sábado, 10 de outubro de 2009

"Banco de Tempo"

Tarde serena de outono.
Findo o almoço as crianças borboleteavam pelo quintal, entravam e saíam da cozinha num desassossego comedido. Esperavam visitas diferentes.
Em breve chegaram as ajudantes: senhoras amigas da tia Marta que, inscritas como ela no Banco de Tempo, vinham dar uma ajuda na confecção das compotas da época.
Os miúdos espreitavam, contentes e ansiosos, os preparativos culinários. Nem se atreviam a arredar pé da vizinhança do teatro das operações. Não houve brincadeira divertida que os levasse, nem por breves instantes, na procura de folguedos.
Dentro em breve teria lugar um ritual da estação. Perante os seus sentidos despertos iria desencadear-se pura magia.
Eram as conversas das mulheres, noutras alturas sem interesse para eles, mas tornadas aliciantes pela novidade, pela cumplicidade.
Foram as frutas descascadas, os caroços tirados, a alquimia resultante do cozinhar demorado das iguarias em grandes panelas, os odores quentes e doces, quase pungentes, mas deliciosos...
Depois, foi-lhes dado a provar as primeiras colheradas. Devidamente apreciadas. Gulosamente aprovadas.
Os doces a rescenderem em cima do fogão... As grandes colheres de pau, mexendo os preparados espessos e olorosos.O aproveitamento das cascas e caroços em geleias deliciosas e nutritivas...
Seria necessário envolver em mais mistério o dia longo para espicaçar as imaginações infantis?
Depois, a tia Marta ajudada pelas amigas mais corpulentas trouxeram frascos, potes e boiões, tigelas de vários tamanhos, que colocaram em cima da grande mesa coberta de oleado aos quadrados.
Colocadas colheres compridas de metal estrategicamente dentro dos vidros, para não quebrarem com o calor, neles despejaram com cuidado os doces, que tão afanosamente cozinharam. As tigelas ou malgas ficaram para a marmelada.
A luminosidade meiga da tarde a atravessar a quase transparência colorida dos frascos, a beleza translúcida do seu brilho; o som das conversas, o borbulhar das panelas, os risos abafados, o sabor especial e único das grossas fatias de pão mole, cobertas pelos primeiros paladares, doces e mornos... Que encantamento! Que beleza!
Depois, ainda a azáfama do lavar dos utensílios, arrumar a cozinha, do dispor os frascos por espécie e por tamanho nas prateleiras da despensa... E de novo as conversas:
Combinar a próxima ajuda. Conferir disponibilidades.
As despedidas e a oferta de um pote de doce a cada visita. A simpatia. A alegria de terem estado juntas. O prazer do trabalho de equipa, solidário e harmonioso. A festa dos sentidos!
As crianças passaram umas horas mais sossegadas, mas bem felizes. E nem se importaram de não concentrar as atenções dos adultos.
Todos poderão confirmar:
_ Que bela tarde!








Todos sabem, mas por graça: "Compota de Pêssegos"

Ingredientes:
1kg de pêssegos
800g de açúcar
2,5dl de água


Preparação

Descascam-se os pêssegos e cortam-se em cubos pequenos. Leva-sea água ao lume com o açúcar até formar ponto de pérola e adicionam-se os pêssegos, deixando ferver lentamente.
Vai-se retirando a espuma que aparece ao de cima do "caldo".
Quando estiver em ponto de estrada fraco_ ou quando o doce ficar brilhante_ retira-se do fogo e deixa-se arrefecer.
Conserva-se em frascos ou serve-se em tacinhas individuais como sobremesa, é um agradável doce de colher.

OTOÑO RETOÑO


Bom Apetite!

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