quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ONDE O ARADO EMPRESTADO ME REVOLVE AS EMOÇÕES

JULHO DE 2010

O grito explode-me nos olhos
molhados de ternura
onde o brilho ficou baço



A coragem diluída
numa imensa desilusão
pela mentira da vida



Estremeço
e o canto
de lágrimas molhado
já o retrato desfez



Uma mão cheia de pedras
uma réstea de sorrisos
e a bolsa plena de dores



Estragos que a vida fez.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

ALMOÇO DOS ANTIGOS ALUNOS DO LICEU ANTÓNIO ENES

Dia 20 de Novembro. Sábado. Dia de ficar ilhada por falta de transportes públicos.
Embora tenha calhado deitar-me tarde, bem tarde, levantei-me cedo para poder apanhar o único autocarro do dia para Santarém. Às 8.30.
Desci na ponte e fui com o "Fernando", um bocadinho a pé, um bocadinho andando até à estação dos caminhos de ferro.
Subi para o comboio intercidades, uma agradável viagem até Santa Apolónia. Chegada lá, e felizmente esquecida da cimeira, tomei um táxi para o Cais do Sodré.
Barco para Cacilhas, (e lamentei não conseguir encontrar_também não procurei, diga-se a verdade_ um restaurante onde almocei com os meus pais era eu pequenita, o Carlos ainda não tinha nascido. Ficou-me na memória porque, criança de tenra idade que eu era, Me deslumbrei com as paredes cobertas de conchas, objectos de decoração cor de rosa e nácar, um berço em tamanho natural de conchinhas cor-de-rosa... E o meu pai pediu para ele açorda de camarão).
Depois, e porque o último mail que vira, do Eduardo Marques, me indicava o Pragal para o nosso encontro, iria lá buscar-me, novamente autocarro para esse destino.
Depois atrapalhei-me. O telemóvel deixou de funcionar. Não podia fazer nem receber telefonemas. Pouco habilidosa com as tecnologias modernas, fui pedindo que mo consertassem. Cada pessoa que, com a melhor das boas vontades, lhe mexia, estragava mais.
No Pragal, como não soubesse onde descer para facilitar a boleia, andei, andei, andei... Até que comecei a tentar organizar-me. Quem tem boca vai a Roma, e não tenho vergonha de perguntar.
Lembrei-me então que o almoço seria na Trafaria. (Nunca lá tinha ido. Quando era pequena tinha tido uma caneca da feira com uma vista do sítio. Era a minha única referência...)
No autocarro, e como já perdi a vergonha de falar com estranhos (estranha era eu... forasteira de pai e mãe) fui perguntando onde havia de descer... Restaurante pertencendo aos antigos donos do PIRI PIRI em LM, e o velhote que estava à minha frente era de Ulme, perto de mim, vivia em Almada e ia de propósito lá buscar um frango para o almoço... Logo me colei a ele, claro.
Chegando, perguntei se era ali o evento. SIIIMMMM......
Mandei uma mensagem ao Eduardo e esperei. Andando, porque os "anões" não me dão sossego.
Então chegaram. E tal como eu temia... não conhecia ninguém. Mas fiquei a conhecer. Gente boa. Mais novos, quase todos... Mas com vivências semelhantes, interessantíssimas, bem dispostas, amigáveis.
Conversámos, brincámos, comemos comida moçambicana, trocámos e-mails, outros contactos... Uma família.
Parecia que o tempo se suspendera e a simpatia nos envolvia em memórias, partilha de vidas...
E mistério.
Quando coloquei os meus olhos na Teresa Lopes logo senti que a conhecia. E bem. De onde? Da apresentação do "XICUEMBO" do Carlos Gil meu irmão? Talvez. Ela confirmou ter estado lá... Mas tinha a certeza que não era só isso.
Depois tenho uma vaga ideia... Talvez errada. A Teresa é artista plástica, quem sabe não foi ou é professora e conheci-a há anos, num congresso da FENPROF em Lisboa?
Tenho de perguntar-lhe.
E o que ali foi de gente talentosa! Uma honra subida conhecê-los.
(Não fora o cansaço e o adiantado da hora nomearia os seus nomes, com algumas considerações). Penso voltar ao assunto em breve.
Todos já me contactaram, pedidos de amizade no Facebook, enfim. Vê-se bem que são de Moçambique e do Liceu António Enes.
Sábado que vem volto a Lx. Ao Linhó. (Penso não ficar lá presa, não me dava mesmo jeito)...
E para quê?...ALMOÇO DOS ANTIGOS PROFISSIONAIS DA RÁDIO de LM. Vou encontrar lá os que já reencontrei em Março, e outros que não tive ainda ocasião de rever. Estou que nem me aguento de tanta expectativa.
Que fantástica romagem de saudade tenho vindo a protagonizar desde há seis anos! Parece de propósito e sinto-me feliz.
Me aguardem!

ESSENCIAL

Dás-me num olhar
a energia mágica dos sentidos
oceanos de ternura nos teus gestos
maremotos de emoções na minha vida
música e ritmo no meu sangue
em sobressalto

O teu bronze macio
como argila moldável
elemento dúctil
e activo
entre os meus dedos
esculpindo dias claros
e madrugadas de êxtases
num tempo que é só nosso
na distância por achar.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

ESTRELAS NOS OLHOS_____Pae. Moreira das Neves

Naquele fim de tarde dolorida,
Foi minha mãe à fonte e viu estrelas
Projectadas na água adormecida.

Levantava-se a lua atrás das serras
E estendia brancuras sobre as ruínas
E ao longo das estradas,
Como que desfolhando no ar um ramo
De magnólias divinas.
E açucenas magoadas.

E minha mãe ia a levar a boca
À fonte pura, para deixar nela
A sede que a pungia.

Por três vezes se ouviu: Ave, Maria!

A fonte estremunhou num sobressalto.
Em redor e por cima estava a Noite,
Nua de nuvens, virginal e calma.
O Silêncio rezava no céu alto.
Abriam sonhos de oiro em cada alma.

Voltou a casa a minha mãe. E enquanto
Ela regava, ao fundo da varanda,
Um craveiro florido
E rescendente,
Perguntei-lhe, entre triste e surpreendido,
Piedosamente:

_Donde vens, que não vens como costumas?
As lágrimas que trazes nos teus olhos
Não são iguais a lágrimas nenhumas...

Iluminam a casa e dão à gente
A sensação de estrelas despegadas
Das mãos de Deus abertas de repent
Às nossas mãos cansadas.

Responde minha mãe:
_É que, meu filho, fui à fonte, além,
E quando me verguei para beber,
Lembrou-se-me de ti o coração.

Então,
Vi estrelas do céu no fundo de água,
Sem limos nem escolhos.

E já não quis beber. E não bebi.

Recolhi as estrelas nos meus olhos
E trouxe-as para ti!...