Naquele fim de tarde dolorida,
Foi minha mãe à fonte e viu estrelas
Projectadas na água adormecida.
Levantava-se a lua atrás das serras
E estendia brancuras sobre as ruínas
E ao longo das estradas,
Como que desfolhando no ar um ramo
De magnólias divinas.
E açucenas magoadas.
E minha mãe ia a levar a boca
À fonte pura, para deixar nela
A sede que a pungia.
Por três vezes se ouviu: Ave, Maria!
A fonte estremunhou num sobressalto.
Em redor e por cima estava a Noite,
Nua de nuvens, virginal e calma.
O Silêncio rezava no céu alto.
Abriam sonhos de oiro em cada alma.
Voltou a casa a minha mãe. E enquanto
Ela regava, ao fundo da varanda,
Um craveiro florido
E rescendente,
Perguntei-lhe, entre triste e surpreendido,
Piedosamente:
_Donde vens, que não vens como costumas?
As lágrimas que trazes nos teus olhos
Não são iguais a lágrimas nenhumas...
Iluminam a casa e dão à gente
A sensação de estrelas despegadas
Das mãos de Deus abertas de repent
Às nossas mãos cansadas.
Responde minha mãe:
_É que, meu filho, fui à fonte, além,
E quando me verguei para beber,
Lembrou-se-me de ti o coração.
Então,
Vi estrelas do céu no fundo de água,
Sem limos nem escolhos.
E já não quis beber. E não bebi.
Recolhi as estrelas nos meus olhos
E trouxe-as para ti!...
Sem comentários:
Enviar um comentário