quinta-feira, 15 de outubro de 2009

POESIA-------------------Fernando Pinto do Amaral

Quando já não há nada
absolutamente nada pra dizer
e cada dia te parece apenas
uma longa e inútil sequência
de vinte e quatro horas vazias;

quando uma folha de papel
é um deserto branco já sem rosto,
um firmamento sem constelações,
uma página nua, uma página
muda,
há dois rápidos olhos que te falam
desde sempre da terra prometida.

Consegues fixá-los? Não tens medo?
Vê como arde súbito o seu gelo
no fundo das pupilas
e não hesites_ rouba essa vertigem
à madrugada de Jerusalém
porque às vezes não há outra saída
para algumas palavras que ainda podem
ser um arco uma flecha
perto do alvo que ninguém conhece.

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