segunda-feira, 9 de agosto de 2010

de Fernando Luís Sampaio---------------TRÊS

O mar, todo ele ainda rente aos dedos, sopra-me
os indícios de leite ardido, esse crepúsculo que
se incendeia ao contágio de águas retaliadas.
Dele também o modo de deter uma frase
abrindo-se numa trovoada de ternura, insurge-se
pelos interiores da linguagem e envolve-se pela
memória.

Num lapso de páginas céu e mar escamoteiam-se,
enfiam-se-me entre os lábios, irrompe
meio lenta a língua nesta luta.
A breve trecho sinto a infância à boca das
vagas, também ela prestes a juntar-se às areias.

1 comentário:

amantedasleituras disse...

Belo erotismo.
Que mistério me espera o hoje?
Entrara na casa como habitualmente acontecia no final do dia trabalho, carregada e desajeitada com sacos de compras; no meio das pernas e na frente delas, ruídos da recepção dos seus animais que a aguardavam, vindos dos vários sítios exteriores da casa até àquele momento de reunião do lar. Geralmente entram pela porta principal à cozinha donde acabam por sair novamente pouco depois. Frisam o ritual semanal. Testam espertezas. Uma corja cheia de conhecimentos com tempo livre e cheia de estratégias para conseguirem entrar em casa mal a porta se abra. Bem e quase sempre o conseguem.
Entrara no silêncio escuro e logo se apercebeu que perfumara o mistério. Levou as mãos aos olhos e, sentiu as pestanas enormes, como pés a caminharem, bateu-as várias vezes para se certificar do som; e, ambas concordaram que chegara a altura de cortar as pestanas pelo barulho que faziam ao fechar e abrir os olhos.
Ana Maria costa
26.10.2011