quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Os Degraus do Tempo---------Rosa Alice Branco

Costumava sentar-me no degrau mais alto
e pela janela via as árvores balouçarem
no silêncio da casa, o silêncio
de ter estado ali há muito tempo
esperando que viesses como agora espero
que o tempo se desdobre na memória
que te guarda.
O mundo era infinito
e a minha existência estava no teu rosto
à espera de um gesto que a desenhasse
para que pudesses nascer todos os dias. Sentados no degrau mais alto
escutávamos o rumor das árvores,
a folha de um choupo a cair na água
e os círculos minúsculos que se afastavam
até desaparecerem
no vocabulário das palavras curtas
rabiscadas no vidro da janela.

Era assim o mundo
na ignorância de que uma lágrima
se soma às vezes ao destino
e é suficiente para alterar o movimento da terra
e o sabor das letras pisadas
fermentando sozinhas na casa
enquanto o amanhã atravessa o umbral da porta
acima de todas as virtudes,
alimentando o vício de voltar atrás
e subir até ao degrau mais alto
para conceder o último desejo.

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