terça-feira, 18 de novembro de 2008

MORRINHA

Ai flores lilases
Dos jacarandás
Vindos de longe
Duma brecha do tempo!...
Teimais em juncar
De beleza
a geometria exacta
Das ruas dos meus sonhos
Quando a alma
Se me dobra
Em sua Dor

Meu menino negro lindo
Balofo de mandioca
E molho de amendoim
(raras vezes inhama)
Que eu pegava ao colo
Numa esquina do Largo Albasini
Entre maçarocas quentes
Doces cheirosas
De bagos tenros
Mordidos no carolo
Depois da boca deliciada
Do beijo
Nas tuas faces redondas
E o teu olhar de veludo
Sorridente

Queria lá saber
Do ranho seco que te manchava o lábio
Consolavas-me
Consolava-te
__O teu peso macio
No meu braço
(que me importava a camesola suja
se sentia o calorzinho tenro
do teu corpo
na minha bata)

A quinhenta mudando
Da minha p'rá tua mãozinha sapuda
O teu riso prazenteiro
E depois o chupa guloso
A lambuzar-te mais
Ou a machuinga embaloada
Sob os olhos complacentes
Da mamana
Agradada

Ai mufaninha da Mafalala!
Meu amiguinho desconhecido
De quem nunca soube o nome...!
As saudades enchem-me
De gozosa mágoa...





inhama-carne
machuinga-pastilha elástica (chewing-gum)
mamana-mulher(mãe)
mufaninha-menino
Mafalala-bairro nativo da Avenida de Angola (que vai dar ao Aeroporto) de L.M. (Maputo)

Sem comentários: