por alguém...
É dele a minha ternura
Meu roseiral-sepultura
É dele todo o meu mundo
Vem dele toda a ventura
Minha amargura também
Quisera ser para ele
A única e o sumo bem
Mas há tanta, tanta estrela
A cruzar-se lucilante na estrada do destino...
Não quero lutar... Para quê? Nem as posso desviar...
Nas pontas dosmeus dedos
Há finas setas de orgulho
Que desfere a dignidade...
Com elas eu rasgo o peito
E encharco as unhas
De angústia de sangue
Sem que me deixe o rosto
Uma farsa de sorriso...


Quem sabe do meu sofrer?
Do meu longe que é um hino?
Do meu cimo e do meu fundo?
Anseios de liberdade...
Se é esta a minha verdade?...!


Sim! Todas todas elas
A luz falsa a cintilar
Parecem melhores do que essa
Que não tem brilho de festa
Antes se abre bem modesta
E apenas tem que a mereça
Vida intensa para amar!

APELO---------------------------------------1969

O mundo em volta a rugir sem parar
E a embriaguês em mim a fermentar


Se tu viesses Poesia podia gargalhar
Da angústia imensa que nem sei chorar


Vem! Eu já me estou a afundar
Ainda um braço no ar
A implorar
E a nau da vida a naufragar... a naufragar...
Vem! É terror isto que sinto
Medo do caos que pressinto
Receio de adivinhar


Aranha eu fora
Mentirosa, vil, traidora
(-Aranha sim, e não dor!)
E não me iria embora
Sem fazer a teia
Para me enredar
E comigo o destino
E comigo o amor
Que eu sinto me foge
E daí o temor...
Ah Poesia! Se tu viesses
Eu riria do que nem me faz chorar
Apenas calar, calar... parar...
Sacudias-me toda:
Raiva dor desespero amor...
E a violência havia de despertar
A fera que há em mim
E que é mulher
E quer
Gritar! Gritar! Gritar!

GRITO------------1-----------------------1966

E esta dor
Tão funda
Que a alma me corrói...
Nem uma lágrima esquecida
A alivia
E abranda compassiva...


É mais aflitiva a dor
Que a minha solidão
Minha mágoa mais intensa
Que o cansaço de viver
A minha tortura imensa
Só a morte pode vencer.