sexta-feira, 22 de maio de 2009

Quase Natal----------------------------2005

Era dia um de Outubro. Num ciber-café aconchegado dedicado também à literatura e até a literatices. Foi um acontecimento animado. Amigos bons e recentes, vindos de longe... E poesia. Palmas. Emoção. Contentamento. Por estarmos juntos, por a nossa arte ser tão bem acolhida.
Já tinha havido outros encontros semelhantes. No último antes desse, na Quinta do Conde, um colóquio sobre migrações, Carlos Gil, o meu irmão, escritor, foi muito aplaudido pela exposição das suas emoções, pela declaração da sua imensa saudade de Moçambique, dos sonhos gorados, mas ultrapassados pelas vivências ricas de liberdade e partilha, dos sabores, dos cheiros, das paisagens a perder de vista. E eu, que sem me dar conta, aproveitando a deixa das migrações, falei de mim, das viagens que faço por dentro, das raízes que não sei cortar e dissemino quase a esmo, fugi ao tema inadvertidamente. Porém, tendo-me redimido lendo no fim da minha intervenção o meu poema "Batuque", recebi felicitações, e um abraço da escritora Felícia Costa, Vereadora da Cultura de Sesimbra.
Ambos fomos brindados pelas lágrimas comovidas e os abraços da doce Olga, colega de letras, uma africana lindíssima, que disse ter encontrado dois irmãos.
Conto isto para justificar o meu engano, a minha emoção.
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Quando demos por terminada a sessão, o Delmar, outro poeta e um bom amigo, aproximou-se de mim, abriu-me a mão direita e nela depositou algo pequeno, duro e liso, agradável ao tacto. Cerrando-me os dedos em volta da pequena escultua de madeira rija recomendou: _Guarde. Foi um amigo meu, escultor maconde, que lha mandou, e outra igual para o Gil. PORQUE VOCÊS SÃO IRMÃOS: (O destaque é meu): _Não os conhece, mas tenho-lhe falado de vós.
É indiscritível em palavras tão grande emoção.
Já tarde da noite, na minha cama, com a cabecinha de pau preto fechada na mão, não conseguia adormecer. As lágrimas de felicidade inundavam-me os olhos e rolavam-me pela face. Agradeci a Deus, vezes sem conta, a alegria de ter ganho tão bons amigos, e dos meus sentimentos encontrarem nos outros ecos tão calorosos.
Tempos depois encontrei o meu irmão que me contou que o escultor amigo do Delmar tinha ligado, e pedira para lhe providenciar um espaço e a oportunidade de mostrar os seus trabalhos.
Não me interessei por outros desenvolvimentos do assunto.
Isto é a Vida Real. É normal.A decepção é minha. Mea Culpa. Eu é que sou uma sonhadora.
Não. Não foi Natal. Era Outono.As folhas caducas amarelecidas já tombavam...
A desilusão espreita sempre a realidade.
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É por isso que engordo. Como as emoções, e se havia de digerir as boas e doces, que não necessitam de aditivo, por muito positivas que elas cheguem, deixam sempre um travo amargo,um rasto de desapontamento. Sou demasiado exigente, eu sei... Mas se me dou e abro as mãos, credulamente espero encontrar reciprocidade. Estou deslocada por certo, serei sempre inadaptada, sem conseguir ser feliz.

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