quarta-feira, 22 de abril de 2009

Março de 1968

Assisti a um Crime de Estado.
E ouvi. Sobretudo ouvi. E quiseram silenciar-me.
Era então repórter de "A VOZ DE MOÇAMBIQUE". O artigo que escrevi no nervo emocionado, mas tentando já a insenção e distanciamento devido a uma jornalista, sobre o pouco que presenciara e o muito que adivinhara da minha varanda, à noite, na Avenida de Angola: tropel de passos apressados, corrida, gritos abafados, tiros... -Impedida de descer pelos meus pais. Foi censurado, mandado retirar da edição pelo Capitão Matos, do Gabinete de Censura da Polícia. Com a recomendação de me dedicar futuramente a temas mais leves, de acordo com o meu género e idade.
Na manhã do dia seguinte, na Avenida de Angola, frente ao bar "Vasco da Gama", a vida prosseguia normal e igual a outros quotidianos, sem vestígios da tragédia nocturna.


O homem morreu
Os olhos eram duas janelas
Rasgadas na noite
Bem no fundo
Uma criança espreitava nelas
E chorava de incompreensão


As balas na trajectória do ódio
Encontraram a carne quente do HOMEM
Cortaram-lhe a vida
Inundaram a noite de dor e de sangue


Porquê se eram irmãos?

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