domingo, 7 de março de 2010

Do livro "Pássaros de Seda"---------- de Rosa Lobato de Faria

Bento, Bentinho, meu amor. Não me quero comparar com uma criada, mas acho que você já não gosta de mim. Deixa-te de conversas parvas, mulher, que estou aqui na minha calma a beber o meu conhaque e a pensar naquele rebanho de mil trezentas e duas cabeças que o Zé Pastor levou lá para os lados da Alagoa, muita ovelha parida e outras a parir, E o que tem o rebanho? O que há-de um rebanho ter? Contas de cabeça, que não ando a criar aquele e mais aos outros cinco para enfeitar os campos. E eu? Não valho mais que um monte de animais que fazem cocó em feitio de azeitonas e dizem a tudo que sim ao cão? Ai, mulher, Deus deu-te a beleza, sim senhora e o nascimento, não duvides, mas esqueceu-se de meter qualquer coisinha que fosse dentro dessa cabeça. É bem certo que as mulheres se querem boas e burras, mas tu exageras de burra e careces de boa. Ai é? Faço tudo o que você quer na cama, não pense que gosto, mas é para agradar, nunca reclamei de nada. Pois é disso que eu me queixo. Pões-te para ali meia morta, às vezes até vou olhar para ver se estás a fazer malha ou a telefonar à Teresinha, não sentes, não gozas, depois admiras-te. Ah, confessa! Então diga lá. O filho da Margarida é seu? Toda a gente diz que sim. E eu lá me lembro se me pus na Margarida, na Francisca ou na Conegundes? põe-te no teu lugar, mulher, não dês ouvidos a mexericos. E manda a criada embora, que eu não quero esses falatórios aqui em casa. Pois, Bentinho, eu também acho melhor. E você é muito injusto quando diz que eu sou desligada na hora de... daquilo. Até houve uma vez, antes do Simão nascer, que eu acho que senti uma impressãozinha.

Sem comentários: